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Cidades na COP 21: o poder de transformação do Compacto de Prefeitos e o financiamento das ações climáticas

Em cinco dias na COP 21, somos inundados por conteúdo e conhecimento. A cada sessão, painel e evento, novos aprendizados são transmitidos por uma gama de vozes tão vasta quanto sábia. Em comum, todas essas vozes têm um discurso: o papel fundamental ocupado pelas cidades. As mudanças climáticas precisam de uma resposta em nível global. No entanto, para que sejam efetivas, as ações precisam começar em escala local.

Na sessão organizada pelo C40 e pela Realdania, o Cities & Regions Pavilion recebeu hoje (5) prefeitos e representantes das primeiras cidades a assinarem o Compacto de Prefeitos. Eles compartilharam suas experiências na implementação de ações climáticas e os resultados gerados a partir das mudanças, como apontou a Susana Muhamad, Secretária Geral da Prefeitura de Bogotá: “É incrível observar como a dinâmica da cidade muda quando são feitas as intervenções necessárias. Nossos esforços são fundamentais e estão ajudando a reduzir as emissões em todo o planeta e a dar os primeiros passos para o futuro de baixo carbono”.

Além de Susana, também trouxeram suas contribuições os prefeitos Frank Jensen, de Copenhague; Erik Lauritzen, de Sonderborg; Michael Ziegler, de Høje-Taastrup; e Steve Adler, de Austin. Thomas Egebo, Secretário do Ministério de Energia e Clima da Dinamarca, e Sarah Allingham, Gerente de Projetos Sênior da Viegand Maagøe, participaram do painel que debateu o potencial da integração vertical, com exemplos de como agências nacionais na Dinamarca estão promovendo o acesso aos dados para que as cidades possam se valer dessas informações em seus relatórios de resultados e requerimentos no Compacto de Prefeitos.

Compacto de Prefeitos: cidades comprometidas com o clima (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Hoje, essas cidades já são exemplos dos impactos positivos que políticas climáticas podem gerar na prática, mas todas começaram do zero em algum momento. “Quando falamos em aplicar essas mudanças, não falamos apenas da oportunidade de ser uma “cidade verde”: é a oportunidade de garantir o futuro das cidades. Precisamos continuamente buscar e implementar novas soluções. Além de liderar, as cidades precisam cada vez mais aprender umas com as outras”, destacou o prefeito de Copenhague, reconhecida mundialmente pela mobilidade sustentável.

O Compacto de Prefeitos é a maior iniciativa de articulação de cidades do mundo e reúne lideranças municipais que se comprometeram a reduzir suas emissões, mapear o progresso e se preparar com consistência para os efeitos das mudanças no clima.  Além de reforçar as metas já existentes, pretende conduzir ações mais robustas no combate às mudanças no clima e unir esses esforços em um relatório amplo e transparente do trabalho realizado em suas cidades. Contudo, para que essas realizações sejam positivas, as cidades precisam estar inteiras no compromisso de agir para mitigar as mudanças climáticas e cientes do que isso implica: “Ninguém pode dizer que fazer o que é bom para o meio ambiente é ruim para os negócios. Estamos falando de consertar nossos estragos e assegurar nossa existência e a de nossas cidades no futuro”, enfatizou o prefeito de Austin.

Peter Calthorpe, reconhecido planejador urbano, escreveu que “o combate às mudanças climáticas parece um pouco com a guerra às drogas; você pode ir atrás do fornecedor – usinas de energia movidas à carvão – ou pode perseguir os viciados – construções ineficientes e espraiamento urbano. Ambos serão necessários”. Para assegurar a viabilidade de nossas cidades no futuro, não bastam ações isoladas – é preciso agir de forma integrada e abrangente. O desenvolvimento urbano sustentável é a chave para o futuro de baixo carbono, e as cidades estão no centro dessa luta.

(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Mudanças precisam de financiamento

Responsáveis por três quartos das emissões de gases do efeito estufa, as cidades têm o poder e também o dever de assumir a responsabilidade e liderar o caminho rumo ao futuro de baixo carbono. A luta contra as mudanças climáticas, porém, tem o seu preço. Na manhã de ontem, Eduardo Paes chamou atenção para uma parcela desse valor – das mais de nove mil ações climáticas em curso atualmente no mundo, apenas 450 exigem o investimento de 2,8 bilhões de dólares.

Encontrar maneiras de viabilizar esses investimentos também faz parte do desafio que as cidades têm em mãos, e foi esse o assunto tratado na sessão “Como deve ser o financiamento do clima?”, organizada pelo World Resources Insitute (WRI). Andrew Steer, Presidente e CEO do instituto, moderou a conversa entre Ubaldo Elizondo, Coordenador de Mudanças Climáticas da CAF; Abyd Karlmali, Diretor Administrativo do Bank of America Merril Lynch; Charlotte Petri Gornitzka, Diretora Geral da SIDA; Andrea Ledvard, Chefe do Departamento de Clima e Meio Ambiente do DFID; e Ramón Méndez, Diretor de Mudanças Climáticas do Minsitério do Meio Ambiente do Uruguai.

Andrew Steer, à esquerda: financiamento é parte do desafio das cidades no combate às mudanças climáticas (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

A discussão foi focada em como o financiamento de ações climáticas pode ser utilizado para catalisar as mudanças de que nossas cidades precisam para poder, de fato, enfrentar o desafio de mitigar as mudanças climáticas. Em uma conversa que aconteceu às vésperas do lançamento do novo estudo do WRI, “Financiamento climático transformacional: explorando a energia de baixo carbono”, os painelistas discutiram que “cara” essas mudanças terão em diferentes setores, de transportes a agricultura.

“Hoje, felizmente, há uma forte visão de que os investimentos no clima são necessários. Há espaço para isso e vontade de que aconteça por parte das pessoas. Mas tudo vai depender de planejamento, desde planos construídos nacionalmente até a capacidade de financiá-los”, comentou Andrew. O movimento não é simples. Se, por um lado, para ser efetivo, o acordo firmado durante a COP em Paris vai precisar de financiamento, por outro ainda não está claro para muitas cidades como conseguir esses recursos. “Esse é um dos motivos de estarmos aqui”, comentou, “ainda não é fácil fazer as coisas acontecerem. Precisamos pensar fora da caixa e descobrir maneiras de trabalhar junto ao setor financeiro”.

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