A falta de políticas públicas para o transporte coletivo, o aumento frequente na tarifa e o crescimento do poder aquisitivo provocaram uma queda de 25% na utilização do transporte público no Brasil nos últimos 15 anos[1]. Dependendo do trajeto, é mais barato usar motocicleta ou carro do que o transporte coletivo[2]. Não por acaso os níveis de motorização aumentaram no país. Desde o início do milênio, a frota de automóveis quase triplicou enquanto a de motocicletas aumentou cerca de 650%[3], gerando mais congestionamentos, poluição e mortes.
Em 2013 foram 500 mil os casos de invalidez permanente e óbitos registrados além das despesas médicas que totalizaram R$ 3,2 bilhões de reais[4]. As mortes em acidentes de trânsito ultrapassaram a marca de 43 mil (22,5 mortos/100 mil habitantes)[5], o equivalente a quase 5 mortes por hora ou 180 acidentes como o da Malaysia Airlines, ocorrido em março. Este incômodo índice coloca o Brasil em posição de destaque em um ranking que nenhum país gostaria de constar. Nosso indicador é o dobro do norte americano e sete vezes superior ao sueco, país referência em segurança viária5.
Os números que tanto assustam dispararam importantes iniciativas para salvar vidas, como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, da Organização das Nações Unidas, e o Pacto Nacional pela Redução de Acidentes, do Governo Federal. Mas para vencer a guerra do trânsito é preciso repensar o modo como nos deslocamos. O uso irracional do automóvel já mostrou suas graves consequências.
Estudo recente publicado pela EMBARQ[6] revela que cidades que aumentaram o uso do transporte coletivo, da bicicleta e a caminhada, não só salvaram vidas como melhoraram a saúde da população. Entre 1998 e 2009, Copenhague verificou um aumento de 28% no fluxo de bicicletas nas ruas ao mesmo tempo em que reduziu pela metade o número de acidentes e fatalidades envolvendo bicicletas. Em Nova Iorque, com a implantação de 320 km de ciclofaixas, o número de viagens por bicicleta quadruplicou de 2000 a 2010, enquanto a porcentagem de acidentes com ciclistas diminuiu mais de 70%6.
Em Bogotá, o BRT TransMilenio já evitou 200 mortes, em nove anos, na Avenida Caracas. A média de acidentes na via passou de 61 para 21, uma redução de 65%. Outro exemplo positivo vem de Guadalajara, no México, onde os incidentes no corredor do Macrobús caíram 46% em relação ao período anterior à implantação do sistema6.
Mas o número de incidentes só reduz quando a implantação de um sistema de transporte coletivo vem acompanhada de uma infraestrutura projetada de acordo com as melhores práticas de engenharia de segurança viária. No mundo desenvolvido, onde os projetos são concebidos com o acompanhamento de auditores de segurança viária, o transporte coletivo, quer sobre pneus ou trilhos, resulta no modo mais seguro para circular nas cidades[7].
[1] NTU (2013) Anuário NTU 2012 – 2013
[2] IPEA (2011) A Mobilidade Urbana no Brasil
[6] EMBARQ (2013) Saving Lives with Sustainable Transportation. Disponível em: <http://www.embarq.org/sites/default/wp-content/uploads/Saving-Lives-with-Sustainable-Transport-EMBARQ.pdf>
[7] Litman T. (2013) Safer Than You Think! Revising the Transit Safety Narrative
*Artigo publicado na coluna “Embarque nessa ideia” da Revista NTU Urbano, edição nº 8 ABR/MAI 2014