Dados criados e atualizados por Peter Potapov, Svetlana Turubanova e Sasha Tyukavina - GLAD Lab da University of Maryland 

 

Embora os dados de perda de cobertura arbórea da Universidade de Maryland tenham cobertura global, o Global Forest Watch se concentra principalmente na perda nos trópicos, porque é onde ocorre mais de 96% do desmatamento ou remoção permanente da cobertura florestal causada pelo homem. Esse artigo tem como foco principal as florestas primárias dos trópicos úmidos, que são áreas de floresta tropical madura especialmente importantes para a biodiversidade, o armazenamento de carbono e a regulação dos efeitos climáticos regionais e locais.

Entre 2022 e 2023, o Brasil e a Colômbia vivenciaram uma diminuição notável de 36% e 49% na perda de florestas primárias, respectivamente. No entanto, apesar das reduções acentuadas, a taxa global de perda de floresta tropical primária em 2023 permaneceu persistentemente consistente nos anos recentes, de acordo com novos dados do GLAD Lab da University of Maryland e disponíveis na plataforma Global Forest Watch (GFW), do World Resources Institute (WRI).

Como alguns países mostram vontade política de reduzir a perda florestal e outros não, as fronteiras da perda florestal estão mudando. As reduções marcantes no Brasil e na Colômbia foram contrabalançadas por aumentos bruscos de perda florestal na Bolívia, Laos e Nicarágua e aumentos mais discretos em outros países.

A perda total de florestas tropicais primárias em 2023 totalizou 3,7 milhões de hectares, o equivalente a quase 10 campos de futebol de florestas por minuto. Embora isso represente uma diminuição de 9% em relação a 2022, a taxa de 2023 foi quase idêntica às dos anos de 2019 e 2021.

Perda de floresta tropical primária, 2002 a 2023

Faltam apenas seis anos até 2030, ano em que os líderes de 145 países prometeram interromper e reverter a perda florestal. Embora as diminuições na perda florestal no Brasil e na Colômbia sejam promissoras para tal compromisso, está claro que o mundo está muito longe de suas metas.

Os 10 países onde mais se perdeu florestas primárias em 2022 e 2023

A seguir, um olhar aprofundado sobre algumas tendências da perda de florestas em 2023: 

Reduções acentuadas na perda de florestas primárias no Brasil e na Colômbia coincidem com mudanças políticas

Brasil

O Brasil perdeu 36% a menos de floresta primária em 2023 do que em 2022, atingindo o nível mais baixo desde 2015. O declínio resulta em uma diminuição acentuada da participação do Brasil na perda total de floresta primária nos trópicos — de 43% do total da perda tropical em 2022 para 30% em 2023.

Perda de floresta primária no Brasil, 2002 a 2023

O bioma amazônico teve o maior declínio, com 39% menos perda de floresta primária em 2023 do que em 2022. Isso está em grande parte de acordo com números oficiais do governo que constatou uma diminuição de 22% no desmatamento na Amazônia de 2022 a 2023 (leia mais sobre como os dados do GFW se comparam aos dados oficiais do Brasil). Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia possui uma importância descomunal para a biodiversidade global e a mitigação das mudanças climáticas.

As florestas são ecossistemas essenciais na luta contra as mudanças climáticas, auxiliando a subsistência e protegendo a biodiversidade.

Clima: enquanto o mundo enfrenta um “aviso final” da crise climática, a redução do desmatamento é uma das medidas terrestres com melhor custo-benefício para mitigar mudanças climáticas. As florestas são tanto fontes como sumidouros de carbono, removendo o dióxido de carbono do ar quando estão em pé ou em crescimento e emitindo-o quando desmatadas ou degradadas.

Bem-estar humano: cerca de 1,6 bilhão de pessoas, incluindo quase 70 milhões de indígenas, dependem dos recursos florestais para a sua subsistência. O desmatamento, especialmente nos trópicos, também afeta as temperaturas e as chuvas locais de forma que pode agravar os efeitos locais da mudança climática global, com consequências para a saúde humana e para a produtividade agrícola.

Biodiversidade: as florestas abrigam a maior biodiversidade de todos os ecossistemas da Terra, e por sua vez, as espécies que vivem nas florestas desempenham um papel importante na manutenção de ecossistemas saudáveis e de recursos e serviços dos quais as pessoas dependem.

