“Entrar na COP 21 é como entrar em um país.” O comentário refere-se ao procedimento de entrada nos pavilhões da COP 21: para acessar os diferentes espaços destinados à programação da Conferência, é preciso apresentar documentos e passar por um detector de metais, como nos aeroportos. Alguns minutos do lado de dentro, porém, são suficientes para percebermos que de fato entramos em um novo país.
Dentro da Green Zone, onde estão as Climate Generations Areas, respiram-se clima e sustentabilidade. Em todas as línguas, esse é o assunto que une as milhares de pessoas que circulam pelos 27 mil metros quadrados de área do local. E até dia 9, quarta-feira, o TheCityFix Brasil trará os principais destaques da área verde da COP 21.
Aberta, a Green Zone comporta uma série de ambientes para atender ao público da COP. Três áreas de exposição reúnem os estandes de empresas e organizações cujo trabalho é focado na sustentabilidade. Nas salas fechadas, acompanham-se as sessões do dia, e uma ampla área comum é destinada à alimentação, a espaços de descanso e mesas para trabalhar. Até o encerramento da Conferência, quem passar pelo pavilhão terá a oportunidade de explorar o conteúdo de 120 estandes, assistir a quase 400 apresentações e percorrer diversas exibições interativas.

Espaço coletivo no pavilhão das Climate Generations Areas (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
A voz das cidades
Onde todos têm seu espaço, não faltaria uma área reservada às cidades. É o Cities & Regions Pavilion, cenário para uma série de sessões focadas no trabalho e potencial dos centros urbanos e onde assistimos à abertura das atividades na Green Zone. George Ferguson, prefeito de Bristol (Inglaterra); Patrick Klugman, Vice-prefeito de Paris; e Marcio Lacerda, Presidente da Frente Nacional de Prefeitos e Prefeito de Belo Horizonte, estavam juntos para dar o pontapé inicial no debate que é marca da COP deste ano: a participação das cidades nas discussões globais sobre o clima.

Marcio Lacerda durante a sessão de abertura na área das cidades (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
We are ready! Nós estamos prontos. Transmitida já no nome do painel, a mensagem assinala o que iniciativas como o Compacto de Prefeitos já nasceram para confirmar: as cidades estão aptas a assumir a responsabilidade de agir e colocar em prática as medidas necessárias para reduzir emissões e mitigar os efeitos das mudanças no clima.
A COP 21 une nas mesmas mesas de discussões chefes de estado e representantes de nações de todas as partes do mundo. Juntas, essas pessoas buscam construir o acordo climático que deve substituir o Protocolo de Kyoto, com metas e ações claras e contundentes para os 196 países que atendem à Conferência. “Estamos aqui e aqui nos encontraremos até o dia 11 para discutir soluções e encontrar caminhos para melhorar nossas cidades. Esperamos que venha da Blue Zone [área restrita] um acordo climático forte o suficiente e com o poder necessário para assegurar as mudanças de que as cidades tanto precisam”. As palavras do prefeito de Bristol sintetizam a expectativa dos líderes municipais. Afinal, é nas cidades, onde vive a maior parte da população do planeta, que as medidas acertadas durante a conferência global precisam ser aplicadas para que as mudanças sejam possíveis.
Na COP 21, que foi considerada um “momento histórico” pelo vice-prefeito de Paris, as cidades ganharam voz. As áreas urbanas são, cada vez mais, parte das discussões climáticas globais – elas podem e devem ser protagonistas no combate às mudanças climáticas para que as próximas gerações tenham um futuro melhor. Sobre isso, conversamos com Marcio Lacerda. Na visão do prefeito de Belo Horizonte, as cidades têm em mãos um desafio de grandes proporções: “Precisamos de uma articulação sólida entre os governos regionais, mas estamos mobilizados em nosso compromisso com o clima e com as próximas gerações”.
Qual o senhor entende ser o papel das cidades no combate às mudanças no clima?
Finalmente, depois de alguns anos, a ONU e outras instâncias globais de governo chegaram à conclusão de que as cidades são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e para a luta contra as mudanças climáticas. Há muito tempo as cidades vêm reivindicando esse protagonismo. Buscam não apenas serem reconhecidas como agentes efetivos nesse processo de mudança, mas também a participação nas decisões globais sobre outras políticas que afetam a vida dos países e, portanto, das áreas urbanas. As cidades absorvem uma parcela cada vez maior da população – no Brasil, esse índice já é de 83%; no sudeste, passa de 90%; e o mundo, em 2050, deve ter 70% da população vivendo em cidades. O papel das cidades nessa luta finalmente foi considerado, inclusive pelo Papa, em um momento histórico, que convidou apenas prefeitos para falar de sua encíclica. Tudo isso contribuiu para o reconhecimento da importância dos governos locais e, agora, muitas cidades estão aqui: participando ativamente da COP 21.
Como encorajar a população a adotar hábitos mais saudáveis e a participar desse processo?
A sustentabilidade envolve não só questões de clima, mas também de emprego e renda, indicadores sociais de maneira geral, infraestrutura, a cultura como manifestação e modo de vida. Na medida em que as pessoas respeitam suas origens e sua identidade, tornam-se mais abertas a adotar hábitos mais sustentáveis e ações de interesse comunitário. As pessoas precisam se respeitar e respeitar o lugar onde estão para respeitar o meio ambiente. Ainda, outro fator importante para a sustentabilidade é a política. Porque sem democracia – sem participação popular nas discussões políticas a respeito de sua vida e de seu destino – não há sustentabilidade. Os prefeitos podem fazer muita coisa, mas esse fazer depende da democracia.
Que ensinamentos da COP 21 espera levar para belo Horizonte?
O que se leva daqui, e que é também o que desejamos que aconteça, são compromissos reais. Compromissos com base legal e verificáveis em todos os países, para que cada um faça a sua parte. A indústria do baixo carbono tem um amplo espaço para crescer e se desenvolver, substituindo fontes não renováveis de energia. Isso, é claro, depende de coordenação estadual, federal e global – de negociações, de investimento em tecnologia e de financiamento. Mas, se todas as cidades conseguirem atuar dentro de seus espaços no combate às mudanças no clima, certamente teremos muitos avanços.
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Exemplos de sustentabilidade da Green Zone
O pavilhão público da COP 21 é uma atração por si só. Sustentabilidade é a palavra de ordem, e em todos os ambientes da Green Zone vemos o discurso aplicado na prática. Para contribuir, somos convidados, por exemplo, a guardar nossas garrafinhas de água e a trazê-las todos os dias, reabastecendo-as à vontade nos bebedouros do pavilhão.
Podemos pedalar para recarregar os celulares e ouvir música no Solar Sound System. Lixeiras para os diferentes tipos de resíduos são encontradas em toda parte. E as estruturas que mobiliam grande parcela das áreas comuns foram construídas a partir de matérias-primas sustentáveis.
Antes de ir embora, duas árvores dão às pessoas a oportunidade de deixar uma mensagem e levar consigo compromissos de sustentabilidade. Na primeira, post-its coloridos reúnem os recados e mensagens de quem passou pelo pavilhão. Na segunda, os laços pendurados carregam os compromissos das pessoas. Para amarrar sua fitinha, você se compromete a levar adiante e cumprir a promessa de outro colega.
Entre expectativas de um futuro mais sustentável e milhares de pessoas dispostas a fazer parte da mudança, encerramos nosso primeiro dia na COP 21 com dois ingredientes fundamentais: a inspiração necessária para seguir em frente e a certeza de que, juntos, podemos contribuir para transformar a realidade das cidades.
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