
Apesar de somar apenas 2% do uso do solo, as cidades contribuem com 70% das emissões globais de gases de efeito estufa. A UN Climate Summit coloca as cidades em evidência na agenda internacional de criação de um futuro mais sustentável. (Foto: ruimc77/Flickr)
Este post foi originalmente publicado em inglês, no TheCityFix.com.
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As lideranças municipais terão um papel-chave na UN Climate Summit, que acontece na próxima semana em Nova York e vai reunir governantes, prefeitos, empresários e representantes da sociedade civil em um esforço conjunto na construção de uma agenda internacional para combater as mudanças climáticas e aumentar a resiliência.
A janela de oportunidade para fazer progressos significativos na batalha contra as mudanças climáticas está encolhendo. Isso é verdade especialmente nas cidades, que devem passar a abrigar mais 1,4 bilhão de pessoas até 2030 e aumentar em trilhões de dólares os gastos em infraestrutura. Dado que 70% das emissões globais de gases de efeito estufa vem das cidades – e que essas mesmas cidades deverão suportar o peso maior dos impactos das mudanças no clima – qualquer acordo internacional precisa focar na urbanização como forma de incluir todo o escopo desse desafio.
A Climate Summit coloca as cidades no topo de uma agenda repleta de diferentes ideias para reduzir as emissões globais. Especificamente, os líderes municipais estarão frente a três linhas de ação em prol de cidades sustentáveis: construir adaptação e resiliência; calcular as emissões de gases de efeito estufa; e solucionar a lacuna de financiamento para o desenvolvimento urbano sustentável.
Adaptação urbana e resiliência
As cidades não são apenas as que mais contribuem para as mudanças climáticas em escala global; são também os lugares onde os efeitos negativos terão maior impacto. Estima-se que 360 milhões de moradores urbanos vivam em áreas propensas a sofrer com inundações, elevação do nível do mar e tempestades, intempéries que devem ser cada vez mais frequentes com o aumento nas temperaturas médias globais. Só a China tem 78 milhões de habitantes em áreas de rico, número que apresenta um crescimento anual de 3%.
Para proteger tanto as pessoas quanto seus bens, as cidades precisam de planejamento para a adaptação em longo prazo. Isso significa investir em infraestruturas de resiliência e inibir as emissões. Investimento é essencial, porque o custo de adaptação às mudanças climáticas para as cidades ao redor do mundo é estimado entre 70 bilhões e 100 bilhões de dólares por ano. Cidades em países em desenvolvimento são especialmente vulneráveis aos impactos das mudanças no clima, e prevê-se que terão de arcar com 80% dos custos globais com adaptação a esses impactos.
Ao longo da conferência na próxima semana, governantes, empresários, ONGs e prefeitos vão explorar as ferramentas e políticas necessárias para criarmos cidades resilientes.
Como medir e controlar as emissões de gases de efeito estufa nas cidades
Um número crescente de países e empresas calcula e gerencia suas emissões por meio de inventários de gases de efeito estufa. Nem todas as cidades, contudo, empregam um padrão comum para traçar suas emissões. Na Climate Summit, veremos isso mudar.
Assinando o Compact of Mayors – um novo acordo encabeçado por redes internacionais de cidades –, prefeitos vão se comprometer com quatro passos para uma abordagem mais transparente das ações nas cidades:
- Liberação dos dados relativos às emissões
- Estabelecimento de metas para a redução das emissões
- Desenvolvimento de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas
- Monitoramento e relatórios de seus progressos
Ao fazer isso, essas cidades também estarão se comprometendo pela primeira vez com um método padronizado para calcular e relatar as emissões em nível municipal. Uma parceria global e padronizada – como o Global Protocol for Community Scale Emissions – pode aumentar a precisão dos dados, necessária para estimular ações ambientais, para estabelecer uma referência internacional para as emissões em nível municipal e para ajudar as cidades a arcar com o desenvolvimento de baixo carbono.
Fechando a lacuna financeira
As cidades inovadoras nomeadas para a edição de 2014 do prêmio City Climate Leadership Awards mostram a gama de novas maneiras pelas quais as cidades podem se tornar mais sustentáveis. O desafio é fazer dessas ideias uma realidade mundial.
O financiamento de projetos de resiliência e baixo carbono é parte importante do processo de fechar essa lacuna, particularmente em economias emergentes, onde populações crescentes levam à necessidade de construção imediata de infraestrutura capaz de durar por décadas. E essa necessidade é grande: o Banco Mundial estimou que fechar a lacuna de infraestrutura nas cidades em desenvolvimento requer o investimento de 1 trilhão de dólares por ano. A Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD) – um importante fluxo de financiamento para as economias emergentes –, contudo, estima esse gasto em US$ 135 bilhões anuais.
A City Climate Finance Leadership Alliance dedica-se a esse desafio por meio de uma rede onde lideranças municipais e nacionais e órgãos internacionais de financiamento podem trocar e ideias e criar um mercado para projetos de baixo carbono. A declaração de ação da entidade – que se espera ser apoiada por uma série de importantes organizações internacionais, ONGs e instituições financeiras de desenvolvimento – estabelece como meta fechar essa lacuna de investimento dentro dos próximos 15 anos.
Um momento chave para a liderança das cidades
Como ex-prefeito de Nova York e Embaixador Especial das Nações Unidas para as Cidades e Mudanças Climáticas, Michael Bloomberg declarou na edição de 2013 do City Climate Leadership Awards que “quando se trata de mudanças climáticas, as cidades são o lugar onde o mais intenso progresso está em curso”.
A declaração de Bloomberg reflete o papel singular que os líderes municipais desempenham nas questões globais referentes às mudanças climáticas. Se a autoridade desses líderes é local, suas decisões, por outro lado, têm implicações de grande alcance. A Climate Summit é um momento chave para que eles promovam as decisões certas, para o futuro de suas cidades e para o planeta, dando o pontapé inicial de dois anos de importantes negociações globais a respeito das mudanças climáticas em Lima e Paris: a formação de novas Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDGs, na sigla em inglês) e a conferência HABITAT III, em 2016, que tratará de moradia e desenvolvimento urbano sustentável.