
Cidades devem ser lugares onde as pessoas possam, acima de tudo, ser felizes (Foto: Victor Moriyama/WRI Brasil)
Lá se vão sete anos. E as coisas mudaram nos últimos sete anos.
Felizmente, esse cenário está mudando.
Em 2012, foi instituída a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU). No ano seguinte, o aumento das tarifas de ônibus levou milhões de brasileiros às ruas na reivindicação por um transporte coletivo de qualidade e mais transparência nos processos de tomada de decisões. A mobilidade, então, e com ela a qualidade de vida nas cidades como um todo, ganharam destaque na agenda urbana.
Seja por meio do desenvolvimento de seus Planos de Mobilidade Urbana, da construção de novas ciclovias, de medidas para a priorização do transporte coletivo ou da qualificação dos espaços públicos, as cidades brasileiras vêm trabalhando para se tornarem ambientes mais sustentáveis e humanos. Cada vez mais, vemos surgir aqui bons exemplos que podem ser replicados e inspirar novas histórias de sucesso. Hoje, separamos apenas sete deles. Exemplos, em suma, de cidades que buscam se tornar lugares mais agradáveis, onde as pessoas possam viver, acima de tudo, felizes.
Nasce uma Rua Completa
Uma rua intensamente utilizada pelos pedestres. Na Rua Joel Carlos Borges, onde está a Estação Berrini, no horário de pico da manhã, são 1.820 pessoas caminhando e apenas 67 veículos. Essa foi a via escolhida por São Paulo para passar por um processo de requalificação conforme os princípios das Ruas Completas, que buscam promover uma distribuição mais democrática do espaço entre os usuários da vida. O redesenho da rua aumentou o espaço disponível aos pedestres, antes muitas vezes obrigados a caminhar no meio da rua, e foram instalados balizadores que ajudam a proteger quem caminha e a controlar a velocidade dos veículos.

Rua Joeal Carlos Borges, em São Paulo, após mudanças para garantir mais espaço e segurança aos pedestres (Foto: Pedro Mascaro/WRI Brasil)
Bicicletas e transporte coletivo integrados
O programa Bicicleta Integrada, de Fortaleza, rompeu com a lógica dos sistemas de compartilhamento de bicicletas tradicionais. A possibilidade de permanecer com a bicicleta alugada por até 14 horas permite que o usuário passe a noite com a bicicleta ou fique com ela durante o expediente de trabalho. O limite mais longo para a permanência com a bicicleta faz com que o sistema de Fortaleza estabeleça de fato uma integração com o transporte coletivo, já que o último trecho dos deslocamentos – da estação até em casa ou até o trabalho – muitas vezes se torna um desestímulo ou mesmo um impeditivo para o uso do transporte coletivo. Inaugurado em 2016, o programa é uma das ações previstas no Plano Diretor Cicloviário de Fortaleza.
Direito à cidade
Uma das formas de garantir a equidade e a inclusão das famílias de baixa renda nas áreas urbanas, onde terão acesso aos serviços e oportunidades da cidade, é a oferta de habitação em áreas bem localizadas. O Projeto Junção, em Rio Grande, é um exemplo de empreendimento do Programa Minha Casa, Minha Vida que está sendo construído conforme esse princípio. Além de estar localizado próximo à zona central da cidade, o empreendimento inclui elementos de Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS), como centros de bairro, ciclovia e qualificação das calçadas.

1.287 famílias serão beneficiadas pelo Projeto Junção, em Rio Grande (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil)
Ruas Completas na grade curricular
A Universidade Federal de Juiz de Fora anunciou, no final do ano passado, um novo projeto de extensão que pressupõe a criação de uma disciplina intitulada “Projeto e Mobilidade Urbana”, na qual os alunos explorarão o conceito de Ruas Completas. A ideia é que a nova disciplina funcione como um ateliê, permitindo que os alunos realizem diagnósticos e proponham melhorias para as vias da cidade, como a construção de ciclovias e ciclofaixas, prioridade do transporte coletivo e espaço seguro e adequado para pedestres. Com essa nova possibilidade no currículo dos futuros profissionais, a cidade – que já faz parte da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono e promoverá a transformação nas ruas Marechal Deodoro e Batista de Oliveira – poderá ter ainda mais ruas completas no futuro.
Transformação a partir do transporte coletivo
A Avenida Paraná, no centro de Belo Horizonte, é um exemplo do poder de transformação urbana a partir da priorização do transporte coletivo. A avenida é uma das vias por onde passa o corredor da área central do MOVE, sistema BRT da capital mineira. Com a construção do corredor, a Avenida Paraná foi repaginada. De uma via inóspita e insegura a um local mais agradável e vibrante. As mudanças incluíram travessias seguras, espaço adequado para a circulação dos pedestres, ciclovia e vegetação, além, é claro, do corredor dedicado aos ônibus do sistema. Em 2017, a cidade fez uma inspeção nas 44 estações do sistema, para qualificar os acessos e as condições de segurança de pedestres e passageiros.

Mudança na avenida Paraná com o corredor do MOVE (Foto antes: Google / Depois: Luísa Zottis/WRI Brasil)
Ambiente favorável às inovações urbanas
Vale do Pinhão é o Ecossistema de Inovação de Curitiba, criado para fomentar a inovação na cidade. O programa reúne startups, incubadoras, aceleradoras, universidades, fundos de investimento e coletivos no Engenho da Inovação, instalado no antigo Moinho Rebouças. A capital paranaense busca criar um ambiente que incentiva o empreendedorismo de impacto. Assim, nasceu também o Worktiba, primeiro coworking público do país. O espaço reaproveitou móveis e estrutura já existente na administração municipal e oferece dez estações de trabalho. A seleção das empresas é feita por edital e as selecionadas não têm custos para utilizar a estrutura, que busca estimular pequenos e microempreendedores que tenham como foco de seu negócio projetos de responsabilidade social. As iniciativas estão gerando resultados: Curitiba ficou no segundo lugar geral da edição de 2017 do ranking Connected Smart Cities, que avalia as cidades mais inteligentes do Brasil com base na integração entre mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, tecnologia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo e governança.
Incentivo à mobilidade sustentável desde cedo
Em Uberlândia (MG), um estudo conduzido pelo Instituto Saúde e Equilíbrio mostrou que 27% das crianças nos anos iniciais de ensino não sabem andar de bicicleta. Para reduzir esse índice e incentivar hábitos saudáveis desde cedo, uma parceria entre a prefeitura e o instituto responsável pelo estudo deu início a uma iniciativa inovadora: um projeto que está ensinando os alunos da rede municipal da cidade a andar de bicicleta. Além do aprendizado de uma prática saudável, o projeto busca promover a conscientização sobre o trânsito, abordando questões de segurança e como se deslocar.