A redução na perda florestal coincide com a transição da liderança do governo do Presidente Jair Bolsonaro para o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no começo de 2023. Durante o mandato de Bolsonaro, a administração deixou de investir em proteções ambientais e enfraqueceu os órgãos de aplicação de leis. Por outro lado, Lula prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia e em outros biomas até 2030, e já tinha um histórico comprovado sobre essa questão desde sua administração anterior.

Desde que Lula foi reeleito, o governo agiu para reduzir a perda florestal, incluindo a revogação de medidas contra o meio ambiente, reconhecendo novos territórios indígenas, e fortalecendo esforços de aplicação das leis (embora alguns agentes de fiscalização atualmente estejam em greve, dizendo que estão sobrecarregados e insuficientemente remunerados). Essas mudanças parecem estar impactando a taxa de perda florestal, embora ainda permaneça maior do que seu ponto mais baixo no começo da década de 2010s.

Essa notícia positiva chega em um momento em que a Amazônia está passando por sua pior seca já registrada. Embora a perda florestal por causa de incêndios não tenha aumentado na Amazônia brasileira como um todo em 2023, a área ao redor da cidade de Manaus viu incêndios sem precedentes, e o estado de Roraima passou por um número recorde de incêndios em fevereiro de 2024. É cada vez maior a preocupação que a retroalimentação entre desmatamento, temperaturas mais altas e seca poderia resultar em um “ponto de não retorno” além do qual partes da Amazônia não conseguiriam mais manter a floresta tropical e se transformariam em savana.

E nem todos os biomas no Brasil tiveram a redução na perda florestal vista na Amazônia: os biomas do Cerrado e do Pantanal tiveram um aumento na perda florestal em 2023.

Perda de cobertura arbórea em biomas selecionados do Brasil, 2001 a 2023

O bioma do Cerrado, uma savana tropical a sudoeste da Amazônia, teve um aumento de 6% na perda de cobertura arbórea[1] de 2022 a 2023, mantendo a tendência de aumento de cinco anos. O Cerrado é o epicentro da produção agrícola no país, onde a extensão da produção de soja mais que dobrou ao longo dos últimos 20 anos. As organizações da sociedade civil estão reivindicando que as empresas assumam um compromisso com a agricultura livre de desmatamento e de conversão como uma maneira de garantir que as cadeias de suprimentos delas não contribuam para a perda de ecossistemas neste bioma valioso.

Enquanto isso, o bioma do Pantanal, a maior área úmida tropical do mundo, teve um pico de perda florestal em 2023 por causa de incêndios. Incêndios são uma característica normal deste ecossistema, entretanto, uma “mega seca” de vários anos causada em parte pelas mudanças climáticas resultou em queimadas repetidas em grandes áreas, o que reduz a capacidade desse ecossistema recuperar-se.

Colômbia

A Colômbia também teve um grande declínio na perda de floresta primária em 2023, com uma redução de 49% na perda de floresta primária em comparação ao ano de 2022.

Perda de floresta primária na Colômbia, 2002-2023

A taxa de perda de floresta primária da Colômbia aumentou de forma significativa a partir de 2016, coincidindo com o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Esse acordo incluía a realocação dos membros da FARC para novas áreas, deixando grandes extensões de florestas remotas acessíveis onde eles anteriormente mantinham um controle rígido sobre o uso da terra. Como resultado, o desmatamento feito por outros grupos armados e grileiros aumentou. Os novos números para 2023 indicam um possível retorno para os níveis de perda florestal anteriores ao acordo de paz.

Como o Brasil, a Colômbia recentemente também passou por uma mudança de liderança, com a posse do Presidente Gustavo Petro Urrego em agosto de 2022. A administração dele se concentra no meio ambiente, reforma agrária e paz para trazer uma melhor qualidade de vida para as pessoas. Como parte desses esforços, o governo do Presidente Petro está negociando com grupos armados diferentes, com a conservação florestal como um objetivo explícito das discussões. Um dos grupos armados atualmente em processo de negociação, o Estado Mayor Central (EMC), incluiu penalidades sobre demastamento florestal como um “gesto de paz”. Entretanto, não está claro quando ou se as negociações chegarão a um acordo de paz final com cada um desses grupos.

As comunidades locais também têm promovido a gestão sustentável de recursos naturais e a conservação de florestas.

Aumento da perda de florestas primárias na Bolívia, Laos e Nicarágua

Nem todos os países tropicais tiveram reduções na perda de florestas primárias como o Brasil e a Colômbia. Bolívia, Laos e Nicarágua tiveram aumentos bruscos na perda de florestas em 2023, principalmente por causa de incêndios (no caso da Bolívia) e da expansão de terras agrícolas.

