
As cidades precisam proporcionar um ambiente que estimule a inovação (Foto: New York City DOT/Flickr)
*Artigo originalmente publicado na Revista NTU Urbano – Edição Janeiro/Fevereiro 2016.
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O acordo firmado na COP 21, em Paris, estabeleceu um marco na história do combate às mudanças no Clima. Pela primeira vez se alcançou o consenso global de que as emissões de gases do efeito estufa precisam ser desaceleradas com urgência. O acordo, sucessor do Protocolo de Kyoto, foi aprovado por 200 nações agora comprometidas em agir para manter a ascensão da temperatura média do Planeta abaixo dos 2°C até 2100. Na linha de frente estão as cidades – agora vistas como parte do problema e, portanto, agentes-chave para a solução.
Os centros urbanos consomem dois terços da energia global e são responsáveis por mais de 70% das emissões de CO2[1]. Com a perspectiva de um acréscimo de 1,2 bilhão de pessoas nos próximos 35 anos, as cidades precisam liderar a mudança, e o transporte é um dos fatores-chave. Só no Brasil, o setor foi responsável por 46,9% das emissões de CO2 associadas à matriz energética em 2014[2]. Para modificar este cenário, são necessárias ações de forma a evitar, mudar e melhorar a forma e a intensidade dos deslocamentos nas cidades hoje. Transformar o ambiente urbano para evitar emissões requer grandes aportes financeiros e tempo despendido em projetos e execuções. Logo, é importante também disparar ações para mudar e melhorar a mobilidade.
A eletrificação do transporte tem sido a aposta mais imediata. Mas somente a troca por veículos elétricos ou combustíveis de baixas emissões não endereça a sustentabilidade em sua total dimensão. A frota veicular continua crescendo e, com ela, os congestionamentos e as mortes no trânsito. É necessária uma mudança de cultura, com ações de restrição ao uso do automóvel particular e incentivo ao transporte coletivo para que este se torne tão ou mais atrativo que o automóvel. Nesse sentido, observamos uma onda crescente de iniciativas disruptivas na oferta de novos serviços em transporte coletivo que mesclam inovação, empreendedorismo, tecnologia e colaboração.
O termo “disruptivo” está diretamente relacionado a uma quebra do modelo atual, o que gera conflitos e requer mudança de paradigmas. O conceito se mostra atrativo em uma era de transição, onde pessoas valorizam mais os serviços que possam ser colaborativos, de alta qualidade e sustentáveis. Serviços como ônibus responsivos à demanda e autos compartilhados são as mais recentes alternativas e ganham, a cada dia, mais adeptos no mundo. Suas vantagens foram mapeadas em recente simulação da introdução de modos disruptivos na cidade de Lisboa, com os chamados taxibuses (ônibus responsivos à demanda) e shared taxis (táxis compartilhados)[3], encomendada pelo International Transport Forum. O cenário que considerou trilhos, táxis e ônibus compartilhados, apresentou redução de 37% de VKM no horário de pico, com a consequente diminuição dos níveis de emissões em 34%. Além disso, a demanda por vagas de estacionamento foi reduzida em mais de 95%, o que permitiria resgatar o uso de espaço público para as pessoas. Tarifas dos táxis compartilhados seriam 31% das praticadas atualmente pelos táxis convencionais e o custo com o passe mensal de transporte coletivo ficaria apenas 45% do valor presente.
As cidades precisam estar preparadas para proporcionar um ambiente que enseje a inovação e o empreendedorismo. Isso requer lideranças preparadas para realizar as mudanças legislativas necessárias para fomentar experimentações disruptivas que impulsionem o desenvolvimento urbano sustentável.