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Perfil dos motoristas de ônibus indica caminhos para o avanço da mobilidade
Para 64,2% dos motoristas entrevistados o amor pela profissão é a principal condição para permanecer na atividade. (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Para 64,2% dos motoristas entrevistados o amor pela profissão é a principal condição para permanecer na atividade. (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Em um levantamento inédito no país, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) entrevistou 1.055 motoristas de ônibus urbanos de 169 municípios para traçar o perfil desses profissionais. Além de informações a respeito dos condutores, a pesquisa gerou resultados úteis também sobre as condições de tráfego dos veículos nas cidades brasileiras que ajudam a reforçar: a priorização do transporte coletivo é a solução para alcançar diversas metas ambientais e compromissos internacionais.

As entrevistas foram realizadas entre os dias 6 e 19 de dezembro de 2016 com motoristas de 11 estados e o Distrito Federal. Segundo a CNT, 98,19% dos profissionais são homens, com uma média etária de 43 anos. A maioria (53,6%) dos motoristas trabalha de 7 a 8 horas por dia e 30%, de 9 a 10 horas. A média de dias trabalhados por semana é de 5,9 – 82,2% trabalham 6 dias por semana.

Entre os motivos para trabalhar no setor, 70,6% dos entrevistados disseram gostar de dirigir ônibus e 33% afirmaram que o salário é melhor do que em outras profissões. Sobre os pontos positivos da profissão: para 41,3% dos entrevistados, é financeiramente rentável/vantajosa; 32,2% encaram como uma possibilidade de conhecer pessoas; e para 20,8% a grande vantagem é a estabilidade. A maioria (64,2%) aponta o amor pela profissão como a principal condição para permanecer na atividade.

Em relação aos pontos negativos, 57% dos motoristas consideram a atividade desgastante, estressante ou fisicamente cansativa. O perigo é um ponto negativo citado por 35,9%, e o risco de acidentes apareceu em 19,8% das respostas. Dos motivos que fariam o profissional trocar de ocupação estão o cansaço/estresse (23,9%), o risco de assaltos (22,7%) e a remuneração ruim (21,5%).

As principais reivindicações dos motoristas de ônibus urbanos estão relacionadas à segurança policial (61,7%) e à necessidade de pontos de apoio (pontos de parada e descanso) para o motorista com mais conforto e estrutura (33,7%). A priorização do transporte coletivo ainda não é a realidade na maioria das cidades brasileiras: infraestruturas como sistemas BRT, corredores e/ou faixas dedicadas são utilizadas por apenas 44,2% dos motoristas. Não à toa, vias especiais para os ônibus são a terceira principal reivindicação dos condutores (29,4%).

Qualidade do transporte

Profissionais são os responsáveis por transportar 30 milhões de passageiros por dia no país. (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)As emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes de carros e motocicletas registraram um aumento de 192% no Brasil em um período de 20 anos (1994-2014). Nesse mesmo período, o número de pessoas que optam por se deslocar diariamente de ônibus diminuiu 20%. Esses números não são coincidência – ao contrário: estão diretamente relacionados, uma vez que o transporte motorizado individual passou a ser a opção para quem desistiu do transporte de massa. Os motivos pelos quais tantas pessoas estão se afastando dos sistemas de transporte coletivos são diversos, mas a qualidade do serviço é um dos principais.

A eficiência dos sistemas de transporte coletivo pode trazer de volta antigos usuários e garantir novos. Além da ainda pouca infraestrutura para sistemas BRT e corredores de ônibus ou faixas exclusivas, as condições das ruas e avenidas por onde os motoristas entrevistados habitualmente trafegam, considerando a fluidez do trânsito, indicam problemas. Na visão de 81,8% dos motoristas, existem falhas nas ruas. Apenas 16,5% avaliaram como “boa” a fluidez; “ótima” foi a avaliação de 1,7%. Por outro lado, a fluidez nos sistemas de BRT, corredores e faixas exclusivas é considerada boa (41,6%) ou regular (30,7%) pelos entrevistados.

Considerados apenas os GEE, as atividades de transporte no Brasil são responsáveis por 46% das emissões do setor de energia. O transporte motorizado individual aparece com uma participação de 77% do total de emissões no transporte de passageiros. Todos esses dados reforçam a importância da priorização do planejamento orientado ao transporte sustentável.

A fim de atender às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), bem como às metas estabelecidas pelo Brasil no Acordo de Paris, o país precisa investir na renovação da frota de ônibus. De acordo com a pesquisa, a média de idade dos veículos que os funcionários costumam dirigir é de 5,3 anos. Até 58% dos ônibus têm até 5 anos; contudo, quase 35% possuem entre 6 e 10 anos. Com isso em mente, o governo federal lançou a iniciativa Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano de Passageiros (Refrota 17). O projeto faz parte do Programa de Infraestrutura de Transporte e da Mobilidade Urbana (Pró-Transporte) e tem a meta, apresentada no início deste ano pelo Ministério das Cidades, de financiar dez mil ônibus, com investimento total de três bilhões de reais.

O setor dos transportes, sendo o maior consumidor de combustíveis fósseis no Brasil, necessita especialmente de uma renovação tecnológica que conduza o país a uma nova era de híbridos e elétricos. Os veículos, no entanto, já apresentam alguns recursos mais avançados de tecnologia: 77,5% contam com sistemas de rastreamento, e 67,8% possuem GPS para orientação na rota.

O aumento da eficiência energética, o aumento da qualidade e da oferta do transporte coletivo e a implantação de faixas dedicadas de ônibus são as três ações de mobilidade urbana sugeridas no Documento-base para o cumprimento das metas estabelecidas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) em relação ao setor de transporte. Segundo a Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU), a frota de ônibus urbanos no país tem em torno de 107 mil veículos que transportam cerca de 30 milhões de passageiros por dia. Ouvir os responsáveis pelo deslocamento ajuda a perceber falhas importantes no transporte coletivo urbano, mas também indica as soluções mais adequadas – e onde devem ser implantadas – para garantir mais qualidade ao serviço.

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