Bolívia

Na Bolívia, houve um aumento de 27% da perda de floresta primária, sendo este o terceiro ano consecutivo de aumentos. A Bolívia teve a terceira maior perda de floresta primária entre todos os países tropicais, apesar de ter menos da metade da área florestal tanto da República Democrática do Congo quanto da Indonésia.

Perda de floresta primária na Bolívia, 2002 a 2023

Incêndios continuam a ter um papel de destaque no país, contabilizando pouco mais de metade (51%) da perda florestal primária em 2023. As queimadas em países tropicais, como a Bolívia, geralmente são provocadas por seres humanos para fins agrícolas, como a reabertura de áreas para pastagem e a limpeza de terras para cultivo ou para reivindicar terras. Sob condições de calor e seca, os incêndios podem se espalhar sem controle em áreas florestais. A Bolívia teve um calor recorde em 2023 devido à combinação das mudanças climáticas causadas pelo homem e o fenômeno natural El Niño. Em 2023, a perda florestal devido a incêndios foi mais prevalente no departamento de Beni, que teve mais que o dobro de sua taxa de perda florestal primária de 2022. Queimadas novamente predominaram no Parque Nacional de Noel Kempff Mercado e outras áreas protegidas no país.

A expansão agrícola foi o outro grande impulsionador de perda de floresta primária. A expansão da soja resultou em quase um milhão de hectares de desmatamento no país desde a virada do século, dos quais quase um quarto pode ser atribuído às colônias menonitas. Embora a Bolívia tenha muito menos produção de soja que países vizinhos, a maioria de sua expansão ocorre  às custas da floresta. O governo continua a promover o agronegócio estabelecendo metas ambiciosas para as exportações de soja e carne bovina, promovendo a expansão do biodiesel e subsidiando a atividade agrícola.

Áreas prioritárias de perda florestal na Bolívia em áreas devastadas por incêndios

Áreas prioritárias de perda florestal na Bolívia em áreas devastadas por incêndios.

Laos

Laos também teve sua maior taxa já registrada (desde 2001) de perda de floresta primária em 2023, com um aumento de 47% de um recorde já alto em 2022. Apenas em 2023, foi perdido 1,9% das florestas primárias restantes de Laos, uma taxa de perda que é cinco vezes mais rápida do que o Brasil proporcionalmente a sua área de floresta.

Perda de floresta primária em Laos, 2002 a 2023

A perda de floresta primária em Laos ocorre principalmente por causa da expansão agrícola. Essa expansão é alimentada em parte pela demanda e pelo investimento no setor agrícola de Laos pela China, que é o maior importador de produtos agrícolas de Laos. A situação econômica de Laos também pode estar contribuindo para o aumento da perda florestal. Desemprego alto, taxa persistente de hiperinflação, depreciação da moeda e aumento no preço do óleo de cozinha aumentaram o custo das necessidades básicas, estimulando os agricultores a criar novos lotes agrícolas em florestas.

Nicarágua

A Nicarágua também teve um aumento na perda de floresta primária em 2023 e em anos recentes, com a perda de 60 mil hectares em 2023. Enquanto o país teve a décima primeira maior área de perda de floresta primária nos trópicos em 2023, teve a maior taxa de perda de floresta primária em relação ao seu tamanho,[2] perdendo 4,2% de sua floresta primária remanescente em um único ano.

Perda de floresta primária na Nicarágua, 2002 a 2023

A expansão da agricultura e da pecuária é a principal causa de perda florestal na Nicarágua. Mineração de ouro também: a área de concessões de mineração também quase dobrou desde 2021 para abranger quase 15% do país. Carne bovina e ouro são grandes exportações da Nicarágua, sendo grande parte de sua produção destinada aos Estados Unidos. Em muitos casos, o desmatamento foi acompanhado por invasões violentas de terra em territórios indígenas. Fontes afirmam que o governo é cúmplice no desmatamento e nas invasões de terra, também fechando grupos de defesa ambiental e indígena do país.

