
Cruz simboliza a fé católica no alto do morro em favela brasileira. Papa Francisco faz apelo para um futuro mais sustentável das cidades. (Foto: Chico Ferreira/Flickr)
Por Andrew Stokols*
O Papa Francisco está provando ser o primeiro “papa ambientalista”. Acontece que ele também pode ser considerado o primeiro papa urbanista – sem contar o Papa Urbano I do século III.
Hoje é um marco importante para o esforço global no combate às mudanças climáticas com o apoio declarado do Papa, que emitiu uma declaração encíclica pedindo ao mundo para buscar o desenvolvimento sustentável e clarificando a ligação entre o ensinamento católico e o ambientalismo. Como parte deste documento abrangente critica a incapacidade do capitalismo moderno em criar ambientes saudáveis e justos, o Papa Francisco também enfatiza a importância das cidades na criação de um mundo mais saudável e mais equitativo.
Ele escreve no Capítulo 1 (O que está acontecendo com o nosso lar) que “atualmente, por exemplo, estamos conscientes do crescimento desproporcional e desregrado de muitas cidades, que se tornaram ambientes insalubres para se viver, não apenas por conta da poluição causada pelas emissões tóxicas, mas também por consequência do caos urbano, do transporte sem qualidade e da poluição visual e sonora. Muitas cidades são grandes estruturas ineficientes que desperdiçam excessivamente energia e água. Os bairros, mesmo aqueles recém construídos, são congestionados, caóticos e sem espaços verdes agradáveis. Não fomos feitos para sermos inundados por cimento, asfalto, vidro e metal, e privados do contato físico com a natureza”.

Papa Francisco em recente encontro com organizações ambientais em Roma. (Foto: WRI)
Para aqueles que já trabalham com urbanismo sustentável, nada disso é novidade. Mas este pensamento vindo da própria Igreja Católica, uma instituição que orienta o respeito moral de milhões de católicos pelo mundo, é um momento importante.
Como primeiro papa do Hemisfério Sul, a experiência de vida do Papa Francisco lhe mostrou os problemas do desenvolvimento insustentável. Nascido como Jorge Mario Bergoglio, na Argentina, Francisco viu de perto a pobreza urbana na América Latina ao longo de sua jornada, comumente visitando os moradores de favelas em Buenos Aires, ou villas miseria, como são chamadas no país.
A encíclica, além de focar na degradação ambiental e pobreza, também contém uma crítica mais sutil ao fracasso de ambientes urbanos modernos ao atender às necessidades das pessoas, em termos de comunidade e identidade cultural: “A pobreza extrema de áreas sem harmonia, espaços abertos ou potencial de integração, pode levar a casos de brutalidade e à exploração por organizações criminosas. Em bairros instáveis de megacidades, a experiência diária de superlotação e anonimato social pode criar uma sensação de desenraizamento que gera um comportamento antissocial e violência. No entanto, gostaria de insistir que o amor sempre se mostra mais poderoso”.
O Papa continua fazendo um apelo por investimentos em transporte público acessível, habitações a preços acessíveis, e para reinvestir em comunidades carentes em vez de demoli-las. Algumas pessoas nos EUA podem criticar o Papa por ultrapassar seus limites teológicos. Mas, dado o número crescente de católicos em rápido desenvolvimento na Ásia e na África, o apoio do Papa para o desenvolvimento urbano sustentável deve ter o maior impacto onde tais ideias são mesmo mais necessárias.
* Publicado no TheCityFix em 18/06/2o15.