Na noite dessa quarta-feira (24), diferentes olhares foram lançados sobre a mobilidade. Nas três sessões que faziam parte da programação do dia na Virada da Mobilidade, o assunto foi debatido com o público presente no Armazém Cultural a partir de três perspectivas distintas – a arborização, a colaboração e a utilização dos espaços públicos.
O arquiteto Augusto Aneas apresentou o projeto Rede Verde São Paulo, no qual propõe um novo design para as vias urbanas a partir do conceito de ruas verdes. O trabalho de Augusto discute o papel que pode ser desempenhado pela arborização das ruas, quando as árvores são consideradas elementos estratégicos da paisagem e do planejamento urbanos. A ideia é conectar as diferentes áreas verdes da cidade por uma rede de ruas verdes – plenamente arborizadas, com espaços de circulação que privilegiem pedestres e ciclistas.
A partir do mapeamento dos parques e praças de São Paulo, Augusto estruturou uma rede de conexões entre eles, dando forma à rede verde que nomeia seu trabalho. “São Paulo é a cidade onde moramos – com todos os seus defeitos, mas também com tantas qualidades. Criar espaços melhores para as pessoas a partir de uma cidade mais conectada e mais verde é essencial para melhorar o dia a dia no ambiente urbano”, apontou. Para o arquiteto, eventos como a Virada da Mobilidade, que promovem encontros e debates, ocupam uma posição fundamental no processo de transformação de São Paulo: “Acho importantíssimas iniciativas como essa, que criam oportunidades e abrem espaço para colocar as ideias em discussão, mostrar as alternativas e debater. Estou muito feliz de poder contribuir com esse movimento e estar aqui hoje, fazendo a minha parte para construir redes também entre as pessoas”.

Augusto Aneas, arquiteto, idealizador do projeto Rede Verde São Paulo (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Uma cidade mais conectada depende também de colaboração. Esse foi o viés abordado por Adriano Ortolani, representante do projeto Cidade Colaborativa, que promove ações e projetos colaborativos a partir de um questionamento-chave: por que ter quando você pode compartilhar?
Com a profusão de aplicativos disponíveis hoje, a tecnologia abriu novas portas para a economia colaborativa. A Cidade Colaborativa busca promover a colaboração como forma de conectar as pessoas umas com as outras, com as cidades e com os serviços de que necessitam. Para isso, lançou o guia Cidade Compartilhada, com 100 projetos colaborativos em dez áreas, entre elas a mobilidade.
Adriano apresentou um panorama da economia colaborativa no país e destacou: a cooperação entre as pessoas é uma das bases necessárias para uma boa convivência no ambiente urbano: “Projetos colaborativos aproximam as pessoas e facilitam muitos aspectos da vida em sociedade. Em termos de mobilidade, tanto as pessoas quanto as cidades podem ser beneficiadas. Os mapas colaborativos, em que todos são livres para compartilhar informações, são um exemplo disso. É essa noção de coletividade que ajuda a tornar a cidade melhor”.
Encerrando a roda de discussões da noite, o historiador Célio Turino falou ao público sobre a ocupação e o uso dos espaços públicos na cidade.
“Locomover-se na uma cidade não é apenas uma questão de movimento: é um estar em diferentes espaços públicos”. A partir desse entendimento, o painel debateu a importância dos espaços públicos como áreas de desenvolvimento e promoção da cultura, capazes de gerar uma convivência mais harmoniosa e democrática nas cidades.
O historiador chamou a atenção do público para como nosso estilo de vida – nossos hábitos de consumo de bens e recursos, a maneira como nos locomovemos – impacta diretamente a dinâmica das cidades. Na visão de Célio, essa relação entre as pessoas e os espaços da cidade é determinante – tanto para a mobilidade quanto para a sustentabilidade: “É no resgate a um estilo de vida mais sustentável que vamos conseguir melhorar a mobilidade. E para romper essas barreiras – de comportamento, de hábitos – é imprescindível a mudança de atitude, porque a mudança começa por nós”.