Este post foi baseado no conteúdo produzido originalmente em inglês por Kyle Mackie para o TheCityFix.
A EMBARQ, o programa de transporte urbano sustentável do World Resources Institute (WRI), e o Banco Mundial co-organizaram o Transforming Transporation nos dias 16 e 17 de janeiro (quinta e sexta-feira), em Washington, D.C. (EUA).

Transporte urbano em São Paulo. Brasil foi foco de sessão no Transforming Transportation, em Washington DC, moderada por Toni Lindau, da EMBARQ Brasil. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)
O Transforming Transportation dedicou uma sessão exclusiva ao transporte urbano na realidade brasileira. Os olhos do mundo estarão no Brasil neste ano em razão da Copa do Mundo de 2014, e novamente em 2016, quando o Rio de Janeiro recebe os Jogos Olímpicos. Para complicar ainda mais o momento, o país também têm eleições em outubro de 2014 após ter sido devastado pelos maiores protestos em 20 anos em junho do ano passado – motivados principalmente pelo aumento das tarifas do transporte público. Ao mesmo tempo, esta eclosão criou uma janela de oportunidade única para melhorar os sistemas de transporte no país, culminando com a entrada do transporte como direito social pela constituição.
O diretor-presidente da EMBARQ Brasil (produtora deste blog), Luis Antonio Lindau, abriu a sessão Brasil com uma breve apresentação do país e moderou os debates do painel. Para definir o tom da discussão, Lindau compartilhou alguns números sobre o país: com quase 200 milhões de habitantes, o Brasil é a sexta maior economia do mundo e 84% de sua população vive em cidades. O país tem muitos carros – 350 para cada mil habitantes. Além disso, o país tem a quarta maior quantidade de mortes por acidentes de trânsito atrás apenas da China, Índia e Nigéria, em 22,5 mortes/100.000 habitantes. Os congestionamentos e as fatalidades estão aumentando rapidamente os problemas no país, aumentando a urgência de soluções imediatas e eficazes na esfera do transporte urbano.
O time de palestrantes foi composto por Clarisse Cunha Linke, diretora do ITDP Brasil; Ciro Biderman, diretor da SPTrans; André Dantas, da NTU; Shomik Mehndiratta, do Banco Mundial; e Márcio Nigro, fundador do Caronetas.

Esquerda para direita: Clarisse Cunha Linke; Toni Lindau; Ciro Biderman; Marcio Henrique Nigropanelist; durante a sessão Brasil no Transforming Transportation 2014. (Foto: Aaron Minnick/EMBARQ)
Linke identificou os dois pilares que irão definir o investimento do transporte urbano no Brasil para os próximos anos: o Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) e a Política Nacional de Mobilidade Urbana. Pela lei, todas as cidades brasileiras com acima de 20 mil habitantes devem desenvolver um plano de mobilidade urbana até 2015. Se não cumprirem este prazo, podem perder oportunidades de financiamento de projetos de infraestrutura. Lindau esclareceu que 1.669 cidades brasileiras devem cumprir este prazo, mas mais de 3 mil planos devem ser desenvolvidos quando se consideram todas as cidades com regiões metropolitanas. Desenvolver todos os planos até 2015, disse ele, é quase “impossível”.
Segundo pilar mencionado por Linke, o PAC trouxe 57 bilhões de dólares em financiamento federal para o desenvolvimento de infraestrutura. Assim, em alguns casos, as cidades brasileiras estão recebendo financiamento para projetos de transporte urbano antes de terem seus planos de mobilidade urbana no lugar – o momento é complicado, enfatizou Linke. Neste momento há uma falta de critérios claros sobre quais projetos de transporte urbano devam ser financiados, mas o financiamento representa uma grande oportunidade para uma nova era de desenvolvimento do transporte sustentável no Brasil.
Mehndiratta destacou que embora seja ótimo que haja considerável financiamento federal disponível, um programa estruturado de investimento deve ser desenvolvido. “Há uma necessidade de investimento de capital, e o dinheiro está lá, mas há uma oportunidade de estruturar esse investimento. Outros países têm feito um bom trabalho nisso (e com o qual o Brasil pode aprender)”.
Uma pergunta interessante da plateia no fim das sessões questionou como o Brasil pode prover uma alta qualidade no transporte público ao mesmo tempo em que o preço seja acessível para cidadãos de média e baixa rendas. Mehndiratta respondeu que o problema sempre gera tensão entre os operadores de transportes e os usuários. Ele afirmou que operadores devem tirar proveito dos protestos a necessidade de construir confiança com os usuários sobre a efetividade dos investimentos.
Biderman, da SPTrans, concordou os protestos trouxeram algumas lições positivas. “O lado bom de pedir uma tarifa reduzida é que ele tem exatamente o efeito de empurrar-nos em direção à maior transparência e eficiência de operação”.
Na última pergunta da plateia, um participante perguntou se ele estava sendo muito otimista em acreditar que o transporte público estava melhorando no Brasil. Vários participantes concordaram que eles se sentem entusiasmados para as oportunidades do Brasil em relação ao transporte urbano, e Lindau, agradecendo uma questão positiva no final da sessão, concluiu com uma citação que ele tinha lido no início da semana: “o Brasil não é um país para amadores”.
Discurso de encerramento por Jose Luis Irigoyen , Holger Dalkmann e Michelle Yeoh

