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Projeto futurista chinês cria ônibus que anda sobre os carros: solução de mobilidade ou sonho?

(Foto: Reprodução/YouTube)

Frequentemente invenções vindas do outro lado do mundo chamam a atenção pelas características futuristas e inéditas. Um ônibus que “flutua” sobre os carros no trânsito, desenvolvido pelos chineses, é a mais nova delas em termos de mobilidade. Porém, antes de imaginarmos como e quando isso pode chegar às nossas cidades, podemos pensar nas soluções que já temos para os problemas das vias urbanas congestionadas.

Recentemente, participantes de uma feira de tecnologia em Beijing assistiram com entusiasmo o projeto do “Transit Elevated Bus”, uma espécie de ônibus que transporta seus passageiros em um nível acima dos carros nas vias, de maneira que os automóveis passariam por baixo do veículo de transporte coletivo. A novidade iria ocupar duas faixas do tráfego, transportar até 1.200 passageiros e teria uma altura total de 4,5 metros. O ônibus transitaria em uma velocidade de pouco mais de 60 quilômetros por hora em uma pista especial, com duas faixas estreitas, quase como trilhos. Ele também seria movido a eletricidade. De acordo com a agência de notícias chinesa, Xinhua, a companhia Transit Explore Bus, que desenvolve o projeto, constrói um modelo para testá-lo em julho ou agosto nas estradas ao redor de Qinhuangdao City, no norte da China.

Uma versão anterior do Transit Elevated Bus foi revelada pela primeira vez em 2010, quando Song Youzhou, engenheiro-chefe do projeto, sugeriu que o veículo poderia reduzir o congestionamento nas cidades em até 30%. No entanto, para solucionar os engarrafamentos no trânsito, possuímos diversos meios que ainda não são explorados ou não recebem o devido incentivo em diversas cidades no Brasil e no mundo. Será que um ônibus futurista é realmente necessário?

A cidade de São Paulo, por exemplo, caiu do sétimo lugar do ranking entre os piores congestionamentos mundiais para a 58ª posição. A lista é elaborada pelo TomTom Traffic Index, considerado o mais importante medidor de congestionamentos no mundo, que pesquisou 259 cidades com mais de 800 mil habitantes em 38 países. Esse importante avanço é resultado de estratégias adotadas pela cidade, como a realização de obras viárias, a ampliação dos corredores exclusivos para ônibus, o aumento da fiscalização, as mudanças de mão em vias estratégicas e, especialmente, a redução nos limites de velocidade de trânsito. Em abril, a capital paulista chegou a 500 quilômetros de faixas exclusivas ao transporte coletivo, um crescimento expressivo ante os 90 quilômetros que contava até 2012. Do total da infraestrutura cicloviária existente na cidade, foram inaugurados 317,9 quilômetros desde junho de 2014. Antes, São Paulo possuía 64,7 quilômetros de ciclovias e 31,9 quilômetros de ciclorrotas.

Transporte coletivo de alta qualidade

Uma das grandes opções de transporte de massa que foram criadas para tornar a mobilidade urbana rápida, confortável e com baixo custo é o BRT (Bus Rapid Transit). Através da provisão de infraestrutura segregada com prioridade de passagem para o ônibus, o BRT basicamente imita as características de desempenho e conforto dos modernos sistemas de transporte sobre trilhos, mas a uma fração do custo.

As cidades referência na implementação completa do sistema de BRT são Bogotá, na Colômbia, e Curitiba (PR). O sistema não é configurado apenas por corredores de ônibus, mas uma ampla elaboração de projetos que tornam viáveis sua instalação. Estações com pagamento prévio da passagem e construídas na mesma altura dos ônibus, semáforos que dão prioridade para os ônibus nos corredores, entre outras medidas é o que fazem a diferença para o sistema funcionar de maneira mais rápida.

(Foto: WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Curitiba, por exemplo, começou a instalar o sistema em 1974 e atualmente conta com seis corredores de BRT e uma faixa de prioridade de ônibus com 84 quilômetros, beneficiando 561 mil passageiros todos os dias. Já Bogotá começou o sistema em 2000 e agora conta com 11 corredores com 113 quilômetros, beneficiando 2.213.236 passageiros todos os dias.

Além do BRT, ainda podemos investir na instalação de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), e as próprias ciclovias e ciclorrotas, já tão bem utilizadas em tantos países e com uma importância evidente para o futuro da mobilidade urbana. Outras alternativas não tão conhecidas são sugeridas no Manual de BRT do Ministério das Cidades: bondes, linhas de trilhos elevadas (localizados principalmente em estruturas aéreas), trens suburbanos (de infraestruturas mais pesadas, tipicamente levando passageiros entre áreas urbanas e suburbanas) e Linhas Pessoais Rápidas (PRT) – um sistema sobre pneus ou trilhos que carrega passageiros em pequenos veículos guiados automaticamente.

“Transportes de Massa Rápidos podem conseguir tempos de viagem reduzida com o oferecimento de redes amplamente acessíveis, veículos de alta velocidade, infraestrutura exclusiva com a prioridade de passagem, serviços especiais expressos ou com paradas limitadas, sistemas de cobranças eficientes e/ou técnicas de embarque e desembarque mais rápidas”, afirma o documento. Neste momento, encorajar e incentivar a caminhabilidade, o uso da bicicleta como meio de transporte, e o uso do transporte coletivo pode ser mais eficiente do que sonhar com um belo projeto chinês.

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