
O sistema cicloviário santista, que ultrapassou a marca de 30 km construídos, é considerado muito bom por seus usuários. (Foto: Marcus RG)
Por Paulo Finatto Jr.
Todos os dias, por volta das 7h, uma balsa, que minutos antes havia partido do Guarujá, atraca em Santos. Em vez de carros, desembarcam ciclistas, em um movimento que se repete várias vezes ao longo da manhã. No mesmo horário, em Sorocaba, trabalhadores saem de casa rumo ao trabalho de bicicleta, em vias exclusivas e bem sinalizadas, que cortam a cidade tanto nos bairros ricos como nas periferias pobres.
As cenas relatadas fazem parte da rotina dos dois municípios, que passaram a ver as bicicletas como um verdadeiro meio de transporte. Isso colocou Sorocaba (a 99 km de SP) e Santos (72 km de SP) entre os principais modelos cicloviários do estado, mas não acaba por aí. Com um plano que prevê 100 quilômetros de ciclovias até 2012, Sorocaba é apontada hoje como uma das cidades brasileiras que mais bem investiram no transporte por bikes.
Um exemplo chamado Sorocaba
Padronizadas com piso vermelho e sinalização própria, as ciclovias em Sorocaba são quase todas interligadas. Há ainda bicicletários em terminais de ônibus, o que permite a integração com o transporte público, além de paraciclos espalhados pela cidade. O projeto de criar uma malha cicloviária ampla começou em 2006, segundo o secretário dos Transportes do município, Renato Gianolla. Desde então, novas avenidas passaram a ser projetadas com canteiros largos, justamente para reservar espaço para as bikes. As vias já existentes foram adaptadas.
Em paralelo, a prefeitura implantou ações para tentar atrair a população, como passeios e campanhas de conscientização, justamente para destacar a importância da bicicleta como meio de transporte nos dias atuais. Mesmo assim, o uso das ciclovias ainda é maior por quem procura os espaços por lazer, reconhece Gianolla. “Agora o desafio é incentivar o uso para o trabalho”, afirma.
A “chinesa” Santos
Santos é uma prova de que a consolidação do projeto cicloviário ao longo dos anos, aliada a uma boa infraestrutura, dá resultado. As primeiras ciclovias da cidade começaram a surgir nos anos noventa e a expansão foi contínua: hoje são quase 30 km e ainda há obras em alguns trechos. A travessia de balsa entre a cidade e Guarujá é a maior prova de que a bicicleta faz parte da vida de muita gente na Baixada Santista.
Estima-se que dez a 12 mil ciclistas utilizem a travessia diariamente. A imagem dos desembarques, nas primeiras horas do dia, impressiona e lembra o que se vê nas maiores cidades chinesas, onde tradicionalmente multidões se locomovem de bicicleta. Porém, é o aspecto econômico que parece fazer mais diferença na Baixada Santista. “Se eu não usasse a bicicleta, teria que pagar dois ônibus, além da balsa, todos os dias”, disse a secretária Maria José Soledade, que vai do Guarujá a Santos, para trabalhar.
O incentivo para o uso da bicicleta entre os municípios é bastante simples: quem cruza a balsa com a bike, não paga nada. Se estiver a pé, gasta R$ 2,20. Por conta disso, o uso da bicicleta já corresponde a 8% de todas as locomoções feitas entre as duas cidades. Outra contribuição importante são as ciclovias santistas: além da topografia da área urbana, quase toda plana, favorecer o uso da bicicleta, a estrutura da rede cicloviária também é muito boa. Há até semáforos exclusivos, o que garante a segurança de quem adota o meio alternativo de transporte.
Fonte: Folha de S. Paulo
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