
Praia de Ipanema após enchente: as mudanças climáticas ainda não são uma preocupação para muitas pessoas (Foto: Andreia C. de Andrade/Flickr)
Por Daniely Votto, gerente de Governança Urbana do WRI Brasil
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Na primeira metade de novembro, líderes globais e regionais, prefeitos, organizações do terceiro setor, acadêmicos, cientistas, empresas – todos reuniram-se em Bonn (Alemanha) para a 23ª Conferência das Partes sobre o Clima. Sob a Presidência de Fiji, a COP de 2017 trabalhou no Livro de Regras do Acordo de Paris, como denominou o Representante Brasileiro nas Negociações, Embaixador Marcondes.
O Acordo de Paris foi um avanço: as ambições acordadas pelos países foram relevantes e houve o reconhecimento da importância dos governos locais para a implementação das ações necessárias. Todavia, é preciso ir além da negociação: os termos acordados precisam ser colocados em prática pelos países signatários. E esse processo não é simples, uma vez que são muitos os interesses envolvidos, tanto políticos quanto de setores importantes da economia global. Esse foi o cenário político das negociações dentro da COP 23.
E todo ano temos uma nova COP.
Todo ano há uma grande cobertura jornalística sobre esse evento global. Dados impressionantes e números assustadores são colocados à nossa frente e cientistas afirmam que não há mais tempo: precisamos agir agora para mitigar os efeitos das mudanças no clima e preparar a humanidade, pois tratamos como infinito um planeta com recursos finitos. A Floresta Amazônica continua sendo nosso maior bem e, ao mesmo tempo, a maior fonte de preocupação por conta do desmatamento, para o qual parece não haver limites. Toneladas e toneladas de CO2 são liberadas na atmosfera diariamente. O nível dos mares está subindo. Espécies correm o risco de ser extintas – inclusive a nossa.
Ainda assim, parece que todos esses dados e discursos não ecoam como deveriam nas pessoas que assistem pela televisão às chuvas torrenciais que fazem deslizar morros e habitações no Rio de Janeiro e em Salvador ou aos eventos recentes de microburst e tornados que ocorreram no sul do Brasil, nunca antes vistos nessas proporções. A falta de compreensão não é uma carência da população, mas um erro de linguagem que vem se perpetuando no discurso ambientalista e que precisa ser revisto com urgência.
A grande personalidade da COP23 foi o ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, que participou de vários painéis e debates, dançou no Pavilhão de Fiji e definiu bem a questão: “Não importa para o trabalhador dos EUA quantas giga toneladas de CO2 estamos emitindo. Mas importa saber que a poluição está matando nossas crianças. E que nove milhões de pessoas morrem por ano no mundo em função de problemas respiratórios advindos da poluição. É isso que temos que mostrar. E de forma chocante, como foi feito com o cigarro. Isso foi o que fizemos na Califórnia e obtivemos sucesso”.
Obviamente, uma figura pública como um astro de Hollywood atrai muita atenção ao tema. No entanto, para além da celebridade, é importante ressaltar que seu discurso vem ao encontro do que em geral a população pensa: as mudanças climáticas são algo distante do cotidiano – e há tantos outros problemas mais imediatos que as pessoas não consideram políticas de redução de emissões um tópico importante na hora de eleger seus líderes. Mas, se apresentarmos fatos concretos, relacionados aos impactos do clima na saúde e na geração de novas oportunidades de empregos, é possível que tenhamos resultados melhores, e as pessoas passarão a exercer pressão para que sejam tomadas medidas mais efetivas.
Schwarzenegger lançou ainda um desafio muito aplaudido pela audiência: que cada especialista, ao apresentar estudos, números e dados sobre mudanças climáticas, seja “obrigado” a incluir ao menos uma página em seus trabalhos sobre os impactos diretos na saúde e na vida das pessoas, com exemplos concretos e práticos que façam a diferença na visão e no modo de pensar dos cidadãos.
Essa abordagem pode ser a grande virada que todos os envolvidos ne questão climática estão buscando há décadas. Não há outro planeta, outro lugar para onde possamos nos mudar. E, ainda mais importante: você e seus filhos já estão sofrendo com doenças relacionadas à poluição e às emissões. E você só poderá mudar essa situação se envolvendo com o problema e com a solução.
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