Holger Dalkmann, Michelle Yeoh e Jose Luis Irigoyen fazem considerações finais sobre os dois dias de evento. (Foto: Aaron Minnick/EMBARQ)
Michelle Yeoh – a Embaixadora Global para a campanha Make Roads Safe e notável atriz se juntou a Jose Luis Irigoyen e Holger Dalkmann nas considerações finais sobre os dois dias de Transforming Transportation. A conferência deste ano teve uma participação recorde, com mais de mil participantes inscritos e 90 palestrantes de quatro continentes. O debate online com a hashtag #TTDC14 também contou com participantes de 371 localizações nos cinco continentes. Com esta dinâmica, o Transforming Transportation foi marcado como uma grande oportunidade para influenciar o debate sobre como as Nações Unidas e os países em todo o mundo determinarão a agenda de desenvolvimento global pós 2015 nas primeiras cineiras internacionais. Mais importante ainda, o Transforming Transportation foi um momento importante para os líderes dos transportes, desenvolvimento e comunidades de negócios a se reunir e discutir a visão de que o transporte sustentável está lado a lado com as cinco oportunidades chave para o transporte do século 21: segurança viária, cidades de médio porte, liderança regional e local, finanças, dados e tecnologia.
Em seu discurso, Yeoh deu um forte argumento de que o transporte tem o potencial de tornar o nosso mundo um lugar mais saudável, seguro e sustentável para viver. Mas ela também reconheceu os desafios que enfrentamos em frente:
Aqueles que lutam pela segurança viária global enfrentam desafios dignos de um blockbuster de Hollywood
Uma vez que o setor de transportes não fora incluído nas Metas de Desenvolvimento para o Milênio da ONU, Yeoh destacou a importância crítica de garantir sua inclusão desta vez nas Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDGs), garantindo assim que a próxima década é realmente uma década de ação. “Ao contrário dos filmes”, disse Yeoh, “lembrem-se que não temos um segundo take. Nós apenas uma chance. Vamos fazer direito. Precisamos de uma coligação forte, dedicação, paixão e um propósito claro de modo que estamos confiantes em nossas missão”.
O último dia também contou com os paineis “Por que a segurança de tráfego é melhor para pessoas e negócios”, “Metas para Desenvolvimento Sustentável e Transporte: Uma Coligação para a Mudança” e “Garantindo o Transporte Público”.
Leia a cobertura completa, em inglês, no TheCityFix:
Dia 1:
Live from Transforming Transportation: The future we want / Data and technology
Live from Transforming Transportation: Integrated mobility / Managing governance
Dia 2:
Live from Transforming Transportation: Safer by Design / Spotlight on Brazil