Em novembro de 2013, o jornal britânico The Guardian publicou o artigo The secrets of the world’s happiest cities. Como o título dá a entender, o texto fala das práticas e escolhas que contribuem para a felicidade das pessoas nas cidades onde esse fenômeno é mais observado.
Abordando a relação entre desenvolvimento econômico, meio urbano, meio de transporte e felicidade, o artigo, escrito por Charles Montgomery, é uma leitura essencial para quem quer entender melhor que elementos, afinal, fazem de uma cidade um lugar melhor para viver.
Confira abaixo os trechos separados pelo TheCityFix Brasil.
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“Nós estamos vivendo um experimento”, ele [Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá] gritou para mim. “Nós podemos não estar aptos a consertar a economia. Mas nós podemos planejar a cidade para dar dignidade às pessoas, para fazê-las se sentirem ricas. A cidade pode fazer as pessoas mais felizes.”
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Peñalosa insistiu que, como muitas cidades, Bogotá foi profundamente afetada pelos dois legados urbanos do século XX: primeiro, a cidade foi gradualmente reorientada ao redor dos carros. Segundo, os recursos e espaços públicos foram amplamente privatizados. Essa reorganização foi ao mesmo tempo injusta – apenas uma em cada cinco famílias possui um carro – e cruel: aos moradores foi negado o direito de desfrutar dos pequenos prazeres cotidianos da cidade: caminhar em uma rua convidativa, sentar em um banco na calçada ou em uma praça. Além de se divertir: as crianças desapareceram das ruas de Bogotá, não por medo de tiroteios ou sequestros, mas porque as ruas se tornaram perigosas devido à velocidade dos carros. O primeiro e mais eminente ato de Peñalosa como prefeito foi declarar guerra: não ao crime, às drogas ou à pobreza, mas contra os carros.
Ele ignorou o plano de expansão de rodovias e, em vez disso, investiu centenas de quilômetros de ciclovias; em uma nova e ampla cadeia de parques e praças; e no primeiro sistema BRT da cidade, o TransMilenio. Ele proibiu os motoristas de fazer o trajeto de casa ao trabalho de carro mais de três vezes por semana. Esse programa redesenhou a experiência urbana para milhões de pessoas e foi contra as principais filosofias que nortearam planejadores urbanos ao redor do mundo por mais de meio século.
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O design urbano é realmente tão poderoso, a ponto de criar ou diminuir a felicidade? A pergunta merece consideração, uma vez que a mensagem de cidade feliz está tomando conta do mundo. “As economias mais dinâmicas do século XX criaram as cidades mais miseráveis”, diz Peñalosa, sobre o ruído do trânsito. “Estou falando de Atlanta, Phoenix, Miami, cidades totalmente dominadas pelos carros”.
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Ao mesmo tempo em que nós reclamamos de outras pessoas, não há nada pior para a saúde mental que um deserto social. Quanto mais conectados nós estivermos à nossa família e à comunidade, menor a tendência de ataques cardíacos, derrames, câncer e depressão. Pessoas conectadas dormem melhor. Vivem mais. E constantemente dizem ser mais felizes.
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Um casal de economistas da Universidade de Zurich, Bruno Frey e Alois Stutzer, compararam a média de tempo que motoristas alemães levavam para chegar ao trabalho com a resposta que deram à seguinte pergunta: “No geral, o quão satisfeito você está com sua vida?”.
A descoberta do casal foi aparentemente direta: quanto mais tempo dirigindo, menos felizes eram as pessoas. Antes que você considere isso óbvio demais, lembre-se de que eles estavam perguntando não a respeito da satisfação com o trânsito, mais com a vida em geral. As pessoas estavam escolhendo alternativas de deslocamento que tornavam sua vida inteira pior. Stutzer e Frey descobriram, por exemplo, que uma pessoa que gasta uma hora se deslocando ate o trabalho precisa ganhar 40% a mais para se sentir tão satisfeita com a vida quanto alguém que vai caminhando para o escritório. Na mesma linha, para uma pessoa solteira, trocar um longo deslocamento até o trabalho por uma rápida caminhada tem o mesmo efeito, em termos de felicidade, que encontrar um novo amor.
2 Responses to “Os segredos das cidades mais felizes do mundo”
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