Este post foi escrito por Heshuang Zeng e publicado originalmente no TheCityFix.

Na medida em que crescem nos países emergentes, os sistemas carsharing enfrentam alguns desafios, mas as operadoras – como a Yoyo, na Turquia – estão encontrando seu nicho no mercado (Foto: Yoyo/Reprodução)
De seis operadoras em 2012 para 41 até a metade de 2015, os sistemas de compartilhamento de carros – ou carsharing – estão se expandindo rapidamente em mercados emergentes em todo o mundo. Qual é o futuro do carsharing? Que impacto essa inovação terá nas cidades? Quais são os desafios-chave para assegurar que esses programas se tornem uma alternativa para a mobilidade sustentável? O TheCityFix organizou uma série de quatro posts a partir de um novo estudo do WRI Ross Center for Sustainable Cities, explorando o que os sistemas carsharing significam para as cidades do futuro.
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Como qualquer indústria emergente, o carsharing atualmente se vê diante de algumas barreiras para crescer. Esses obstáculos originam-se a partir de quatro fontes: 1) usuários potenciais, 2) infraestrutura de transportes, 3) governos e 4) negócios. Além desses, comuns em cidades de todo o mundo, nos países emergentes despontam desafios específicos, como redes insuficientes de transporte coletivo, trânsito congestionado e competição com meios semiformais.
Em resposta, muitas operadoras carsharing ajustaram seus modelos de negócios conforme o contexto local. Algumas estabeleceram prazos mais flexíveis para a devolução dos veículos, outras pacotes mais acessíveis de até cinco horas para usuários que fazem vários deslocamentos.

(Tabela: WRI Ross Center for Sustainable Cities)
Usuários potenciais: o desejo de ter um carro
Uma questão chave relativa aos sistemas de compartilhamento de veículos é se encorajam as pessoas a comprarem o primeiro carro ou se, ao contrário, ocupam o lugar do desejo de ter um. Em nosso grupo focal, descobrimos que os participantes sentem forte atração pela mobilidade pessoal – o que pode ser ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para o uso de veículos compartilhados. Embora os sistemas carsharing ofereçam acesso a um carro sem a necessidade de comprar um, grande parte das pessoas ainda vê esta apenas como a segunda melhor opção. Essa premissa se mostrou verdadeira sobretudo em países em desenvolvimento como a Índia e a China, onde os carros ainda são considerados um forte símbolo de status social. De fato, um terço dos participantes da pesquisa acredita que os automóveis privados refletem o status social de seus donos.
Infraestrutura de transporte: congestionamentos
A frota de veículos cresce exponencialmente em todo o mundo, e muitas cidades vivem hoje intensos e recorrentes congestionamentos – um problema para os programas carsharing. Com pouca infraestrutura e transporte coletivo ineficiente, países em desenvolvimento são especialmente vulneráveis aos congestionamentos. De acordo com o índice anual de tráfego da TomTom, 13 das 20 cidades com os piores trânsitos estão em economias emergentes, entre as quais China, Brasil, Turquia e México. No que diz respeito aos sistemas carsharing, o trânsito congestionado dificulta a operação do serviço, na medida em que usuários não podem prever quando serão capazes de devolver o veículo – um dos principais desafios para o gerenciamento das frotas dos programas. Para contornar essas adversidades, operadoras carsharing em cidades muito congestionadas frequentemente disponibilizam muitos veículos em determinados locais, assegurando que os usuários sempre tenham opções. No Brasil e na China, as empresas aumentaram a flexibilidade dos prazos para a devolução. É o caso da Zazcar, que devolve crédito aos usuários pelas horas não utilizadas. Além disso, a empresa brasileira só a taxa de custo quando o usuário ultrapassa o tempo de devolução – diferente da Zipcar, nos Estados Unidos, que cobra os atrasados a partir de 50 dólares.
Governos: restrições aos veículos privados
Em decorrência dos congestionamentos e da poluição atmosférica causada pelo uso excessivo dos carros, cidades na China, no Brasil, no México e em outros países emergentes implementaram restrições à posse de um veículo. Por um lado, isso pode ajudar os sistemas carsharing, tornando o serviço mais atrativo. Durante nossa pesquisa em Hangzhou, por exemplo, a cidade estava implementando uma política de controle de circulação de veículos que mantinham um quinto dos carros fora das ruas durante os horários de pico. Embora os carros dos programas de compartilhamento não ficassem de fora, alguns moradores se valeram do serviço como substituição ao próprio carro quando este estava impedido de circular.
Por outro lado, restrições aos carros colocam um desafio aos sistemas carsharing, na medida em que poucos governos deixam os carros compartilhados de for a das políticas de restrição. Na época de nossa pesquisa, a empresa chinesa YiDianzc só conseguiu operar sete veículos ao longo de dois anos por conta das restrições impostas pela administração municipal de Pequim. Por conta disso, muitos especialistas em mobilidade recomendam que os sistemas carsharing não sejam incluídos nas políticas de restrição, uma vez que são uma alternativa aos carros privados.
Competição com táxis e auto-rickshaws
Na medida em que os programas de compartilhamento de veículos começam a explorar novos mercados, passam a enfrentar a concorrência com outros modais semelhantes, como táxis e auto-rickshaws, normalmente alternativas acessíveis. Em Hangzhou, os participantes da pesquisa identificaram os táxis e o aluguel de carros como principais concorrentes. Em Bangalore, muitas vezes o carsharing é comparado aos auto-rickshaws. De qualquer forma, apesar da competição, o compartilhamento de veículos satisfaz demandas que seus concorrentes não são capazes de atender. Mais especificamente, os usuários tendem a preferir os sistemas carsharing quando precisam realizar deslocamentos mais longos ou mais numerosos. As operadoras, então, criaram estratégias de preço para atrair esses usuários. A Chefenxiang (EVnet), em Hangzhou, por exemplo, oferece um pacote de cinco horas por entre 45 e 60 yuans (entre US$ 7,40 e US$ 9,80). Em suma, os sistemas carsharing estão encontrando seu caminho.
Juntos, os rápidos processos de motorização e urbanização criam um contexto dinâmico para o compartilhamento de veículos, mas também levantam uma série de questões. Os carros compartilhados serão isentos às políticas de restrição de veículos na China? As cidades continuarão a investir em infraestruturas e opções de transporte que complementem os serviços carsharing? Até aqui, os sistemas se mostraram resilientes e adaptáveis às diferenças regionais. De todo modo, impulsionar os programas de compartilhamento de veículos como uma solução para a mobilidade sustentável vai exigir uma política ambiental específica que leve em consideração esses quatro grandes desafios.
Este é o quarto e último post da série. Confira os anteriores: