
O acesso aos dados gerados por sistemas de transporte pode melhorar o planejamento das cidades e a qualidade de vida das pessoas (Foto: Meena Kadri/Flickr)
O planejamento urbano é uma peça fundamental para a construção de cidades mais humanas e sustentáveis. Os centros urbanos tomam forma a partir das diretrizes adotadas durante o processo de planejamento – se nesse processo forem incluídas medidas que garantam um ambiente urbano mais inclusivo, seguro e acessível, assim ele será; se, ao contrário, o planejamento se der voltado para o uso dos carros, as cidades tendem a ser locais hostis aos pedestres e ciclistas.
Por esse motivo, a integração do planejamento de transportes no processo de planejamento urbano é um dos fatores-chave para promover o desenvolvimento sustentável e inteligente das cidades. Entender o impacto dos sistemas de transporte coletivo na dinâmica de uma cidade ajuda a enxergar pontos críticos e necessidades e pode orientar decisões importantes para o futuro da população e das cidades como um todo.
A plataforma AllTransit, lançada em abril pelo Center for Neighborhood Technology (CNT), é um banco que compila dados de mais de 800 agências de trânsito dos Estados Unidos, com informações sobre itinerários, paradas, conexões e distâncias de oportunidades de emprego e outros serviços urbanos. Com informações em seis métricas – oportunidades de emprego, economia, saúde, equidade, qualidade do transporte, mobilidade –, a ferramenta permite visualizar os benefícios sociais e econômicos de se viver próximo aos sistemas de transporte.
O acesso ao transporte é um dos fatores determinantes para a qualidade de vida em uma cidade – mas também pode dizer muito mais sobre ela. Pela ferramenta americana, é possível ver, por exemplo, que poucas estações do sistema de compartilhamento de bicicletas em Kansas City estão a menos de um quilômetro de distância em relação às estações da rede de transporte coletivo. Essa ausência tem um impacto direto no uso da bicicleta como meio de transporte e, consequentemente, na mobilidade da cidade como um todo – uma vez que, com a dificuldade de integrar modais, é possível que mais pessoas optem pelo carro.
São mais de 15 mil rotas e pelo menos 543 mil estações e paradas computadas que, organizadas e classificadas, constituem um banco eficaz para analisar esses dados, relacionando-os uns com os outros e com outras questões relevantes à vida nas cidades. Usando informações censitárias, a plataforma é capaz de computar as oportunidades de trabalho acessíveis para uma família média via transporte coletivo a até 30 minutos, quantos desses empregos estão localizados a menos de um quilômetro de paradas ou estações e quantos trabalhadores encontram-se no raio de alcance dessas oportunidades.
Outros dados disponíveis incluem o número de pessoas que se deslocam de bicicleta ou a pé para o trabalho e vivem a menos de um quilômetro de algum ponto de transporte, índice de conectividade dos sistemas de transporte, viagens realizadas por semana e unidades habitacionais para pessoas de baixa renda localizadas próximo a sistemas de transporte. Informações dessa categoria são extremamente relevantes para o processo de planejamento das cidades, uma vez que identificam o uso feito das estruturas já existentes e lançam luz sobre as necessidades da população. Saber quais são as regiões da cidade com maiores e menores níveis de conectividade ajuda gestores municipais a tomarem medidas inteligentes no que diz respeito à implementação de novas infraestruturas. O banco de dados é o maior já criado nos Estados Unidos e mostra o enorme potencial da transparência de dados: além de guiar ações de planejamento e fornecer informações valiosas para pesquisadores e moradores, comprova o valor e o impacto dos sistemas de transporte em nossas vidas.