Por Andrew Steer, publicado originalmente no Global Energy Affairs.
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Uma onda de crescimento populacional é esperada nas cidades, e nós precisamos estar prontos. Mais de 2 bilhões de pessoas devem migrar para as áreas urbanas até 2050. E garantir que essas cidades em crescimento sejam economicamente vibrantes e ambientalmente sustentáveis requer um novo tipo de desenvolvimento.
Cidades no mundo inteiro, contudo, devem gastar 3 trilhões de dólares a mais do que precisam em infraestrutura ao longo dos próximos 15 anos construindo comunidades do século XXI como se ainda fossem do século XX. Isso inclui muitas rodovias feitas para que muitos veículos particulares possam chegar a áreas de subúrbio distantes e energeticamente ineficientes, resultando em menos produtividade, mais poluição atmosférica e altos índices de emissão de gases do efeito estufa.
Existe um caminho melhor, e ele já está sendo percorrido, na medida em que líderes de cidades inteligentes percebem que os antigos modelos de desenvolvimento urbano não funcionam mais nem para as empresas, nem para as pessoas, nem para o meio ambiente. Em vez de construir cidades dispersas e dependentes do carro, esses líderes reconhecem os benefícios de criar comunidades compactas e conectadas, que tenham no transporte coletivo um componente essencial.
A necessidade é urgente. Na metade do século, dois terços da população global viverá em cidades e 90% desse crescimento urbano se dará em países em desenvolvimento. Isso significa que haverá 2,5 bilhões de pessoas a mais do que hoje vivendo em áreas urbanas. Estima-se que a China sozinha tenha 70% de sua população – um bilhão de pessoas – vivendo nas cidades até 2030.
As cidades precisam ser parte da solução para o problema do clima.
Esse extraordinário crescimento urbano está tomando forma em um cenário de transformação econômica. Estima-se que a economia global cresça mais de 50% nos próximos 15 anos, e os rápidos avanços tecnológicos devem continuar a mudar tanto o mundo empresarial quanto a vida das pessoas. Aproximadamente 90 trilhões de dólares devem ser investidos em três setores: urbanização, uso do solo e infraestrutura energética. Essa é uma das principais descobertas de um novo relatório, The New Climate Economy (A Nova Economia climática, leia mais aqui), o principal produto da Comissão Global de Economia e Clima (o WRI foi uma das oito instituições de pesquisa que contribuíram para as descobertas do relatório). Esses investimentos em infraestrutura vão moldar os padrões de crescimento ao longo de todo o século XXI e também depois.
Também no período compreendido pelos próximos 15 anos, a necessidade de reduzir consideravelmente as emissões de gases do efeito estufa será crítica. Se as emissões mantiverem a trajetória atual, o mundo vai atingir uma temperatura 2°C acima dos níveis pré-industriais até o fim deste século. As cidades atualmente são responsáveis por mais de 70% das emissões, de forma que planejar áreas urbanas de baixo carbono ajudaria a amenizar as médias de temperatura no mundo. Quanto mais demorarmos para agir, mais difícil e mais cara será a mudança.
As cidades precisam ser parte da solução para o problema do clima. A tecnologia e um melhor entendimento das políticas e do design urbano podem criar cidades maiores em termos de população, mas com menos emissões de carbono. Elas também podem ser mais compactas que muitas áreas urbanas do último século.
O transporte rodoviário, por exemplo, é um dos setores econômicos menos eficientes nas cidades. As estradas podem cobrir um quinto da superfície das cidades, mas operam em total capacidade em apenas 5% do tempo. Os carros são usados apenas 4% do tempo; e, na maior parte desse período, estão presos no trânsito ou procurando por estacionamento. Mesmo assim, espera-se que o número de veículos particulares passe do atual 1 bilhão para 2 bilhões até 2030.
Mas existem algumas tendências encorajadoras para o transporte urbano. O BRT (Bus Rapid Transit) leva ao melhor uso do espaço viário, com faixas dedicadas, pagamento antes do embarque e estações de design personalizado. Os sistemas BRT oferecem um meio de transporte coletivo mais rápido, barato e sustentável e beneficiam especialmente a classe média, em expansão nos países em desenvolvimento. Esses sistemas estão facilitando o transporte em 181 cidades no mundo – em 2002, eram apenas 45. Áreas livres de carros e programas de compartilhamento de bicicletas e veículos também ajudam.
Cidades mais sustentáveis também podem economizar dinheiro. Essa abordagem compacta e conectada de urbanização poderia reduzir os gastos necessários em infraestrutura em mais 3 trilhões de dólares ao longo dos próximos 15 anos, de acordo com o relatório New Climate Economy.
Esses benefícios não se restringem aos países em desenvolvimento. O relatório mostrou que países em todos os níveis de renda têm agora a oportunidade de planejar o crescimento econômico de longo prazo e, ao mesmo tempo, reduzir os riscos das mudanças climáticas. Mudanças estruturais e tecnológicas na economia global tornam isso possível a partir de mais oportunidades para aumentar a eficiência econômica. O capital para os investimentos necessários em infraestrutura está disponível, mas acessá-lo requer uma liderança política forte, credibilidade e políticas consistentes.
As cidades têm o potencial de reduzir as emissões anuais em oito gigatoneladas até 2050 – o equivalente à metade das emissões mundiais decorrentes o uso de carvão.
Algumas cidades já estão nesse caminho. Estocolmo, Copenhague, Hong Kong e Singapura, todas mostraram que com planejamento e design urbano eficientes e investimentos contínuos em transporte coletivo as economias urbanas podem crescer e simultaneamente reduzir as emissões de gases do efeito estufa e a poluição do ar. Os números comprovam: Estocolmo reduziu as emissões em 35% entre 1993 e 2010; no mesmo período, a economia da cidade cresceu 41%.
Mesmo as grandes cidades têm o potencial de mudar para um modelo mais sustentável. Na cidade de Houston, o argumento para a mudança é simples: os líderes municipais descobriram que as empresas lutam para atrair os funcionários mais talentosos porque os futuros empregados querem viver em um lugar com um núcleo urbano atrativo e uma rede multimodal de transportes. Como disse a prefeita de Houston, Annise Parker, “chega o momento em que não é suficiente apenas atrair as áreas de periferia. Você precisa fazer o sistema funcionar como um todo”.
Este é o momento para melhores cidades. Um pacto global de prefeitos, lançado durante a UN Climate Summit em setembro, chama atenção para o papel central que as cidades podem desempenhar na redução das emissões. As cidades que já traçaram metas voluntariamente estão no caminho de cortar as emissões em 454 megatoneladas até 2020. Juntas, as cidades têm o potencial de reduzir as emissões anuais em oito gigatoneladas até 2050 – o equivalente à metade das emissões mundiais decorrentes o uso de carvão.
Para encorajar essa tendência, precisamos colocar em prática as políticas certas e aumentar os recursos para cidades sustentáveis e compactas que tenham as pessoas, e não os carros, como prioridade. Fazendo isso, podemos criar áreas urbanas mais produtivas, tornar as ruas mais seguras e melhorar a qualidade do ar. Tais benefícios devem criar a vontade política para tornar essas mudanças realidade.
Com a visão de planejar cidades mais compactas e bem desenhadas e estabelecendo um curso para o desenvolvimento econômico sustentável, líderes urbanos podem assegurar que as pessoas possam chegar aonde precisam e aproveitem as vantagens de um centro urbano próspero. Uma nova onda de desenvolvimento sustentável para as cidades está se formando – seja parte dela!
Andrew Steer é presidente e CEO do World Resources Institute.