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(Vida)³ na Praça: ocupar espaços públicos transforma as cidades
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Tem vida na Praça Alexandre de Gusmão! (Foto: Victor Moriyama)

Ocupar os espaços públicos é uma forma de moldar as cidades – para que se tornem lugares mais humanos, vivos e agradáveis para as pessoas. Porque são as pessoas a essência da vida nas cidades e os espaços públicos, por excelência, os locais onde se dá esse encontro.

Neste sábado (27), fomos à rua colocar o discurso em prática. Instalamos na Praça Alexandre de Gusmão, em São Paulo, uma estrutura especial com um objetivo em mente: reunir pessoas para usufruir dos espaços urbanos e pensar juntas em como participar ativamente da construção de cidades melhores.

O público que passou pela praça na tarde de hoje encontrou um ambiente cheio de cor e vida, com uma programação construída para englobar a mesma diversidade que dá forma às nossas cidades. A (Vida)³ na Praça, ação organizada pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis dentro da Virada Sustentável, espalhou pela praça espaços de atividades infantis, exposições, música, oficinas e rodas de conversa.

Por toda parte, ecoavam as vozes e risadas de crianças que encontraram à sua disposição uma praça de brincadeiras. Entre bambolês, ping pong, petecas e bolhas de sabão, os pequenos corriam. Júlia, de 5 anos, ligou para o pai: “Estamos em uma praça com brinquedos, jogos e desenho. É bem colorido”.

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(Foto: Victor Moriyama)

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(Foto: Victor Moriyama)

No cubo, estrutura que deu nome à ação e que neste final de semana será o coração da praça Alexandre de Gusmão, estava a exposição Mobilidade em 1 Instante, organizada pela equipe do TheCityFix Brasil em uma homenagem à série homônima que publicamos durante quase dois anos. Ali, seis posts escolhidos por nós tornaram-se cartões postais, pendendo do teto com fotos e textos. A mobilidade em contraste com o instante para sempre congelado.

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(Foto: Victor Moriyama)

Às duas horas, música. O início das atividades da tarde foi marcado pela mescla de sonoridades do folk com canções do cotidiano urbano que animaram o público que se espalhava pelo gramado em frente aos músicos. As canções entoadas em uma hora de apresentação mostraram a quem olhava pelas janelas dos prédios no entorno – existe vida na praça! – e aqueceram a galera para o debate que veio na sequência.

Um assunto que precisa ser debatido

Como a mobilidade está sendo tratada na pauta dos candidatos a prefeito em São Paulo? E o que deve ser levado em conta para termos propostas de políticas públicas eficazes nessa área? Essas questões nortearam a roda de conversa Mobilidade nas Eleições, que convidou o público a uma reflexão sobre os centros urbanos.

A redução dos limites de velocidade, que ajudou a reduzir o número de acidentes e mortes em diversas vias de São Paulo, ainda divide opiniões, e quem acompanhou o bate-papo na praça teve a oportunidade de conhecer melhor os benefícios dessa medida. “Para entender como a redução dos limites de velocidade funciona, precisamos analisar as velocidades médias praticadas antes, o novo limite e os efeitos de ambos na fluidez do trânsito. A redução da velocidade comprovou que os limites mais baixos têm impacto mínimo na fluidez do trânsito e salvou vidas”, afirmou Cyra Malta, do Ciclocidade.

O debate sobre políticas de mobilidade, no contexto de eleições municipais, tem o poder de chamar a atenção dos candidatos, para que levem isso em conta e apresentem boas propostas, capazes de melhorar a vida das pessoas. Nesse contexto, é importante compreender que segurança viária não é apenas uma expressão técnica. Muito mais do que isso, o termo define um conjunto de medidas que líderes municipais podem implementar para evitar os acidentes de trânsito que tiram tantas vidas todos os anos. Essa foi a mensagem trazida por nossa Gerente de Governança Urbana, Daniely Votto, que mediou a conversa nesta tarde. “Reduzir os limites de velocidade não é um mecanismo para arrecadar dinheiro com multas, é uma medida para salvar vidas. O que nós queremos é fortalecer o debate, envolver as pessoas na discussão da mobilidade. Nós vivemos nas cidades e o poder de mudá-las para melhor está em nossas mãos”, salientou Daniely.

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Daniely Votto, Gerente de Governança Urbana do WRI Brasil Cidades Sustentáveis (Foto: Victor Moriyama)

A redistribuição do espaço viário é outra face assumida pelo que chamamos de segurança viária. Ruas feitas para comportar com conforto todos os modos – carros, ônibus, bicicletas e pedestres – são mais seguras e registram menos acidentes. Em São Paulo, conforme apontou Letícia Bortolon, do ITDP Brasil, são 17 mil quilômetros de vias – mas nem 3% desse total é destinado a outros modais que não o carro: “As políticas de mobilidade passam pelas políticas de uso do solo. As pessoas precisam ter o direito de acessar a cidade e o direito de escolher como vão fazer isso – de carro, ônibus ou bicicleta. O equilíbrio na divisão do espaço viário, com prioridade aos modos coletivos e ativos, é o que constrói as cidades mais humanas que buscamos”.

Ruas com espaços para todos são ruas seguras e, principalmente, ruas acessíveis. Dividir de forma equilibrada a área destinada a cada modal passa por compreender as ruas de forma mais ampla. Elas são, afinal, o que liga as pessoas de um ponto a outro e é dessa forma que precisam ser planejadas. “Alargar a rua gradativamente torna a cidade inviável – você terá quadras tão distantes umas das outras que as pessoas eventualmente não chegarão ao outro lado. As cidades precisam de proximidade e conexão, não de altas velocidades e espaço somente para os carros”, argumentou Rafael Calabria, do IDEC, que agora conta com um programa de mobilidade, o MoveCidade.

“Como vocês vieram pra cá hoje?”, questionou Vitor Leal, do Greenpeace Brasil. Ao perceber que as respostas se dividiam de forma quase igualitária entre os diferentes modos, o especialista explica: um aspecto-chave na mobilidade urbana é o direito de escolha. “As pessoas precisam poder escolher se querem vir ao centro ou se querem ficar no bairro onde moram. Precisam poder escolher com que meio de transporte querem se deslocar. E, se optarem por permanecer em seu bairro, precisam ter à disposição nesse bairro os serviços e oportunidades de que necessitam”, concluiu o especialista.

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(Foto: Victor Moriyama)

A vida no cubo não terminou na roda de conversa. Ao final do debate, dezenas de famílias, casais e grupos de amigos ainda curtiam a programação da Praça Alexandre de Gusmão. O som na mesa dos DJs seguiu tocando, e oficinas de stencil e de conserto de bikes para mulheres estavam entre as atrações que ainda movimentavam a programação.

Aos poucos, o sol que brilhou durante todo o dia desapareceu no horizonte, atrás dos prédios. Os equipamentos começaram a ser desmontados sob a luz crepuscular enquanto, aos poucos, as pessoas que ainda circulavam pela praça recolhiam suas coisas para ir embora com uma certeza: amanhã tem mais.

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