
Carros permanecem inativos 95% do tempo; quando estão circulando, apresentam apenas 50% da capacidade ocupada. (Foto: Peter/Flickr-CC)
A nova mobilidade surge como uma alternativa às lacunas que o transporte coletivo não consegue atender. Embora a questão ainda esteja sendo discutida e necessite de uma regulamentação bem formulada, aumentar a eficiência do transporte nos grandes centros urbanos é uma questão urgente. Um novo estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sugere que viagens compartilhadas são possíveis em um grande número de cidades, mesmo quando estas apresentam características urbanas diferentes.
Pensar em uma nova forma de mobilidade em Nova York, por exemplo, uma metrópole que se transforma a cada dia e com uma densidade populacional excepcional, é fácil e não levanta muitos questionamentos em relação à viabilidade. O grupo de pesquisadores do MIT responsável pelo estudo concluiu que a maioria das 150 milhões de viagens de táxi feitas por ano em Nova York são compartilháveis. Se uma fração dessas viagens fosse dividida, a poluição do ar e os congestionamentos seriam reduzidos significativamente.
No entanto, a pergunta feita pela pesquisa “Scaling Law of Urban Ride Sharing” é quantos outros cenários urbanos oferecem o mesmo potencial para veículos compartilhados. Para isso, os pesquisadores analisaram uma substancial quantidade de dados de GPS e de táxis de outras três grandes cidades – São Francisco, Cingapura e Viena. A fim de obter um resultado que considerasse as diferentes densidades populacionais, o grupo utilizou variáveis como a área de cada cidade, o número de viagens de táxi, a média da velocidade do tráfego e a flexibilidade de tempo que os passageiros estão dispostos a esperar para compartilhar uma viagem.
Ao comparar a curva de “compartibilidade” de cada cidade, o estudo revelou que as quatro metrópoles apresentam a mesma tendência. Cerca de 99% das viagens em Nova York são compartilháveis, assim como 97% das viagens de São Francisco, Cingapura e Viena.
Paolo Santi, cientista do Senseable City Lab (MIT) e coautor da pesquisa, afirma que o resultado é particularmente surpreendente pelas grandes diferenças entre as cidades. “A explicação possível é que o que influencia a compartibilidade é a maneira como organizamos nossas vidas, em vez do formato da cidade”, sugere. Em outras palavras, os padrões de mobilidade diária das cidades que determinariam o potencial para os transportes compartilhados.
O trabalho ainda faz estimativas para outras 30 cidades ao redor do mundo. Berlim e Londres, por exemplo, estariam no limite mais baixo na escala de compartibilidade, enquanto outras cidades mais densas, como Amsterdã e Praga, apresentam melhores possibilidades. Na visão de Carlo Ratti, diretor do Senseable City Lab, o crescimento dos compartilhados depende de muitos fatores. “Ainda que com características urbanas similares, vai depender da cultura”, explicou. “Carros estão inativos 95% do tempo e, quando estão nas ruas, estão menos de 50% ocupados (na média). São os candidatos ideais para a economia compartilhada”, diz Ratti.
O matemático Steven Strogatz, também coautor do estudo, acredita que a pesquisa nas quatro cidades revela um “ponto ideal”: quando o número de veículos disponíveis chega ao ideal para o compartilhamento máximo e o índice mínimo de congestionamentos. Para os pesquisadores, as descobertas quantificam os efeitos do transporte compartilhado no ambiente urbano e orientam a um modelo de sistemas eficientes de mobilidade. “Graças à tecnologia do smartphone e à conectividade onipresente, hoje podemos compartilhar mobilidade de uma maneira que seria impossível apenas alguns anos atrás”, exaltou Ratti.