A bicicleta é uma ferramenta poderosa para a transformação urbana, mas não funciona apenas como um meio de deslocamento. Ela pode ser um instrumento importante na interação da população com a cidade, configurando-se, portanto, como um facilitador de mudança social e equidade urbana.
Em algumas cidades da Europa, a magrela tem sido um importante meio de locomoção e integração de comunidades carentes e refugiadas à sociedade. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (CNHCR – United Nations High Commissioner for Refugees), desde janeiro de 2015 mais de um milhão de pessoas já chegaram à Europa por mar e terra e outras 15 milhões foram forçadas a fugir do Oriente Médio. A problemática dos refugiados nos países europeus, a maior emergência humanitária atual, e os benefícios da bicicleta – são mais baratas que outros meios de transporte; tem potencial para aumentar a mobilidade e a autonomia dos usuários; podem colaborar com a qualidade de vida, saúde e inclusão social dos cidadãos mais vulneráveis – têm motivado a criação de organizações que se empenham em auxiliar os milhares de pessoas que têm deixado os países de origem escapando de guerras e perseguições.

(Fonte: The Bike Project)
O The Bike Project, por exemplo, recolhe bicicletas usadas, conserta-as e então as doa para refugiados que vivem em Londres. Os beneficiários participam ativamente do processo de manutenção. Eles são ensinados a restaurar as próprias bicicletas através de workshops que ensinam os princípios básicos de manutenção e nos quais uma nova rede de relacionamentos é formada. Além do conserto, o projeto ainda ensina mulheres refugiadas a pedalar. As aulas, que acontecem uma vez por semana durante dez semanas, são oportunidades para que os cidadãos nativos compartilhem suas habilidades e cultura e, ao mesmo tempo, servem para fornecer uma chance de socialização e compartilhamento da história dos imigrados.
Em Berlim, a Rückenwind, uma organização formada por jovens estudantes, também fornece bicicletas aos refugiados. Os objetivos são fazer com que eles descubram a cidade, sejam inseridos em comunidades e consigam ter uma vida melhor e independente na capital da Alemanha. Para isso, a organização, juntamente com os refugiados, coleta bikes e peças e as repara a fim de que, na mão dos novos residentes de Berlim, possam circular adequadamente pela cidade. Tendo o mesmo público, a Cruz Vermelha na Dinamarca capacita os imigrantes e refugiados a usarem e a consertarem bicicletas em Copenhague. Numa cidade onde 50% da população usa a bicicleta diariamente, iniciativas como essa são fundamentais para inserir as pessoas na cidade.

(Fonte: Rückenwind)
Através de workshops, aulas e doações, essas ações colaboram com a relação entre bicicleta, pessoas e cidade. O propósito final é assegurar que todos possam usufruir do direito de ter condições adequadas de vida no país que escolheram para asilo e refúgio. O transporte é essencial para ajudá-los a encontrar trabalho e função como parte da sociedade. Ademais, a bicicleta pode auxiliá-los a conseguir os bens e oportunidades que a cidade oferece, como saúde, educação e acesso a instituições que possam fornecer alimento ou instruções.
Embora operem em pequenas áreas geográficas com um número limitado de refugiados, as propostas dessas organizações mostram o papel das bikes para ajudar e engajar alguém que começa a vida em uma nova cidade depois de fugir de seu país de origem, o que destaca o grande potencial de reaplicação da ideia.