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Desafios para a adoção do biodiesel no transporte coletivo urbano

Testes laboratoriais com biodiesel no Campus Ministro Theotônio Vilela em parceria com a Brasil Ecodiesel, em Teresina, Piauí. (Foto: Mais Brasil 2009)

Por Arthur Oliveira*

Especula-se muito sobre a viabilidade da adoção do biodiesel no transporte coletivo urbano. Durante a Conferência Internacional biodieselBR 2011, realizada em outubro de 2011 em São Paulo, foi possível acompanhar os avanços e desafios na adoção do biodiesel. Em função da implantação do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE) na Fase P-7, com os novos limites de emissão de poluentes e a utilização de combustível do tipo B5 (5% de biodiesel), pode-se destacar os principais desafios para o setor. São eles:

– Logística: Ainda existem muitas incertezas quanto à capacidade de abastecimento para todo o território nacional;

– Qualidade: A qualidade do combustível é prejudicada pela proliferação de bactérias, fungos e outros micro-organismos, o que também afeta a vida útil dos equipamentos usados de contenção, armazenamento e abastecimento, que reagem com o biocombustível ou sofrem com a formação de borras e resíduos;

– Mercado: O intensivo uso de soja para a produção do biodiesel brasileiro oferece risco ao mercado, visto que a soja sofre com a alta variabilidade de preço, assim como o etanol. Atualmente, o preço do biodiesel é cerca de 80% superior ao do diesel comum;

– Demanda: O palestrante Ailton Domingues (Bioverde) aponta que o biodiesel brasileiro não atende as especificações do mercado europeu e sugere que o mercado deve focar no crescimento interno. Essa informação é ratificada pela palestra do representante do MME, Ricardo Dornelles, que aponta o Transporte Público Urbano (TPU) como um forte candidato ao aumento da demanda por biodiesel;

– Matéria-Prima: O potencial de produção de óleo a partir da soja é baixo (teor de 19%), sendo necessário desenvolver novas culturas. O uso da soja é incentivado pela alta produção de farelo; e

– Meio Ambiente e Saúde: Uma maior proporção de biodiesel na mistura diminui a emissão de metais pesados e HPAs (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), reduzindo também a probabilidade de surgimento de câncer de pulmão.

Esses desafios geram inúmeras preocupações para o setor dos transportes de passageiros urbanos. Apesar do entendimento da importância da redução das emissões, é essencial, no entanto, que os problemas relativos à qualidade do combustível e à logística sejam resolvidos para não comprometer a confiabilidade do programa. Algumas alternativas ao uso da soja para produção de biodiesel são: o girassol, a canola, a macaúba e o pinhão manso, sendo que esses dois últimos necessitam de grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Esses investimentos são essenciais para assegurar a qualidade do produto, desenvolvendo novos processos de purificação, aditivos, entre outras medidas.

Além disso, o incentivo à adoção do biodiesel pelos operadores de transporte coletivo urbano pode ser feito por meio de medidas como a redução de impostos, nos moldes do que é proposto para os produtores de biodiesel. Tal medida criaria uma demanda sustentável para o biodiesel, reduzindo a poluição, pois incentivaria a aquisição de veículos que atendam aos novos padrões de emissão. É importante que as medidas tomadas para renovação de frota e de incentivo ao uso do biodiesel façam parte de uma política clara e de longo prazo, estimulando o investimento contínuo e o desenvolvimento de novas tecnologias, pois as ações que precisam ser tomadas demandam alto volume de investimentos que impactam diretamente na tarifa. Dessa forma, é fundamental equacionar como esses custos adicionais podem ser absorvidos pelo sistema, mediante a definição de políticas de incentivo ao uso do biodiesel, de maneira que o preço não supere aquele praticado na comercialização do diesel.

*Arthur Oliveira é Analista de Transportes da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), mestrando em Transportes na UnB e Engenheiro Civil (UnB, 2008).

Saiba mais sobre o PROCONVE P7.

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