A perda de florestas primárias continua em ritmo acelerado na República Democrática do Congo

Taxas persistentemente altas de perda de florestas primárias na República Democrática do Congo (RDC) é motivo de preocupação. A Bacia do Congo é a última grande floresta tropical que permanece um sumidouro de carbono, ou seja, em que a floresta absorve mais carbono do que emite. A maioria dos países da Bacia do Congo tem tido níveis consistentemente baixos de perda de floresta primária, como é o caso do Gabão e da República do Congo. — países de Alta Floresta e Baixo Desmatamento (High Forest Low Deforestation, HFLD) — que continuaram a ter níveis baixos em 2023. Entretanto, mais da metade da floresta na Bacia do Congo está localizada na RDC, que está perdendo meio milhão de hectares de floresta tropical primária a cada ano. E embora a taxa de 2023 tenha aumentado apenas 3%, os pequenos aumentos contínuos ao longo de muitos anos estão se acumulando.

Perda de floresta primária da República Democrática do Congo, 2015 a 2023

Este gráfico mostra a perda de floresta primária desde 2015, quando a integração dos dados do satélite Landsat 8 e as atualizações do algoritmo de detecção de perdas UMD capturam melhor a perda em pequena escala, que é comum nos países da Bacia do Congo. A perda de floresta primária antes de 2015 está subnotificada nos dados.

As causas princiaps da perda na RDC são a agricultura itinerante (em que a terra é desmatada e queimada para o cultivo de curto prazo de culturas e deixada em repouso para permitir a regeneração das florestas e dos nutrientes do solo) e a produção de carvão, a principal forma de energia no país (gerada pelo corte e queima de madeira). A pobreza é generalizada e o acesso à eletricidade é limitado (cerca de 62% da população vive com aproximadamente US$ 2 por dia e 81% não tem acesso à eletricidade) e as populações locais dependem das florestas para atender às demandas de alimentos e energia.

A taxa de perda de floresta primária foi maior na parte leste da RDC, onde novas áreas prioritárias de perda surgiram em 2023. Grupos armados afetaram esta região por mais de duas décadas ao vender madeira e outros produtos da floresta para financiar suas operações, prejudicando as populações locais. Além disso, aproximadamente 5,6 milhões de pessoas foram deslocadas e sobrevivem desmatando a floresta para conseguir combustível e abrir a terra para agricultura.

Novas áreas prioritárias mostram a expansão das fronteiras da perda florestal na parte leste da República Democrática do Congo

Novas áreas prioritárias mostram a expansão das fronteiras da perda florestal na parte leste da República Democrática do Congo.

Outro causador da perda de floresta primária vista na RDC em 2023 foi a mineração artesanal e semi-industrial. Embora seja um fator relativamente pequeno na perda florestal, a mineração não realizada de forma responsável pode contribuir para o desmatamento e a degradação em escalas locais, além de abusos de direitos humanos dos trabalhadores e outros impactos negativos nas comunidades e ecossistemas.

Embora as taxas altas de perda de floresta primária continuem, o governo da RDC prometeu investir em uma economia não baseada inteiramente na exploração de recursos. Um trabalho como parte da New Climate Economy está definido para começar em 2024, o que promete recursos para proteger as florestas da República Democrática do Congo e possibilitar a transformação econômica necessária para reduzir a pressão sobre as florestas.

Perda da floresta primária na Indonésia permanece historicamente baixa apesar de um aumento em 2023

A Indonésia teve um aumento de 27% na perda de floresta primária em 2023, um ano do El Niño, embora a taxa permaneça bem abaixo das taxas de meados dos anos 2010s.

Perda de floresta primária na Indonésia, 2002 a 2023

Perda de floresta primária na Indonésia, 2002 a 2023.

 

De acordo com a análise do GFW, grande parte da perda de floresta primária na Indonésia fica em áreas que a Indonésia classifica como floresta secundária e outras coberturas de terra (por exemplo, agricultura em terras secas mistas, cultivos de fazendas, florestas plantadas, arbustos e outros). Isso acontece porque a definição de floresta primária do GFW é diferente da definição e classificação de floresta primária oficiais da Indonésia. Portanto, as estatísticas do GFW sobre a perda de florestas primárias na Indonésia são consideravelmente maiores que as estatísticas oficiais da Indonésia sobre o desmatamento em florestas primárias. 

O surgimento de condições de El Niño levaram à preocupação de que a Indonésia poderia enfrentar outra temporada de incêndios, como em 2015. Entretanto, os incêndios de 2023 tiveram um impacto menos grave do que previsto inicialmente. Em áreas rurais, incêndios são usados para desmatar a terra para a agricultura e podem fugir além dos limites das propriedades atingindo árvores e turfeiras, liberando o carbono armazenado para a atmosfera. Condições mais úmidas do que o El Niño em 2015 e investimentos feitos pelo governo em capacitação de prevenção de incêndios, bem como esforços para acabar com o uso de incêndios por comunidades locais, contribuíram para uma temporada de incêndios mais tranquila do que o esperado.

