Por Carlos Cadena Gaitán
A cosmopolita capital da Argentina é uma das maiores cidades do mundo. A cada dia, seu sistema de transporte deve suprir as necessidades de mobilidade de mais de 13 milhões de pessoas que vivem na região metropolitana.
Mesmo tendo um dos metrôs (lá chamam de “subte’) mais extensos da América Latina, faz anos que sua capacidade ficou baixa para deslocar os cidadãos que dependem dele. O metrô foi inaugurado em 1913, sendo o primeiro sistema subterrâneo do nosso continente, e hoje é uma artéria vital para o funcionamento de uma caótica Buenos Aires, que tradicionalmente glorificou o carro particular. Além das avenidas congestionadas de segundo nível, nesta grande cidade também coexistem duas curiosas vias urbanas: a mais larga (9 de Julio), e a mais longa (Rivadavia) do mundo.
Para compreender, realmente, o desafio da mobilidade em Buenos Aires não basta comparar com o caos veicular característico das grandes cidades do mundo. A autêntica experiência porteña é pegar o metrô na hora do pico. Como as linhas do sistema subterrâneo estão conectadas com outras linhas de trens suburbanos e estações de ônibus, os vagões do “subte” enchem imediatamente já nas primeiras paradas. Para conseguir um espaço a partir da terceira ou quarta estação do trem, deve rezar por um milagre. Obviamente, os usuários viajam bem amontoados; e com todas as consequências negativas que a falta de espaço pessoal gera.
No entanto, o sistema funciona suficientemente bem. Os moradores, apesar de das viagens desconfortáveis, chegam aos seus destinos. Agora imagine essa cidade sem o metrô. Será que continuaria funcionando? Como lutas políticas por todo lado, o grande pesadelo de muitos se tornou realidade durante as duas primeiras semanas de agosto: o metrô entrou em greve, e cessou completamente suas atividades por 10 dias! O sistema de mobilidade urbana entrou em colapso.
Felizmente, desde a última greve do “subte”, um novo meio de transporte ganhou força em Buenos Aires. Nos últimos anos, construíram cerca de 80 km de ciclovias protegidas. Elas são parte de um plano inicial de 100 km interligados, destinado a servir principalmente às universidades e prédios públicos. A greve foi, então, a desculpa perfeita para muitos tirarem a poeira de suas bicicletas ou alugarem uma bike pública já que a cidade complementava sua rede de ciclovias. Alguns jornais locais anunciaram a duplicação da demanda por estas bicicletas públicas durante a greve, é lógico.
Quando, finalmente, terminou a greve que tornou as ruas de Buenos Aires um caos sem precedentes, nenhum político saiu ileso. De acordo com a pesquisa de opinião autenticada realizada na última semana, 40,3% dos porteños acreditam que a o responsável pela parada do metrô foi o governo nacional, enquanto 28,2% culpam o governo municipal. A luta política que, durante o conflito, manteve a presidenta Kirchner e o prefeito de Buenos Aires, Macri (sim, o mesmo que foi presidente do Boca Juniors), não deixou benefícios para nenhum deles. Pelo contrário, só nos lembra da importância de proteger os sistemas de transporte urbanos dos interesses estratégicos dos políticos. Afinal de contas, nós somos apenas cidadãos comuns que saímos perdendo com este tipo de crise.
Os colombianos conhecem estas dinâmicas muito bem. Só contar o número de ataques políticos que o nosso único sistema de metrô sofreu (e provavelmente continuará sofrendo). De fato, esta semana o Conselho de Estado condenou o Metro de Medellín a pagar mais de três bilhões de pesos por ter utilizado terrenos indevidos. No entanto, eu não tenho dúvida de que esta famosa instituição colombiana sempre vai colocar o bem-estar dos cidadãos acima de qualquer interesse político.