Foi realizado, neste sábado (22), no campus de Porto Alegre da Unisinos, o 2º Seminário Regional de Jornalismo Investigativo. Promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o encontro debateu, entre outros assuntos, os rumos da mobilidade urbana e envolveu profissionais e estudantes de Comunicação nas questões relacionadas ao transporte público, principalmente na parte do planejamento que muitos ainda desconhecem.
“A solução não é trazer um modal para Porto Alegre. A discussão é saber qual o arranjo que devemos fazer para dar o melhor sistema de transporte para a cidade, para que as pessoas possam ter conectividade, rapidez no transporte e acessarem qualquer lugar, sabendo a hora em que irão chegar. É este o foco da discussão, não é apenas discutir sobre um modal ou outro”, destacou a diretora de Projetos e Operações da EMBARQ Brasil, Daniela Facchini, que, durante 30 minutos, apresentou ao público diversos modelos bem-sucedidos e exemplos bastante claros que mostram o sistema BRT (Bus Rapid Transit) como uma opção segura e eficiente para o transporte de passageiros.
“Os ônibus que não estão em corredores, que estão no tráfego misto, estão sendo reféns dos congestionamentos. Isso é tempo perdido, isso é dinheiro perdido, isso é estresse no trânsito, é irritabilidade, é perda de qualidade de vida”, reforçou Daniela, mostrando imagens de engarrafamentos nas grandes cidades e exibindo gráficos que comprovam que um corredor de ônibus é capaz de carregar dez vezes mais pessoas por hora, se comparado com a mesma via quando priorizado o tráfego de automóveis.
As pessoas estão nas ruas, elas estão gritando. E, pela primeira vez, elas estão gritando por qualidade no transporte público. Por isso, hoje existem investimentos como não vimos nas últimas três, quatro décadas – Daniela Facchini, diretora de Projetos e Operações da EMBARQ Brasil.

Daniela Facchini, da EMBARQ Brasil, em apresentação aos jornalistas, em Porto Alegre. (Foto: Matheus Fernandes)
Durante a sua apresentação, a diretora de Projetos e Operações da EMBARQ Brasil lembrou também que já foram mapeados 324 corredores de transporte público no Brasil e em outras 168 cidade espalhadas pelo mundo, chegando a 4,5 mil quilômetros levantados em toda a pesquisa. Ela ressaltou que, só no Brasil, são transportados cerca de 12 milhões de passageiros por dia – tanto no sistema de corredores comuns como nos de BRT – e que, ao contrário do que muita gente pensa, não é só fazer uma faixa e colocar um monte de ônibus para circular. “Isso funciona até uma determinada demanda. Já não podemos mais fazer isso em Porto Alegre”, disse, apontando que um dos maiores vilões na capital gaúcha hoje é o pagamento nas catracas, que chega a consumir até 50% do tempo do embarque/desembarque e promove longas filas de ônibus parados.
Além da diretora da EMBARQ Brasil, participou do debate – mediado pelo jornalista André Mags (Zero Hora) – a diretora do ITDP, Clarisse Linke. Ela chamou a atenção para a pouca massa crítica que está sendo formada para discutir os efeitos colaterais do modelo atual de mobilidade urbana, que incentiva mais do que deveria o uso do carro.
“Basta ligar a televisão, a gente é bombardeado pela indústria automobilística. Os comerciais de carros deveriam ser banidos, assim como foi o comercial do cigarro”, exorta a diretora do ITDP. “A gente não tem investimento em planejamento, não tem investimento em capacitação. O investimento é na obra. Isso faz com que a seleção das soluções para as cidades seja muito política, muito mais circunstancial”, emenda.