Na contagem regressiva para as primeiras Olimpíadas e Paralimpíadas da América do Sul, as atenções voltam-se não apenas para as expectativas de medalhas dos atletas, mas para a capacidade de organização dos jogos. Será que vai dar tempo de finalizar os últimos preparativos? Como o Brasil e o Rio de Janeiro vão se sair como anfitriões? Os questionamentos são proporcionais à dimensão do desafio: independente de onde sejam, os jogos são um dos mega eventos mais complexos do mundo, em que tudo se conta aos milhares. E enquanto alguns números esportivos são mais conhecidos do público geral, há outros, menos midiáticos, que também traduzem a imensidão do evento. O quadro abaixo, divulgado pelo próprio Comitê Organizador, dá uma ideia do tamanho do impacto gerado:
Os números acima mostram um lado geralmente desconhecido do grande público, mas que impacta diretamente a vida da cidade-sede e redondezas durante anos. Afinal, em cada medalha, além do suor dos atletas, há também um pouco mais de trânsito, resíduos, ruídos e outros efeitos colaterais. Traduzindo tudo isso em emissões de carbono equivalentes, o impacto esperado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos é de 3,6 milhões de toneladas de acordo com o Relatório de Gestão de Pegada de Carbono elaborado pelo Comitê Organizador. Isso equivale à média emitida por 10 milhões de cidadãos durante um mês inteiro considerando referências do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP). Desse total, quase 40% deverá ser originado pelos próprios Espectadores através de deslocamentos locais, nacionais e internacionais, acomodações e compra de mercadorias! As categorias Infraestrutura da Cidade, Construção das instalações e Operações respondem pelo restante, com cerca de 20% cada, incluindo os sete anos preparatórios e o período desmontagem dos jogos.
Traçar o perfil da pegada dos jogos não é uma atividade simples nem exata. Exige muito esforço metodológico para delimitar o que conta e o que não conta dentro dessas estimativas. Mas é apenas o primeiro passo. É o ponto de partida para a desafiadora tarefa de mitigá-la.
Mas de que maneira? Como a pegada é elevada, a compensação das emissões precisa vir de diversas fontes. De acordo com o plano elaborado para os jogos, a administração pública ficará responsável pela mitigação de 1,6 milhão de CO2 equivalente através de plantio e recuperação de áreas degradadas. Já os 2 milhões que ficaram sob responsabilidade da Rio2016 serão compensados através de dois grandes blocos de ações. Um está relacionado diretamente aos jogos, com desenvolvimento de designs mais sustentáveis, otimização de processos, incentivo a compras certificadas e priorização do uso de energias renováveis. O outro será realizado em conjunto com um dos patrocinadores através de diversos projetos nos setores de agropecuária, eficiência industrial, preservação e proteção de alimentos e eficiência na construção civil. Alguns desses projetos já estão em operação, enquanto outros devem ser implantados até 2026.
Opa, 2026? Sim, é isso mesmo, estamos falando de uma conta que ainda terá saldo devedor em 2026! Ou seja, dez anos depois ainda estaremos compensando o impacto dos jogos. Você já se imaginou pagando a fatura do cartão de crédito daquele ingresso mais de uma década depois? Pois é, a conta de carbono dos jogos é alta e será paga em longas prestações. Ela revela custos que ficaram ocultos durante muito tempo, mas que felizmente estão começando a ser divulgados, precificados e tratados de alguma maneira.
E embora tenhamos tendência a olhar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos como eventos muito específicos e concentrados, os impactos causados refletem de maneira bastante real a nossa rotina: estão relacionados à construção de infraestrutura, transporte, alimentação, moradia, diversão e tudo o que isso implica. Assim como nas medalhas, nossas escolhas e conquistas diárias contêm nossos esforços. E também carregam um pouco do nosso modo de vida: nosso trânsito, nossos ruídos e nossos resíduos. Tudo junto e misturado em uma pegada de carbono individual. Qual é a sua?