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Cidades na COP 21: planejamento é a chave para vencer a crise climática

Nos ônibus que levam e trazem todos os participantes da COP 21 ao Le Bourget, área ao norte de Paris onde ficam os pavilhões da Conferência, ouvimos quatro, às vezes cinco ou até mais línguas ao mesmo tempo. Em um vaivém frenético, pessoas de todas as partes do mundo percorrem os corredores da Green Zone. Elas vêm de diferentes cidades, e sobre as expectativas de cada uma para o futuro dos centros urbanos não podemos afirmar certezas – senão que encontram na COP o ambiente ideal para o diálogo e o aprendizado.

Parcela significativa desses diálogos acontece no Cities & Regions Pavilion, como contamos aqui ontem, o espaço dos debates sobre a participação das cidades no combate às mudanças climáticas e na construção de um futuro mais sustentável. Nesta quarta-feira (2), a programação do dia teve início com as palavras de Alex Minshull, Gerente de Sustentabilidade de Bristol, que veio à COP para contar sobre como a cidade inglesa, eleita este ano a primeira Capital Verde Europeia do Reino Unido, trabalha agora para desenvolver a resiliência.

O que Bristol está fazendo para assegurar seu futuro? A resposta a essa pergunta não é única – ao contrário, como mostrou Minshull, vem do trabalho realizado em várias frentes de atuação –, mas começa com o projeto 100 Resilient Cities, da Rockfeller Foundation, para o qual a cidade foi selecionada.

(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Com foco na construção de comunidades urbanas sustentáveis, a cidade estabeleceu padrões ambientais e metas ambiciosas para o desenvolvimento sustentável. O planejamento integrado norteia as ações da cidade, que se dividem em cinco grandes áreas – natureza, energia, alimentação, recursos e transportes. “Sem deixar de incluir a população no processo. Transparência, informações confiáveis e comunicação são fatores fundamentais para uma cidade avançar na sustentabilidade com apoio de seus cidadãos”, destacou Minshull. Uma vez eleita a European Green Capital do ano, portanto, Bristol fez um vídeo de agradecimento a seus moradores pelas atitudes cotidianas que contribuíram para que a cidade fosse vencedora.

 

 

A resiliência, Minshull acrescenta, na medida em que contribui para a superação, a adaptação e o crescimento a partir de abalos, torna as cidades mais prósperas. Por isso, Bristol assume agora o objetivo de se tornar exemplo global de sustentabilidade e resiliência, traçando a trajetória que deve ser percorrida pelos próximos 50 anos: “As decisões tomadas hoje precisam ter um a perspectiva de longo prazo para que possamos garantir cidades viáveis para as próximas gerações”.

O que podemos aprender com as cidades asiáticas

Prestando atenção aos riscos, as cidades podem se prevenir para evitar que fenômenos extremos causem estragos ainda maiores. Particularmente expostas aos efeitos das mudanças climáticas por conta de sua localização geográfica, as cidades asiáticas trazem consigo experiências que podem ser aprendizados importantes para diversas outras áreas urbanas no mundo.

O desenvolvimento de grande parte das cidades na Ásia, semelhante ao caso das brasileiras, foi marcado pelo rápido processo de urbanização, acompanhado pelo crescimento econômico, mas também pelo aumento das taxas de motorização. Como resultado, vieram também o crescimento das emissões de gases do efeito estufa, o espraiamento urbano e os impactos negativos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população urbana.

Na sessão “Resiliência climática e gestão de riscos de desastres em cidades asiáticas”, organizada pela OECD, foi esse o tópico de discussão. Os desafios políticos para o fortalecimento da resiliência precisam ser enfrentados pelos governos municipais para que soluções eficientes e efetivas sejam de fato implementadas. Marcio Lacerda dividiu com os colegas de painel e com o público um pouco da experiência de Belo Horizonte, agraciada com o Prêmio Sasakawa, um reconhecimento pela excelência na redução de riscos.

As cidades precisam estar preparadas para o crescimento populacional e as demandas que surgem a partir dele – mais infraestrutura, maior oferta de serviços e a necessidade de uma gestão ampla, capaz de lidar com todas essas questões. Para avançar na agenda climática, complementa o prefeito brasileiro, o caminho é planejar: “O planejamento integrado é crucial para desenvolver a resiliência e lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Belo Horizonte foi reconhecida pelo trabalho que vem realizando, mas é importante reforçar: esse é um trabalho que não cessa. É preciso sempre levá-lo adiante”.

Para vencer a crise climática, uma nova economia

“Precisamos mudar radicalmente o estilo de vida ao qual estamos acostumados”.

A força das palavras de Andrew Steer, Presidente e CEO do WRI, representa as dimensões do desafio imposto pelas mudanças climáticas. Décadas de cidades projetadas para o automóvel levaram ao aumento da poluição, intensificando os efeitos que as mudanças no clima exercem sobre as cidades. Até 2050, as áreas urbanas devem triplicar de tamanho, e as cidades precisam colocar em prática um novo modelo de desenvolvimento para assegurar o próprio futuro.

(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

No painel realizado pelo WRI, “Cidades melhores em uma nova economia climática”, Ani Dasgupta, Diretor do WRI Ross Center for Sustainable Cities; Marcio Lacerda, Prefeito de Belo Horizonte; Yvo de Boer, Diretor Geral do GGGI; Naoko Ishii, CEO do GEF; e Clay Nesler, Vice-presidente de Sustentabilidade da Johnson Controls, debateram os impactos das mudanças climáticas na economia e maneiras de reverter um problema de proporções globais.

(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Nenhuma das maiores 50 cidades do mundo atinge os padrões de qualidade do ar. E o espraiamento dos centros urbanos, resultado do veloz processo de urbanização pelo qual muitas cidades passaram nos últimos anos, custa anualmente à economia dos Estados Unidos 1 trilhão de dólares. “Mas um modelo diferente de desenvolvimento é possível”, apontou Andrew. A sigla 3C designa o modelo de planejamento capaz de beneficiar econômica, social e ambientalmente as cidades.

Cidades compactas e conectadas, com crescimento coordenado, são a chave para a sustentabilidade que queremos ver e viver no futuro e da qual depende nossa própria sobrevivência. Fechar os olhos para os estragos causados pela forma como as cidades foram planejadas até aqui tem um preço alto – e a conta já começou a ser cobrada: “Eu estava lá há trinta anos quando as mudanças climáticas começaram a ser discutidas. O mundo não pode esperar outros trinta anos para mudar”, declarou Yvo de Boer.

Todos os dias, milhares de pessoas visitam a Green Zone na COP 21 (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

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