Por Matheus Fabricio Vieira e Wilson Schettini Neto
Sugerir um projeto de grande escala no meio de uma cidade consolidada pode parecer uma ideia inviável. Mas a utopia pode ser um ponto inicial para o planejamento urbano. Discutir sobre o impossível, ou aquilo que parece distante, é uma ousada proposta para pensar caminhos possíveis.
A crítica à cidade sempre deve ser feita com um olhar visionário, levando em consideração as condições de habitação, transporte, meio ambiente, segurança, saúde, entre outros. Curitiba sempre foi destaque por suas inovações urbanas – a implantação do sistema trinário foi a solução encontrada para conduzir o crescimento da cidade próximo aos eixos estruturais e a partir dele se desenvolveu o sistema BRT (Bus Rapid Transit, o sistema que opera em corredores exclusivos), que representou uma grande mudança para o urbanismo em todo o mundo. Mas a capital paranaense não quer viver apenas de passado: a cidade, hoje, busca voltar a ser referência em urbanismo a partir da inovação.
A história do urbanismo de Curitiba nas décadas de 70 e 80 é um catalisador para as mudanças que garantiram um desenvolvimento ordenado. No entanto, a malha urbana da cidade ainda possui áreas subaproveitadas, vazios urbanos, regiões isoladas e degradadas e enfrenta dificuldades em vencer as desigualdades sociais e urbanas. Foi o que a Reurb (Organização Social Civil de Interesse Público) constatou nos bairros Rebouças e Prado Velho, que abrigaram a antiga zona industrial da cidade. Trata-se de uma região em ótima localização (veja no mapa abaixo), ao lado do centro da cidade, com grandes lotes, antigos galpões fabris e patrimônios históricos importantes para a história de Curitiba.
Recentemente, a prefeitura denominou a área como projeto Vale do Pinhão, que pretende retomar a referência de inovação em Curitiba. O nome é uma alusão ao Vale do Silício, região no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, considerada um dos principais hubs de inovação no mundo. O objetivo é replicar esse modelo na capital paranaense, incentivando universidades, investidores e startups a atuar em conjunto para fortalecer o desenvolvimento de negócios inovadores no local.
O projeto é audacioso: pretende-se desenvolver um processo de recuperação e inovação urbana por meio de uma rede colaborativa de agentes urbanos, sendo eles públicos, privados, acadêmicos, comerciantes ou lideranças locais, entre outros. Com isso, espera-se atrair empresas da área da ciência e tecnologia para se instalarem na região, que possui imóveis e áreas vazias. Para que isso ocorra, o município deve conceder incentivos territoriais, fiscais e estabelecer novas diretrizes de planejamento urbano para essa área.
Para nortear a reabilitação, foi criado o movimento Reação Urbana, que tem como função atuar na área do Vale do Pinhão como catalizador de ideias inovadoras para reabilitação urbana e também como uma ponte entre os setores público e privado, sociedade civil organizada e a comunidade. Foram definidas seis propostas de ação:
- Lei de zoneamento específica para a área.
- Construção de edifícios icônicos de uso misto sem limite de altura no seu “miolo” e com espaços para estimular o comércio e a interação social.
- Mudanças no transporte coletivo, com a criação de uma linha de ônibus exclusiva para o Vale do Pinhão a fim de integrar os principais pontos da região.
- Mudança no traçado das linhas do Expresso.
- Criação de galerias que ligam as duas vias do Expresso.
- Despoluir e utilizar o Rio Belém de forma sustentável.
Em termos de construção e desenho urbano, Curitiba pode ser considerada um laboratório de tentativas e erros, fracassos e sucessos. Com oportunidades como essas o planejamento urbano aprende elaborar e testar suas teorias, construindo uma cidade mais dinâmica, diversa e humana.
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Matheus Fabricio Vieira é estudante de engenharia civil e pesquisador.
Wilson Schettini Neto é Arquiteto e Urbanista, pós-graduando e pesquisador.