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Bicicleta e integração: como o desenho urbano pode estimular esse hábito
Intervenções nos acessos às estações resultam na melhoria dos deslocamentos de toda a região. (Foto: Dylan Passmore/Flickr-CC)

Intervenções nos acessos às estações resultam na melhoria dos deslocamentos de toda a região. (Foto: Dylan Passmore/Flickr-CC)

Em muitos casos o que falta para as pessoas passarem a usar o transporte coletivo é só dar o primeiro passo. Ou melhor: encontrar uma solução para dar os últimos passos até a estação ou ponto de ônibus, a chamada last mile, o primeiro ou último trecho do deslocamento casa-trabalho. Mundialmente se considera adequado caminhar até um quilômetro para chegar a uma estação de transporte. Quantas pessoas podem afirmar que estão a essa distância? Em compensação, se caminhar não é uma opção, pedalar pode ser.

Assim como o transporte a pé, usar a bicicleta como meio de transporte diário tem suas limitações. No Brasil, o incentivo ao pedalar ainda é tímido tanto por parte do poder público quanto da iniciativa privada. No entanto, os óbvios benefícios econômicos, ambientais e as vantagens para a saúde da população deverão, aos poucos, justificar mais investimentos no futuro.

As cidades precisam ser cada vez mais saudáveis enquanto a mobilidade precisa ser progressivamente eficiente. Unir a bicicleta com o transporte coletivo pode ser a melhor combinação de todas. Ganham-se tempo e praticidade com o pedalar e mais pessoas conseguem chegar até ônibus, trem, BRT, VLT, metrô etc.

distanciasUm estudo realizado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e pelo WRI Brasil criou um indicador que mede o desempenho da rede de transporte coletivo das cidades. O indicador PNT (sigla para o termo em inglês People Near Transit) concluiu que, em São Paulo, a cidade com maior densidade populacional do país, apenas 25% das pessoas vivem a até um quilômetro de estações de transporte de média e alta capacidade. Por outro lado, esse número sobe para 74% quando o raio é ampliado para três quilômetros, uma distância razoável para uma pessoa que se desloca de bicicleta. Se implementadas as metas previstas no Plano Diretor Estratégico e no Programa de Corredores Metropolitano da cidade, esse índice subirá para 97% em 2025.

Mas por que isso ainda não ocorre tão comumente e o que pode ser feito para que se torne uma prática diária? Uma pesquisa na cidade de Atlanta categorizou três tipos de pessoas que estariam dispostas a pedalar até o transporte coletivo e quais são as ações prioritárias para que elas adotem essa prática:

Pessoas que idealmente preferem caminhar até a estação, mas a distância é muito grande. Esses usuários podem ser interessados, mas se preocupam com as condições para o pedalar, especialmente quando não contam com uma ciclovia em uma via de fluxo intenso de veículos. A prioridade seria, então, a implantação de faixas dedicadas à bicicleta que conectassem à estação de transporte.

Pessoas que idealmente preferem pedalar todo o percurso, mas as distâncias são muito longas, o percurso muito acidentado ou as condições meteorológicas não estão propícias. Para esse grupo não falta interesse ou confiança para pedalar, mas se preocupam com o local para guardar as bicicletas. Para eles, a prioridade é a instalação de locais para estacionar as bikes com segurança nas estações de transporte.

Pessoas que idealmente preferem dirigir, mas dependem do transporte coletivo para acessar lugares que precisam ir diariamente. O transporte coletivo e/ou a bicicleta não seriam a primeira escolha desse grupo, mas os utilizam porque a distância pode ser muito grande para caminhar, podem ser menores de idade sem permissão para dirigir ou porque a compra de um veículo particular não é economicamente viável. A prioridade para esse grupo deve ser oferecer uma infraestrutura segura para o pedalar e conexões eficientes com o transporte coletivo.

A segurança para pedalar

Para todas as pessoas que se deslocam diariamente, a qualificação do acesso ao transporte é um quesito básico para a satisfação e para a segurança. A instituição da Política Nacional de Mobilidade Urbana faz com que muitas cidades brasileiras trabalhem para aumentar a extensão de seus sistemas de transporte coletivo de média e alta capacidade. Essa expansão deve necessariamente ser acompanhada pela habilitação do entorno das estações para que elas atraiam novos usuários.

Produzido pelo WRI Brasil, o guia “Acessos Seguros – Diretrizes para qualificação do acesso às estações de transporte coletivo” apresenta cinco princípios para o desenvolvimento de projetos de qualificação urbana, sendo um deles a prioridade para pedestres e ciclistas. Para melhor integrar a bicicleta com os outros meios de transporte diários, o guia sugere três ações:

  • dimensionar a infraestrutura cicloviária para ser segura;
  • considerar esquemas de compartilhamento público de bicicletas entre os principais destinos e a estação;
  • implantar áreas adequadas de estacionamento para bicicletas.
Diretrizes para priorizar o transporte ativo no planejamento e projeto da área do entorno e acesso à estação.

Diretrizes para priorizar o transporte ativo no planejamento e projeto da área do entorno e acesso à estação.

Além desses três pontos, diferentes aspectos também contribuem para a qualificação das rotas do transporte ativo. São características como:

  • continuidade das rotas para evitar desvios até o destino final;
  • qualidade da superfície nas rotas levando em conta a drenagem de águas pluviais;
  • cuidar do papel estético do trajeto ao instalar mobiliário urbano, vegetação e iluminação – a vitalidade do ambiente irá influenciar positivamente nas rotas e na disposição das pessoas para utilizar o trajeto;
  • informar as distâncias a pé ou de bicicleta até os principais atrativos ou pontos de interesse em um raio próximo à estação de transporte,

O projeto em Atlanta formulou uma lista de perguntas para auxiliar a avaliar se o entorno de uma estação de transporte se adéqua ao uso da bicicleta. A listagem pode ser usada em processos de planejamento liderados por agências de transporte e/ou cidades que tenham interesse em facilitar os deslocamentos bicicleta-transporte coletivo. Conheça:

Lista formulada pelo Alta Planning and Design e adaptada para o português.

Lista formulada pelo Alta Planning and Design e adaptada para o português.

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