Roberto Gregório da Silva Junior é professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e vice-presidente de Mobilidade Urbana do Instituto Smart City Business America. Foi presidente da Urbanização de Curitiba S.A. (URBS), entre outros cargos relevantes na área de mobilidade.
Nesta entrevista, conversamos com o engenheiro mecânico, especialista em Engenharia de Produção, mestre e doutor em Administração, sobre cidades inteligentes e o papel das inovações nos centros urbanos. Roberto Gregório será um dos palestrantes do SmartCity Business America Congress & Expo, que ocorre de 16 a 18 de abril, em São Paulo.
Qual o papel das inovações no futuro das cidades?
O objetivo que eu vejo no uso da tecnologia das cidades é o de contribuir com a melhoria da qualidade de vida. Isso em várias dimensões, seja do ponto de vista ambiental, da interação social, dos custos envolvidos para as pessoas se manterem. Vejo a tecnologia como um instrumento – e aqui obviamente também estou falando de inovações – para a sustentabilidade dentro dessas dimensões básicas, que são a ambiental, a social e a econômica.
O conceito de cidades inteligentes muitas vezes é interpretado como uma cidade cheia de eletrônicos e equipamentos conectados à internet. É isso mesmo?
O conceito de smart cities é algo em construção, não está consolidado. Para mim, basicamente, é quando aproveitamos as inovações, as novas tecnologias, para melhorar a vida das pessoas. Obviamente, quando estamos falando de tecnologia e inovação, não estamos falando necessariamente de coisas sofisticadas. Estamos falando, às vezes, de soluções muito simples e até do resgate de soluções que no passado deram certo mas se perderam no tempo. Por isso, veio a questão do inteligente. São soluções, práticas e condutas que têm a ver com a qualidade de vida das pessoas.
Como a mobilidade pode deixar as cidades mais inteligentes?
É um elemento fundamental para a vida da cidade. As pessoas precisam ir e vir, assim como as mercadorias, a produção, e a questão é como essa mobilidade se dá da forma mais adequada. Isso significa dizer que precisamos prestigiar as soluções coletivas em detrimento das motorizadas e individuais. Precisamos imaginar motorizações que impliquem menos impactos ambientais, menos externalidade negativas, menos ruídos, menos emissões de gases, que tenham facilidade de acesso e permitam às pessoas serem incluídas na vida da cidade. Isso significa dizer que é preciso considerar também o conceito de universalidade, que vai além do que temos observado em soluções convencionais. Quando falamos de inclusão plena, de universalização, estamos falando das pessoas com mobilidade reduzida e das pessoas com deficiência. O transporte tem sido utilizado há décadas como instrumento promotor do desenvolvimento. Eixos de transporte que vão definindo a ocupação do espaço territorial, o uso desses espaços para atividades que vão desde a função comercial à residencial. Mas hoje temos defendido a tese de que o transporte deve ser um instrumento de inclusão das pessoas na vida da cidade.
Uma maneira dar acesso às oportunidades para mais pessoas.
Exatamente. No passado, foi muito trabalhada a questão do transporte orientando o desenvolvimento. O que estamos falando agora é do transporte orientando a inclusão das pessoas na vida da cidade. É uma nova dimensão que começa a ser praticada e que é típica de uma cidade inteligente. Obviamente, tem outras questões que começamos a observar como tendência. Por exemplo, como agregar mais serviços aos usuários do sistema de transporte? As pessoas sempre vão gastar um tempo nos seus deslocamentos, por mais otimizados que sejam os sistemas. Surge aí a questão do acesso à internet. Quando falamos da motorização, trazemos o conceito da eletromobilidade, que contribui para a redução das emissões dentro das cidades. Outro elemento quer agrega valor são os terminais de transporte, que no lugar de serem apenas pontos de passagem e acesso ao sistema, também passam a ser centros de serviços de conveniência. E talvez uma discussão que precisa ganhar mais corpo quando se fala em cidades inteligentes é a questão da mobilidade corporativa. Temos um trânsito cada vez mais caótico, em que as pessoas perdem muito tempo, partindo para o uso de motocicletas, com muitos acidentes, mortes, traumatismos permanentes. Então, repensar a maneira como as pessoas chegarão a esses centros de atividades, a esses polos geradores de tráfego, passa a ser um desafio muito atual e que precisa ser enfrentado com soluções criativas. Muitas vezes de cunho tecnológico, obviamente que não necessariamente sejam muito sofisticadas, mas que envolvam uma mudança de comportamento. Não tem sentido construir viadutos e estradas de uma forma sem fim. A cidade inteligente precisa refletir também sobre isso.
Qual o objetivo do evento organizado pelo Instituto Smart City Business America?
Um elemento central é colocar os atores do setor empresarial, governamental, acadêmico e outros interessados em contato, visando compartilhar ideias, experiências e soluções urbanas ligadas à cidade sustentável.
Você faz parte do júri do Desafio InoveMob. Como concursos como esse contribuem para tirar ideias inovadoras do papel?
O grande benefício que vejo nesse tipo de iniciativa é permitir um espaço institucional e apoio financeiro para que ideias, que às vezes tem grande potencial de aproveitamento e podem trazer grande benefício para as cidades, possam ser viabilizadas. O que acontece muitas vezes é que o grupo de empreendedores ou agentes de inovação, pesquisadores e pequenos empresários que estão desenvolvendo uma nova solução às vezes não contam com um ambiente propício para o desenvolvimento de suas ideias. Esse ambiente começa a ser construído através de iniciativas com essa, com uma premiação, porque primeiro passa por um crivo de profissionais especializados, que verificam a sustentabilidade e a viabilidade da ideia e, a partir disso, a ideia pode começar a tomar forma através de um projeto-piloto. Uma premiação desse tipo propicia a análise técnica, que muitas vezes é difícil para um grupo de pesquisadores conseguir, e dá visibilidade à ideia. O Desafio InoveMob tem uma particularidade muito interessante, pois o projeto-piloto precisa ser desenvolvido em parceria com uma cidade, então ele sai do campo das ideias e dos laboratórios para o mundo real. É o conceito pleno da prototipação de ideias que têm potencial de resultado relevante.