No nordeste do Brasil, travou-se uma batalha para proteger um dos habitats urbanos mais únicos do país: o Parque Ecológico do Cocó, que possui 1155 hectares no coração de Fortaleza, a quinta maior cidade do país. Estabelecido em 1991, após esforços de grupos locais de conservação, o parque é agora um importante espaço de recreação e conexão com a natureza para a cidade de 2,5 milhões de habitantes. Ele também é vital como um dos poucos parques de mangues do mundo, e o Rio Cocó é uma fonte chave de água no árido Estado do Ceará.
No passado recente, porém, o parque sofreu uma série de ameaças. Em 2013, oficiais municipais anunciaram planos de construir um viaduto que iria cortar o coração do parque, o que gerou protestos de massa entre os cidadãos de Fortaleza. No que foi anunciado como uma justaposição clássica de natureza versus progresso, a cidade foi confrontada com a escolha entre proteger seus recursos naturais e prover infraestrutura para atender às crescentes necessidades de mobilidade.
Dois anos mais tarde, o que começou como uma manifestação contra um projeto específico ainda é uma luta travada dos cidadãos que buscam soluções de mobilidade que não comprometam a preservação ambiental. Então quais são as soluções que podemos aprender com essa história?
A urbanização deixa pouco espaço para crescer
As autoridades originalmente citaram os esforços para reduzir congestionamentos como a razão primária para a expansão da rodovia até o parque. Enquanto defensores ambientais sentiram outras motivações, não há como negar o papel da rápida expansão e necessidades de mobilidade urbana em Fortaleza neste debate.
Entre 1991 e 2010, houve um aumento populacional de 38% ao mesmo tempo em que índices de posse do carro dispararam pelo Brasil. Em 2013, com um crescimento projetado para continuar, problemas de trânsito sem horizonte para ter fim e a Copa do Mundo chegando, gestores municipais precisavam de uma solução rápida.
Mas os defensores locais questionaram se essa solução realmente precisava cortar o recurso ecológico mais valioso da cidade. Propuseram múltiplas alternativas centradas em opções de mobilidade urbana mais abrangentes, com foco na expansão do sistema de ônibus e de infraestrutura cicloviária adicional. Apontando as consequências ambientais do viaduto planejado, os oponentes ao projeto conseguiram bloqueá-lo através da justiça federal em agosto de 2013. Apenas uma semana mais tarde a decisão foi derrubada e a construção autorizada a continuar. Ao mesmo tempo, cerca de 200 manifestantes que ocupavam o parque foram forçadamente removidos pela polícia, levando a um confronto violento que levantou a bandeira para os defensores dos direitos humanos no país.
Com o caminho legal limpo, a cidade prosseguiu com a construção do viaduto como planejado, e o projeto foi concluído em novembro de 2014.
Em 2015, uma abordagem mais equilibrada para o crescimento
Hoje, a cidade é confrontada exatamente com o mesmo problema. O crescimento populacional e a motorização estão novamente entupindo as veias do parque pelo viaduto. Mas desta vez, os líderes municipais estão adotando uma abordagem diferente para este desafio.
A história provou que os oponentes ao projeto do viaduto estavam corretos ao afirmar que expandir espaço para carros somente encorajaria mais motoristas a dirigir, em vez de resolver o problema de longo prazo dos congestionamentos. Com os defensores do parque apontando essa lógica e gestores ansiosos por evitar outra série de protestos massivos, a cidade está explorando soluções mais holísticas.
Em vez que construir novas rodovias pelo parque, a cidade começou a construção de dois novos túneis que vão passar por debaixo dele. Os túneis serão construídos de forma a minimizar os impactos na vegetação, animais e na qualidade da água do rio.
Mais importante, Fortaleza está olhando para além da infraestrutura para carros na busca para prover uma melhor mobilidade. O espaço do viaduto existente e dos novos túneis está dedicado agora ao BRT (Bus Rapid Transit), uma onda de reformas para o viaduto e expandiu-se a infraestrutura para pedestres e construiu ciclovias que conectam o parque às praias da cidade.
Enquanto a cidade poderia ter poupado milhões de dólares e trabalho civil significativo, buscando uma estratégia de mobilidade urbana mais equilibrada desde o início, a experiência vivida por Fortaleza detém lições valiosas para cidades em todo o mundo. Para o crescimento em longo prazo e a sustentabilidade, trocar a preservação ambiental pelo desenvolvimento não é uma opção. Porque, no fim, cidades orientadas pelas pessoas atingem ambas essas coisas.
Publicado originalmente em inglês no TheCityFix.