A perda de floresta primária em áreas superiores a 100 hectares constituiu 15% da perda na Indonésia em 2023. A expansão de plantações industriais ocorreu em vários locais adjacentes a plantações existentes de óleo de palma e de celulose e papel em Kalimantan Central, Kalimantan Ocidental e Papua Ocidental. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Florestas, essa expansão ocorreu em concessões dadas antes de 2014, quando a administração atual assumiu o cargo.

A perda de floresta primária em pequena escala também foi predominante em todo o país em 2023. Pequenos desmatamentos para a agricultura contribuíram para perdas contínuas em várias áreas protegidas, incluindo o Parque Nacional Tesso Nilo e a Reserva de Vida Selvagem Rawa Singkil. Outras perdas ligadas à mineração puderam ser vistas em Sumatra, Maluku, Central Kalimantan e Sulawesi.

Incêndios mais uma vez impulsionam a perda de cobertura arbórea fora dos trópicos

Como nos anos anteriores, a tendência global na perda de cobertura arbórea depende grandemente da dinâmica anual de incêndios nas florestas boreais. 2023 teve um aumento de 24% na perda de cobertura arbórea, de 22,8 milhões de hectares em 2022 a 28,3 milhões de hectares em 2023, o que pode ser totalmente explicado por um enorme aumento de perda de cobertura arbórea provocada por incêndios no Canadá. No restante do mundo, a perda de cobertura arbórea diminuiu 4% no geral.

Perda de cobertura arbórea no Canadá, 2001 a 2023

Como em muitas áreas do mundo, secas intensas e o aumento de temperaturas impulsionadas pelas mudanças climáticas se espalharam por todo o Canadá. Isso levou à pior temporada de incêndios já registrada, com um aumento de cinco vezes na perda de cobertura arbórea devido a incêndios entre 2022 e 2023. Temperaturas elevadas criaram combustível seco e extremamente inflamável para incêndios, o que significa que os incêndios têm mais probabilidade de começar, e também mais probabilidade de se transformar em megaincêndios.

Embora incêndios possam ser parte natural do ecossistema em florestas do norte, que podem muitas vezes se regenerar, incêndios mais intensos e frequentes podem levar a mudanças permanentes nas florestas. Incêndios de combustão lenta também podem persistir abaixo da terra e se reacender novamente, causando mais danos.

As consequências dos incêndio no Canadá em 2023 também foram além das florestas e resultaram em casas destruídas e mortes, e temporariamente causaram um dos piores índices de qualidades do ar no mundo em algumas das partes mais populosas do Canadá e dos Estados Unidos.

O progresso é possível, mas precisa ocorrer em todos os lugares

Os dados de 2023 demonstram que os países podem cortar as taxas de perda de florestas tropicais se reunirem a vontade política para fazê-lo, e os países que conseguiram isso podem fornecer lições para outros. Entretanto, a experiência passada no Brasil mostra que tal progresso pode ser revertido quando os ventos políticos mudam.

Incentivos e mecanismos financeiros duradouros que valorizam florestas de pé são necessários para deixarem as florestas menos vulneráveis à degradação por causa de fazendas, minas, infraestrutura ou outras atividades econômicas. O REDD+ e outros mecanismos de pagamento baseados em desempenho podem fornecer um incentivo financeiro para a proteção e restauração de florestas ao valorizar o carbono florestal, e medidas regulatórias ou voluntárias para eliminar o desmatamento de cadeias de suprimentos de commodities podem ajudar a combater os drivers econômicos do desmatamento tropical. Investimentos na bioeconomia também podem levar ao progresso na redução do desmatamento enquanto promovem o crescimento econômico e garantem os meios de subsistência daqueles que contam com as florestas.

Por fim, soluções que são verdadeiramente adaptadas ao contexto local, em conjunto com soluções globais para a mudança climática e a sustentabilidade, devem andar juntas para reduzir a perda florestal em todos os lugares.


[1] Observe que usamos “perda de cobertura arbórea” em vez de “perda de floresta primária” porque os dados de floresta primária para esta análise são para florestas tropicais úmidas e não abrangem ecossistemas mais secos como o Cerrado. A perda capturada nesta estatística inclui toda a perda, incluindo vegetação secundária e plantações.

[2] dos países com pelo menos um milhão de hectares de floresta primária tropical em 2001.