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Metrópoles brasileiras podem aprender com lições de mobilidade da Holanda

País prioriza bicicletas e percursos a pé nos centros urbanos. (Foto: Urban Commuter)

Por Guillermo Petzhold

Esta semana, a entrevista  com Ivo Bastiaansen, especialista de mobilidade urbana, para o portal Mobilize Brasil explica porque a Holanda vai muito além das bicicletas e como podemos aprender com as lições do país. Algumas respostas do especialista chamam atenção por sua aplicabilidade ao atual contexto das grandes metrópoles brasileiras como, por exemplo, Porto Alegre. Assim, podemos fazer um paralelo entre as ações tomadas nos municípios holandeses com as propostas para a mobilidade da capital gaúcha.

Com uma população em torno de 17 milhões de habitantes, o sistema de transporte holandês é mundialmente reconhecido devido ao grande uso da bicicleta. Para Bastiaansen, “sem a bicicleta, nossos estreitos e densos centros urbanos já não seriam acessíveis. As ruas das cidades do século 17 não eram feitas para carros. E a bicicleta é uma alternativa de transporte individual que dá liberdade e rapidez em percursos curtos. Além disso, o crescente uso da bicicleta faz diminuir a demanda pelo transporte público”.

Ainda segundo Bastiaansen, “a divisão modal (excluindo aqui os pedestres) é a seguinte: carro, 53%; bicicleta, 30%; e transporte público,17%. Como se vê, o carro ainda é um transporte importante, mas se ninguém usasse os outros modos, o país inteiro viraria um grande engarrafamento. Então, a nossa estratégia é promover o sistema mais adequado, em todos os lugares, e seduzir as pessoas para que utilizem os diferentes modos durante uma viagem. Em particular, tentamos facilitar a transferência entre carro e transporte público. Por exemplo, a maior parte das estações de trem oferecem estacionamento barato para incentivar as pessoas a deixarem os carros e pegarem o trem”.

Estacionamento acessível em estação do BRT Orange Line em Los Angeles. (Foto: Mariana Gil / EMBARQ Brasil)

Embora a divisão modal de Porto Alegre seja bem diferente (58% transporte público, 36% carro, 6% bicicleta), poucos esforços são realizados para se mudar este quadro. Por exemplo, apesar da cidade ter um plano cicloviário instituído desde julho de 2009, praticamente nenhuma das obras propostas para a primeira fase saiu do papel, com exceção da “ciclovia” da Restinga, Icaraí e dos 417 metros da ciclovia da Ipiranga, a qual rendeu inúmeros deboches e contas matemáticas devido ao exorbitante tempo para construção e ao seu preço, isso sem mencionar uma certa foto…

Além disso, nenhuma política para “seduzir as pessoas para que utilizem os diferentes modos durante uma viagem” é implementada. Não há bicicletários em diversos pontos estratégicos da cidade, ou, se existe, foi por causa de protestos, como o caso do Mercado Público. Por falar em Mercado Público, um projeto que existe é a criação de um estacionamento subterrâneo nesse prédio, e no auditório Araújo Viana também. Isso vai diretamente contra ao recomendado pelo especialista que tem a opinião de que os centros urbanos devem ser otimizados para o transporte público e para pedestres. Logo, a construção de um estacionamento nesse local levaria apenas a mais pessoas irem de carro ao centro da cidade, o qual, apesar de não ter sido construído no século 17, também foi concebido em uma época posterior a utilização maciça dos carros.

Prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, anuncia estacionamento subterrâneo como modernização, indo contra a lógica proposta pelos especialistas em planejamento urbano.

Outro ponto muito interessante da entrevista está relacionado à integração total entre todos os meios de transporte do país através de um bilhete único, ou seja, com um único cartão se poderia viajar de um extremo ao outro da Holanda, utilizando bondes, metrôs, ônibus e trem!

Por enquanto, a realidade aqui ainda é muito diferente. Cada modal tem o seu cartão exclusivo e as pessoas perdem muito ao ter créditos depositados em TRIs, TEUs, SIMs. Só recentemente o TRI e o SIM foram integrados, facilitando a vida de diversas pessoas de Porto Alegre a São Leopoldo. Contudo, muito ainda deve ser feito. Por que ainda não se pode utilizar o TRI para as lotações? Isso não atrairia mais usuários ao transporte e contribuiria para a melhora do tráfego?

Recentemente, a cidade de Canoas realizou a integração dos ônibus convencionais com os seletivos e, em um período de apenas três anos, duplicou o número de passageiros, segundo o secretário de transportes Luiz Carlos Berttoto.

Muitos diagnósticos foram feitos, entretanto como se pode mudar o atual panorama de mobilidade?

Para Bastiaansen “O uso da bike depende muito do “status” deste veículo, ou, a visão que a população local tem dele. É preciso lembrar que, mesmo na Holanda, há pessoas que jamais usarão uma bicicleta para se locomover, mesmo com todos os argumentos a favor dessa modalidade. As cidades também precisam de planejamento espacial e apoio político de todos os níveis de governo para promover o sistema integrado. Da mesma maneira, é preciso que uma boa parte de todas as classes sociais use o sistema de transporte público”.

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