
Sistema de transporte coletivo é pouco utilizado pela maior parte da população. (Foto: Roy Luck/Flickr-CC)
A passagem do furacão Harvey, no final do mês de agosto, causou uma devastação impressionante em Houston. Mais de 40 mil casas foram destruídas, dezenas de pessoas perderam a vida e outras milhares tiveram de ser resgatadas das enchentes. Em meio a todo esse caos, no entanto, percebe-se a redescoberta do transporte coletivo, esquecido em uma cidade onde mais de 90% das pessoas se deslocam ao trabalho diariamente de carro. O Metro, o sistema de de transporte coletivo da cidade, hoje serve como importante peça para o restabelecimento de Houston.
Mais de 500 mil carros (o número pode chegar a 1 milhão) foram destruídos pela tempestade, fazendo com que muitos moradores buscassem imediatamente carros de aluguel. Segundo contou ao Citylab a usuária do Metro Janis Scott, após o furacão muitas pessoas não sabiam como iriam se deslocar, e o rádio continuamente anunciava que a população não iria conseguir ir a lugar algum. Na opinião de Janis, no entanto, não é preciso fazer da situação o “fim do mundo”: “Agora é a hora de usar o Metro”, ressaltou.
Antes e durante a passagem de Harvey, o sistema de transporte da cidade usou seus veículos para resgatar aproximadamente dez mil vítimas. No dia seguinte à passagem da tempestade, metade das linhas de ônibus de Houston já estavam operando normalmente. Ainda assim, segundo Janis, as pessoas nem sequer pensavam na possibilidade de utilizar um ônibus. “As pessoas precisam saber que elas têm opções [além do carro]”. As linhas ferroviárias e as rotas de ônibus foram restabelecidas em poucos dias e ajudam os moradores a retornar à vida cotidiana.
Christof Spieler, membro do conselho de diretoria do Metro, afirmou que a situação permitirá a identificação de áreas com maior necessidade de serviços e investimentos. “Talvez o próximo conjunto de investimentos precise ocorrer sob uma perspectiva de equidade, a partir da qual o serviço seja melhorado em áreas com baixas taxas de propriedade de carros ou onde o serviço seja atualmente mais escasso.”
Outro possível “benefício do furacão” para a mobilidade de uma cidade tão dependente dos carros será o fomento do uso da bicicleta. Isso porque bicicletas estão sendo doadas aos moradores que perderam seus automóveis. Um programa chamado “Keep Houston Rolling” uniu algumas organizações com o objetivo de arrecadas bicicletas, consertá-las e repassar às vítimas.
Resiliência
A recuperação rápida dos sistemas de transporte de Houston contribui para a recuperação da cidade, porém a devastação deixada pela tempestade deve ser o ponto de partida para a repensar como a cidade continuará lidando com possíveis desafios como esse. Segundo artigo do projeto 100 Cidades Resilientes, nenhuma cidade poderia ter resistido ao Harvey, porém Houston se fez mais vulnerável do que o necessário. A pavimentação não permitiu a absorção das chuvas, os reservatórios de controle de inundações eram muito pequenos. Diversas falhas ocorreram devido normas de construção e planejamento ineficientes.
O furacão Harvey, assim como os outros – Irma, Maria, José – que atingiram os Estados Unidos nas últimas semanas, possivelmente foi formado em decorrência das mudanças climáticas. Elas são responsáveis pelo aumento do nível do mar, o que causa problemas nos sistemas de drenagem, e também pela elevação da temperatura da água do oceano, alimentando níveis maiores de umidade atmosférica que pode cair como chuva forte.
Essas alterações precisam ser encaradas e incluídas em um planejamento específico, focado em tornar as cidades mais resilientes e conservar sua infraestrutura e integridade social e econômica. É hora de as cidades realmente olharem para os efeitos do aquecimento global e tomarem atitudes que diminuam sua vulnerabilidade diante de tais eventos climáticos.