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Tecnologia, horários de trabalho e o fim da hora do rush

Com a flexibilização dos horários de trabalho, a hora do rush tende a desaparecer (Foto: Justin Swan/Flickr)

Por décadas, trabalhar significava passar parte do dia, mais especificamente das 9 às 6, em um escritório, indústria, escola, ou qualquer outro lugar. Resumindo, era um período no qual as pessoas precisavam estar fisicamente em um lugar para realizar suas tarefas. Por causa disso, as viagens de ida e volta eram lentas, desconfortáveis e demoradas em congestionamentos ou em ônibus e trens lotados. Quem vivia nas cidades tinha duas certezas na vida: a morte e os congestionamentos. Até que, na última década, a rápida expansão da internet e das tecnologias móveis começou a mudar essa noção, e o paradigma de trabalho tornou-se antiquado. E com ele, em alguns anos, a “hora do rush” também o será.

A ”hora do rush”, geralmente no início da manhã e no fim da tarde dos dias úteis, representa os horários nos quais a maioria das pessoas se desloca, e consequentemente a demanda excede a oferta de transportes. Essas viagens são em sua maioria “utilitárias”, como aquelas para fins de trabalho e/ou estudo. Em países em desenvolvimento como o nosso, elas representam por volta de 80% do total. Portanto, não é necessário ser um especialista em transportes para compreender a relação entre as escalas de trabalho e as horas de pico. Se a maioria das pessoas entra e sai do trabalho na mesma hora, assim como é hoje, há uma saturação na demanda por transportes (além do ideal) nessas horas, seguidas por baixas demandas (abaixo do ideal) fora do pico. Tal ineficiência, espacial quando saturada e energética quando baixa, embora refletida nos transportes, não pode ser solucionada apenas com transporte, pois é causada pela estrutura das atividades sociais.

Uma vez que as pessoas flexibilizem seus horários de trabalho ou estudos, serão afetados diretamente a ocorrência, a intensidade e a duração dos horários de pico. Quando a internet tornou a comunicação ubíqua e as tecnologias móveis conectaram pessoas em movimento, as escalas de trabalho começaram a mudar drasticamente. Não é mais incomum encontrar pessoas que trabalham em casa em um ou mais dias da semana, e menos estranho ainda escalas diferentes do tradicional “9 às 6”. O crescimento da economia criativa, junto com os acelerados avanços tecnológicos, estão moldando um novo paradigma de trabalho, de disponibilidade ilimitada e produtividade a qualquer hora.

Horários de trabalho mais flexíveis, além de contribuir para a redução dos congestionamentos, podem aumentar a produtividade (Foto: Ed Yourdon/Flickr)

Consequentemente, diante de uma distribuição mais eficiente da demanda nas viagens, proporcionalmente com a flexibilização dos horários dos funcionários, a hora do rush tende a desaparecer. Como o “horário padrão” está desaparecendo, o gráfico de viagens será normalizado, ao invés dos picos e vales que temos atualmente. Este mesmo que vos escreve é um exemplo de horários flexíveis. Trabalhando em casa, eu costumo fazer as compras no período da tarde e trabalhar à noite. Portanto, as minhas atividades escapam dos horários de pico. Em troca, há uma pessoa a menos nas ruas contribuindo para os congestionamentos e lotações.

Trabalhar em casa ou em outro lugar que não o escritório não é mais uma previsão futura. É uma tendência da era da informação que se inicia neste século. Nós ainda enfrentamos congestionamentos nos horários de pico porque apenas uma pequena parcela da população flexibilizou seus horários até agora. No Reino Unido, correspondem a modestos 13% de toda a força detrabalho. Porém, quando estes números crescerem junto com a mudança de paradigmas econômicos, a tecnologia aplicada aos transportes poderá otimizar oferta e demanda ainda mais. Coleta de dados em tempo real e conectividade ubíqua possibilitarão que os sistemas influenciem as decisões dos usuários por rotas e horários mais eficientes. Uma simples ilustração é um aplicativo que mostra a ocupação atualizada dos ônibus e trens, de modo que usuários possam decidir o horário ais conveniente de usá-los com conforto e eficácia. Como os horários serão mais flexíveis, a elasticidade de mudanças será maior do que a atual, e a informação transmitida pelos operadores será crucial para manter a demanda sempre dentro da oferta ideal. Ali, num futuro não muito distante, a hora do rush será apenas artigos de livros de história.

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