Os números falam por si: entre 2013 e 2015, a quantidade de pessoas emitindo a primeira carteira de habilitação caiu pela metade no Brasil, em todas as faixas etárias. Nos Estados Unidos, dados recentes da Federal Hihgway Administration mostraram que o número de motoristas com 16 anos (a idade mínima para dirigir no país) caiu ao menor patamar desde a década de 1960 (veja os dados abaixo).
Um levantamento semelhante feito pela Folha de S. Paulo no ano passado, com dados do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), já havia mostrado que os paulistanos também estavam adiando o momento de tirar a habilitação. Em 2015, o número de pessoas que deixava isso para depois dos 30 anos havia aumentado 77% em relação e 2005. A mesma reportagem mostrou que a idade média de quem fazia a CNH pela primeira vez havia passado de 21,1 para 26,5 anos no mesmo período.
O que teria feito com que o ideal de liberdade dos jovens de décadas atrás fosse algo não tão importante para quem está com menos de 20 anos hoje? Gazeta do Povo e City Lab escreveram reportagens sobre o assunto e chegaram a pontos convergentes, como a crise econômica – que atinge fortemente esse público – e o fato de a geração atual não dar tanto valor ao carro como objeto de desejo, algo muito mais evidente no passado. Os smartphones também têm feito com que eles digitem mais e se encontrem menos.
Mas, talvez a resposta para a pergunta do parágrafo anterior se esconda no fato de que hoje os veículos individuais e motorizados representam liberdade apenas em pouquíssimos momentos. Em outros, ocorre o contrário. O tempo perdido no trânsito congestionado está mais para escravidão do que qualquer outra coisa. Mesmo assim, a estimativa é de que a frota mundial de veículos chegue a 2,5 bilhões em 2050.
Os números recentes parecem fazer parte do efeito prático de uma previsão já evidenciada em pesquisas de comportamento nos últimos anos. Em 2014, um estudo realizado pela Rockefeller Foundation e pela Transportation for America revelou que três em cada quatro jovens americanos gostariam de viver em locais onde não precisassem de carro e 66% colocou o transporte público de alta qualidade entre um dos três principais critérios para a escolha de uma nova cidade para viver. Boas soluções de transporte coletivo são as melhores alternativas para que esses jovens envelheçam sem precisar comprar o primeiro carro.
O desapego cada vez maior dos jovens pelos automóveis é algo que vem sendo observado há algum tempo, e os dados mais recentes só comprovam isso. Ainda em 2012, pesquisa realizada com 3 mil consumidores nascidos entre 1981 e 2000, já mostrava que quase metade dessa turma prefere ter acesso a internet do que um carro na garagem. E as montadoras já buscavam desesperadamente por uma linguagem capaz de atrair essa geração.
Abaixo, veja os números no Brasil e nos Estados Unidos:
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