O financiamento das ações de mitigação é parte do desafio das cidades no combate às mudanças climáticas. Investir em planos de adaptação, resiliência e mitigação garante benefícios indiscutíveis, mas tem um custo – e financiá-lo nem sempre é tarefa simples. Uma alternativa são os bancos de desenvolvimento e instituições financeiras, que têm o potencial de concretizar projetos de sustentabilidade em todo o mundo.
Na manhã de hoje, o assunto foi tema de debate no pavilhão das cidades, na Green Zone da COP 21. Com base na experiência de diferentes instituições, o painel explorou o papel ocupado por essas organizações como potenciais financiadoras de projetos de baixo carbono e infraestrutura resiliente e de ações climáticas urbanas. Participaram da conversa representantes da conversa Cities Climate Finance Leadership Alliance (CCFLA), da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), do Banco de Desenvolvimento da África do Sul (DBSA), do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), além do prefeito de Cebu, Michael Rama, e de Holger Dalkmann, que moderou a sessão.
O debate foi focado nos desafios enfrentados tanto pelas cidades quanto pelas próprias instituições de financiamento. Um dos tópicos de discussão explorou a experiências dessas instituições com o que funciona e o que não é tão efetivo assim em termos de financiamento. A partir da visão de especialistas do setor, é mais fácil perceber as diferentes maneiras como o financiamento internacional pode ser utilizado pelos governos locais para levar adiante suas ações climáticas.
Anne Odic, chefe do Departamento de Desenvolvimento Urbano da AFD, falou sobre a necessidade de, dado o contexto em que vivemos, levantar financiamento também para as cidades pequenas e, ao mesmo tempo, investir em inovações para que novos projetos e soluções saiam do papel. Como instituição que trabalha diretamente com desenvolvimento sustentável, a AFD apoia e financia projetos e programas de desenvolvimento, com o objetivo de contribuir para um crescimento econômico mais sustentável e melhorar as condições de vida nas regiões e países mais carentes. Anne destacou ainda outro aspecto importante do trabalho nas instituições financeiras, que é a necessidade de manter o contato com as cidades para assegurar a continuidade dos projetos em que receberam recursos.
Não só continuidade: os projetos precisam também ter uma abordagem holística. É o que ressaltou a diretora da CAF, Martha Castillo. A especialista acredita que os trabalhos com cidades e regiões precisam adotar um novo paradigma, com os diferentes setores envolvidos no mesmo projeto, trabalhando de forma integrada. “Não importa se estamos falando de clima, adaptação ou resiliência – no final, tudo se resume ao desenvolvimento sustentável. E o desenvolvimento sustentável não é tarefa de um setor ou de outro: é de todos. Nós, como instituições de financiamento, estamos aqui para ajudar as cidades a atingi-lo, mas esse trabalho precisa ser de todos”, afirmou.
Cidades em ação
A aliança entre as cidades, basicamente, é um pré-requisito na luta contra as causas e no processo de mitigação dos efeitos das mudanças no clima. Ao mesmo tempo em que os planos de agendas nacionais precisam adquirir uma dimensão climática mais forte, os municípios devem entender que são organismos interdependentes e que precisam trabalhar juntos para alcançar o sucesso nos planos climáticos.
Na tarde desta segunda-feira (7), a Cities Alliance, organização que trabalha para reduzir a pobreza urbana promovendo e fortalecendo o papel das cidades no desenvolvimento sustentável, reuniu alguns de seus principais membros para refletir sobre a papel das cidades como principais agentes no combate às mudanças no clima. Os participantes comentaram esforços de governos locais para conter as emissões de gases do efeito estufa e debateram exemplos de ações para construir a resiliência climática urbana.

Participantes da sessão organizada pela Cities Alliance (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
As cidades estão no coração da luta contra as mudanças climáticas, assinalou o prefeito de Joanesburgo, Parks Tau. Temos, portanto, a oportunidade e o dever de agir para encontrar soluções urbanas viáveis para o novo cenário climático: “Uma cidade tem de atender as necessidades da população – é isso o que procuramos fazer. Se nesse momento a necessidade é criar novas soluções para reduzir emissões e mitigar as mudanças climáticas, precisamos trabalhar para desenvolvê-las”.
Apesar de configurarem talvez um maior desafio que o mundo já teve em mãos, as mudanças climáticas também trazem uma grande oportunidade: a de as cidades dialogarem e trabalharem juntas. Só por meio do trabalho conjunto, seja entre diferentes setores ou entre diferentes cidades, seremos capazes de implementar mudanças concretas. Mas isso precisa acontecer antes que seja tarde demais: “Estamos enfrentando hoje as consequências de não termos feito nada nos últimos anos. Falamos em deixar um mundo melhor para nossos filhos e para as próximas gerações, mas quando vamos começar a fazer isso?”, questionou Luiz de Mello, Vice-diretor de Governança Pública da OECD. Como disse nesta mesma COP o Diretor Geral do GGGI, Yvo de Boer, não podemos esperar outros trinta anos.