Post por Claudio Sarmiento, originalmente publicado em inglês no TheCityFix.

Transporte público de qualidade e fácil promove uma alternativa viável ao carro privado e ajuda a construir cidades mais inclusivas, acessíveis e habitáveis. (Foto: Alejandro Luna/EMBARQ México)
O transporte está inerentemente ligado ao desenvolvimento urbano. A viabilidade de sistemas de transporte baseia-se em bairros densos que permitam viagens mais convenientes entre comunidades urbanas. Apesar disso, relativamente pouco esforço é feito no sentido de projetar cidades no entorno dos sistemas de transporte, o que é muitas vezes resultado da falta de conexão entre o planejamento urbano e de transporte nas cidades em desenvolvimento. Apesar disso, o papel do desenho urbano é fazer com que o transporte público não seja apenas viável, mas eficaz.
O CUSTO HUMANO DE CIDADES DESCONECTADAS: UM CONTO CAUTELOSO
O México é um país que tem lutado contra padrões de uso do solo para apoiar o sistemas de transporte de massa. Estimativas do SEDESOL mostram que a população urbana do país dobrou nos últimos 30 anos enquanto o solo de áreas urbanas se expandiu em sete vezes no mesmo período. Os chamados conjuntos habitacionais “urbanos” tendem a ser construídos longe da área urbana de fato. Isso resulta em custos para a infraestrutura de transporte – este tem que percorrer distâncias muito maiores – que aumenta drasticamente.
Os serviços de transporte nestas áreas em expansão são, então, incapazes de proporcionar qualidade e acessibilidade. Eles são mal conservados – às vezes sequer ganham manutenção; rotas, tarifas e horários são irregulares; paradas espalhadas e desconectadas do centro da cidade; e a infraestrutura é pobremente projetada, criando atrasos significativos e aumentando o risco de colisões de trânsito.
Estas escolhas de design pobres impactam desproporcionalmente os segmentos menos favorecidos da sociedade. Por exemplo, moradores pobres que vivem nas periferias urbanas da Cidade do México têm acesso restrito a áreas de trabalho e comerciais, o que obriga muitos deles a destinar 30% dos seus rendimentos mensais no transporte. O desenvolvimento urbano de expansão cria uma cultura em que os ricos não têm escolha a não ser viajar de carro, enquanto os pobres aspiram a posse do carro.
O desenvolvimento orientado ao transporte pode reverter estas tendências, reconstruindo cidades e sistemas de transporte ao redor das necessidades das e comunidades.

A capacidade dos serviços de transporte público deve ser projetada de acordo com a densidade populacional do corredor que servem. Enquanto os serviços de ônibus de baixa demanda podem atender às necessidades de mobilidade básicos de seus usuários, os serviços de transporte de massa são mais ambientalmente e economicamente eficiente e mais fáceis de usar. (Fonte: EMBARQ)
Três elementos chave do design urbano podem ajudar o transporte público de qualidade e as cidades a moverem-se ao encontro do modelo de desenvolvimento orientado ao transporte. Os líderes municipais devem remodelar as estradas que ligam as comunidades dentro das cidades; criar densidade em torno de transporte público para a demanda de combustível; e criar facilidades que asseguram os sistemas de transporte seguros e fáceis de usar.
1. APROXIMAR COMUNIDADES POR MEIO DO TRANSPORTE
A fim de aumentar o acesso ao transporte público, as comunidades urbanas devem conectar-se umas às outras. Isto significa que as cidades não podem depender inteiramente estradas regionais, de alta velocidade e destinadas ao carro (como rodovias federais ou estaduais). Estas estradas geralmente não são viáveis para o transporte público e criam uma divisão física e social entre as comunidades.
As rodovias nas comunidades urbanas deveriam ser integradas a estruturas e bairros existentes. A maioria delas deveria ser local com conexão a corredores maiores de alta capacidade com um serviço de transporte frequente.
2. MANTER CIDADES COMPACTAS
Para tornar o transporte público de qualidade viável, as cidades devem desenvolver-se de forma a promover demanda por serviços de transporte público. Isto significa criar bairros mais compactos, encorajando maior densidade de construção e uso do solo misto. A maioria dos serviços de transportes públicos subsidiados podem operar com densidades de 20 residências por acre que estão dentro de meia milha (0,8 km) de centros de transportes.
As cidades podem criar demandas pelo transporte público ao encorajar a densidade e o uso misto do solo por meio de códigos urbanos e zonas de regulação. Fomentar o desenvolvimento de residências multifamiliares, instalações de serviços públicos, pisos térreos comerciais e edifícios de uso misto em torno dos meios de transporte pode aumentar o número de viagens realizadas ao longo do corredor.
Além disso, conectar pontos de transporte público à infraestrutura para ciclistas e pedestres provê acesso ao resto da cidade por 15 minutos de caminhada ou 5 minutos de pedalada, aumentando a atividade física, ao mesmo tempo em que se resolve o problema da conectividade de última milha.
3. PROJETAR O TRANSPORTE PARA AS PESSOAS
O desenho de um bairro pode apoiar os sistemas de transporte público enquanto age como um catalisador para as comunidades urbanas mais coesas e sustentáveis. O desenho de uma rua pode acomodar as necessidades de transporte – como onde localizar paradas – mas também deve ser seguro e acessível para todas as populações. Isto pode ser conseguido através das seguintes estratégias de desenho urbano:
- Todas as estradas principais devem ter uma forma de direito de para o transporte público, de preferência com faixas exclusivas.
- Todos os corredores de transporte público deve ter uma largura mínima de 3,5 metros, com marcações claras para identificar sua separação do tráfego geral.
- As paradas do transporte coletivo devem ser obrigatórias, com sinalização clara, e devem fornecer informações de rota em tempo real. Elas também devem ter iluminação, assentos, e um espaço de calçada larga para minimizar a interferência com passarelas de pedestres.

Ruas e estradas podem incentivar o acesso seguro ao transporte, se projetadas corretamente. (Fonte: EMBARQ)
Três princípios de design, combinados com cidades conectadas e de grande densidade, podem criar sistemas de transporte público acessíveis e atraentes para as pessoas, e economicamente viáveis para as cidades. Agora é a hora para que planejadores urbanos das cidades em desenvolvimento reconheçam o link entre desenvolvimento urbano e transporte sustentável. Assim como os planejadores da cidade adotaram cidades orientadas para as pessoas, os planejadores de transporte devem abraçar o transporte orientado para as pessoas como uma estratégia assertiva para o desenvolvimento urbano sustentável.
Tradução: Luísa Zottis, do TheCityFixBrasil.
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