
Duas propostas distintas para o Cais do Porto apresentam desde complexo com shopping center e torres a parque e transferência do muro que hoje separa o patrimônio dos cidadãos. (Foto: marcusrg/Flickr)
O pôr do sol no Guaíba, a Usina do Gasômetro e o Cais do Porto são símbolos icônicos da capital do Rio Grande do Sul que leva a palavra porto no nome. Porto Alegre é uma cidade cheia de vida e seu principal patrimônio histórico e cartão postal não deveria ser diferente. No entanto, ele está fechado para visitação desde que a obra teve início, em 2013.
De um lado, a gestão municipal abriu licitação e contratou um consórcio para revitalizar a área que, bom ou ruim, se esqueceu de um fator crítico para o sucesso da obra que será o legado da capital: os próprios cidadãos, que ficaram de fora de todo o processo e são as pessoas que vivem e utilizam o principal espaço público da cidade.
Do outro lado da mesa, o engajamento social liderado, principalmente, pelo coletivo Cais Mauá de Todos está levantando a voz daqueles que querem ter sua identidade preservada: os porto-alegrenses. Para eles, não há nada mais justo, afinal, do que incluir quem mais entende do espaço – quem o utiliza – para contribuir de forma conjunta com a gestão pública num processo de governança. O ganho é para todos, porque, quando há troca entre cidadãos e prefeitura, o processo é legítimo e ganha respaldo social e legal com facilidade para seguir adiante sem grandes barreiras.
Nesse meio tempo, surgiram duas propostas para a revitalização do espaço dos porto-alegrenses. Uma delas, contratada pela prefeitura por meio de concessão pública e sem discussão com a população; a outra, proposta pelo coletivo Cais Mauá de Todos, com a participação de arquitetos, sociólogos, historiadores, advogados e sociedade porto-alegrense em geral.
Nossa intenção não é criticar nem um, nem outro projeto. A ideia é apresentar como cada uma das propostas foi pensada – acreditamos que, quanto mais o espaço público for debatido sob diferentes perspectivas, mais enriquecedor se torna o processo de revitalização e transformação.
(Conheça a história e a cronologia do Cais Mauá)
1. O Porto ganha shopping center e torres comerciais
O projeto vencedor da licitação pública propõe a integração da área das docas com o rio e as pessoas. Mas existem duas polêmicas acerca dele: primeiro, que a população ficou de fora de qualquer debate. Segundo, que foi proposta, numa extremidade do Cais, próxima à rodoviária da capital, a construção de duas torres comerciais – de 20 e 14 andares. Na outra extremidade, onde fica a Usina do Gasômetro, um hotel com 20 andares, um shopping center de 13 mil m² e um centro de convenções. Sociedade civil e cidadãos em geral argumentam que, por ser o patrimônio histórico mais importante da cidade, não precisa de infraestrutura deste tipo, pois podem ser aportados em outros locais da cidade. Os nove armazéns que serão mantidos no projeto abrigariam bares, restaurantes, lojas e espaços culturais. Para manter o fluxo noturno, uma possibilidade é instalar uma faculdade na área.
A pergunta é: Porto Alegre precisa mesmo de mais um shopping no lugar onde as pessoas querem ir para ver o por do sol e aproveitar o Rio Guaíba ao ar livre? Bom ou não, o projeto não seguiu adiante por depender de uma licença ambiental e, agora, a discussão foi reaberta.

Ao lado de shopping center, armazéns remanescentes abrigariam restaurantes e área comercial. (Foto: Escritório Jaime Lerner/divulgação)
2. Costura urbana por um Cais para Todos

“Plano B” para o Cais do Porto propõe parque e integração da cidade com o Rio Guaíba. (Imagem: Helena Cavalheiro/arquivo pessoal)
Manifesto Mauá: uma costura urbana no centro de Porto Alegre é o projeto da arquiteta Maria Helena Cavalheiro. Ele foi considerado adequado pelo coletivo Cais Mauá de Todos. Maria apresentou sua proposta num debate realizado na sexta-feira, 17, na Faculdade de Arquitetura da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foi graduada. Sua proposta prioriza os espaços públicos e principalmente a integração do Cais do Porto à cidade, mantendo suas características históricas e culturais. Exemplo é o muro de contenção de enchentes instalado na década de 40 que, no Manifesto, seria realocado para entre os armazéns e o Rio Guaíba, numa estrutura móvel erguida do chão somente em caso de necessidade.
Já a Av. Mauá, hoje tomada por carros e ônibus em alta velocidade, além de prédios cujo o primeiro andar abrigam uma série de estacionamentos, abriria espaço a área de convivência até a Usina do Gasômetro, se integrando com o Centro Histórico, onde estão o Mercado Público, Igreja das Dores, Praça da Alfândega e Casa de Cultura Mário Quintana. Já os carros da avenida passariam por um túnel e mais duas vias secundárias a fim de absorver o trânsito local. Além disso, o último trecho do trem que ali opera, entre as estações Rodoviária e Mercado seria desativada. Em vez dele, um sistema BRT (Bus Rapid Transit) assumiria o transporte, chegando até a Usina do Gasômetro. Baixe o trabalho no site da UFRGS.
Assista ao vídeo com a proposta do Cais Mauá de Todos:
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