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O papel-chave do setor de transportes para a qualidade do ar nas cidades

Poluição no horizonte de São Paulo. (Foto: Marlon Dutra)

A cidade é um organismo que depende do movimento de pessoas e cargas para oxigenar sua vida. Mas esta circulação essencial, se mal executada, pode comprometer a qualidade da vida urbana. Por exemplo, a motorização privada individual, responsável por menos de um terço das viagens realizadas nas cidades globais, responde por 73% das emissões de gases poluentes[1]. Tomando por base as emissões por habitante transportado, os veículos particulares geram três vezes mais gases de efeito estufa (GEE) que o transporte coletivo por ônibus. No Brasil, o setor de transportes foi responsável por 46,9% das emissões de CO2 associadas à matriz energética, apenas no último ano[2].

A urbanização do planeta apresenta o potencial de acelerar as mudanças climáticas. Estima-se que as emissões provenientes do setor de transportes dobrem até 2050[3]. Além de graves consequências ambientais, o impacto dos gases poluentes dos veículos automotores atinge de forma direta a saúde humana. Em 2012, 3,7 milhões de mortes prematuras foram atribuídas à poluição atmosférica[4]. Em São Paulo, além da redução de 1,5 ano na expectativa de vida, calcula-se um total de 7 mil mortes prematuras ao ano na região metropolitana e 4 mil na capital[5].

Os desafios ambientais impõem ações urgentes para reduzir o impacto negativo dos transportes na saúde das pessoas e das cidades. Um dos principais caminhos passa pelo melhor planejamento do crescimento urbano. O último relatório do IPCC[6] destaca a importância de promover a densificação e o uso misto do solo. É necessário estimular o crescimento urbano a partir do conceito da cidade “3C”: compacta, coordenada e conectada. Esta é a proposta da metodologia DOTS (desenvolvimento orientado ao transporte sustentável), que foca em investimentos para a adequação do espaço à escala dos pedestres e ciclistas, na oferta de um transporte coletivo seguro e eficiente[7], além da densificação dos espaços no entorno das estações e terminais que proporcionam boa conectividade e acessibilidade.

Estudo da rede EMBARQ aponta que 11 novos projetos de BRT no México, Colômbia, China, Índia e África do Sul apresentam potencial para reduzir as emissões em 31,4 milhões de toneladas de CO2 nos próximos 20 anos[8]. Esse montante equivale às emissões anuais de GEE de mais de 6,5 milhões de carros.

O Brasil tem como meta reduzir de 36,1% a 38,9% as emissões de carbono até 2020, de acordo com a Politica Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC)[9] . Para atingi-la, o país conta com um importante aliado: o investimento em infraestrutura de transporte urbano proporcionado pelos PAC[10] da Mobilidade. Com recursos captados junto ao Governo Federal, mais de oitenta cidades brasileiras entre médias e grandes têm agora a oportunidade de implantar corredores estruturantes do desenvolvimento urbano e, assim, potencializar a redução das emissões globais e locais. Espera-se que esses investimentos de fato priorizem o transporte não-motorizado e o coletivo sobre o individual motorizado e contribuam para frear a transferência de usuários do transporte coletivo para automóveis e motocicletas.

Estudo do Observatório do Clima[11] indica que o Brasil poderá cumprir com a meta voluntária de redução de emissões estabelecida pela PNMC, mas também sinaliza um preocupante aumento das emissões de gases de efeito estufa no setor de energia, que tem nos combustíveis fósseis consumidos pelo transporte a sua principal fonte geradora. São muitos os desafios para direcionar os planos e os investimentos a uma trajetória de redução de emissões em longo prazo. Mesmo assim, espera-se que as fontes adicionais de recursos – ora em negociação – para subsidiar os custos do transporte coletivo urbano sobre pneus, como os oriundos da venda dos combustíveis fósseis, proporcionem, também, a adoção de frotas mais limpas. A vida urbana precisa respirar melhor, com urgência.

 

 Artigo publicado na Revista NTU Urbano – Nov/Dez 2014.

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