
Técnicas podem ser utilizadas para encontrar soluções para projetos nas cidades (Foto: Aloha Boeck/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O conceito de design thinking começa, aos poucos, a aparecer nas estratégias de desenvolvimento de projetos, seja no setor privado ou no setor público. Em síntese, significa pensar “como esse problema seria resolvido sob o ponto de vista do design?”. O objetivo com isso é encontrar uma abordagem prática para a solução de problemas através de um olhar humano, oferecendo espaço para ideias em um processo criativo que estimule a colaboração e a experimentação para reduzir riscos no processo de inovação.
Um projeto que leva em conta a técnica tem que ser possível de ser executado e fazer sentido para as pessoas. Segundo a consultora em inovação e modelo de negócios Maria Augusta Orofino (foto abaixo), durante o evento Conectando os pontos: Design Thinking para Integração de BH, realizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis com o apoio da Embaixada Britânica e em parceria com a Future Cities Catapult, a inovação do século 21 é aberta, colaborativa, multidisciplinar e global. A ideia que ela defende é criar ligações entre as áreas de conhecimento para atender melhor aos clientes que, no caso das cidades, são os seus habitantes. “Precisamos nos perguntar o que a cidade precisa e vai ser pra isso que acordaremos para trabalhar. É esse o sentido que devemos ver nas nossas vidas”, afirma Maria.
Conversamos com a especialista sobre como esse processo pode ajudar as cidades. Confira a entrevista:
O que falta para que o setor público se mobilize em busca de novas ideias?
No meu ponto de vista, nós não temos um espaço do conhecimento. Não temos um observatório do conhecimento, em que as pessoas possam colocar suas ideias, de uma forma digital. Em muitos aspectos, as cidades ainda não têm uma autonomia digital. Então, para que se possa buscar melhorias exponenciais em tecnologia, primeiro é preciso ter a tecnologia, de baixo custo, e segundo ter acesso a essa tecnologia. Somente quando tivermos acesso gratuito para todos é que as pessoas vão poder começar a pensar e se conectar de uma forma colaborativa. Esse é, hoje, o grande empecilho, já que quem teria a solução, não tem recursos.
Por isso, hoje as soluções geralmente chegam das pessoas que moraram fora, que sabem como pode ser diferente. Poucas emergem das comunidades. São questões que ainda têm obstáculos, seja pela lei, seja por uma imposição, seja porque não se dá abertura para isso. E também porque muitos não têm conhecimento sobre as técnicas colaborativas para trabalhar.
Como podemos inserir partes do conceito de design thinking no dia a dia das cidades?
Primeiro, é preciso verificar que devemos ter um espaço do conhecimento, um ambiente protegido, favorável, em que se possa falar sem ser punido. Nas administrações públicas, ainda há muito da questão do político e da represália. Enquanto tivermos políticos que mudam todos os gestores estratégicos para favorecer cabos eleitorais, acredito que não vamos crescer no Brasil.
Os gestores públicos precisam acreditar que só terão uma boa administração se acreditarem na base dos seus técnicos, que são funcionários de carreira. Eles não podem se sentir ameaçados quando um grupo começar a buscar soluções e trouxer ideias para eles, mas devem se sentir prestigiados e acreditar que boas ideias virão. E, acima de tudo, não podem ficar dentro das prefeituras e, sim, precisam ir para a rua saber o que as pessoas querem, saber do desejo do cidadão.
Em que etapa o Brasil está nesse processo?
No jardim de infância, mas não só o Brasil como o mundo. É um processo muito recente. Começa nas empresas, que pensam que assim podem aumentar os seus lucros, depois passa pela academia e só então chega ao setor público. Ainda temos muito o que aprender, muito o que fazer e, quem sabe, temos uma obrigação cívica de começar a compartilhar essa visão. As pessoas querem opinar, querem contribuir e têm ideias que, junto com outras, criarão soluções melhores ainda. Ninguém é soberano e a inovação é imprevisível. Só se inova criando repertório. Precisamos de cultura, de educação, de estímulo.
Quando temos um ambiente de competição, temos dúvidas e incertezas. Quando temos um ambiente colaborativo, temos confiança. Somente em ambientes colaborativos é possível crescer. Conectar os pontos de uma cidade vai além de compartilhar informações. É preciso conectar áreas, é uma tarefa multidisciplinar. Se nós não tivermos repertório, se não conhecermos outras realidades, não teremos condições de trazer novidades. Passa muito por um processo de ampliação de horizontes. Pode até acontecer, mas não é o padrão.