
Estudo focou no uso da bicicleta, meio de transporte sustentável e saudável. (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil)
Aos poucos acompanhamos ansiosos o crescimento do uso da bicicleta nas cidades brasileiras. Aquelas que projetam e planejam um futuro mais sustentável aumentam gradativamente o número de ciclovias, infraestruturas e programas voltados ao pedalar. Além de ser um meio de transporte em si, a bicicleta é também um modo de chegar ao transporte coletivo, fazendo dessa uma combinação perfeita. Para que essa prática se dissemine, o que pode estar faltando é apenas acesso ao transporte de massa e mais ciclovias. Essa é a conclusão de uma pesquisa publicada recentemente no International Journal of Environmental Research and Public Health (IJERPH) que buscou identificar a influência que a distância das residências às ciclovias exerce na escolha da bicicleta como transporte diário em São Paulo.
Ao usar dados do Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital), que trabalhou em um estudo com 3.111 pessoas que residiam na capital paulista em 2014 e 2015, o grupo de pesquisadores concluiu que as chances da bicicleta ser adotada como meio de transporte eram 154% maiores nos casos onde uma ciclovia estava instalada a até 500 metros da habitação da pessoa.
Além disso, a presença de estações de trem ou metrô a até 1.500 metros das residências foi associada a uma chance 107% maior ao uso da bicicleta para transporte por pessoas que moram em locais sem essas condições. Esse resultado independe do sexo, idade, educação e lugares onde as pessoas vivem.
Segundo o artigo intitulado “Cycling for Transportation in Sao Paulo City: Associations with Bike Paths, Train and Subway Stations” (“Pedalando para o transporte na cidade de São Paulo: associações entre ciclovias, estações de trem e metrô”, na tradução livre), menos de um terço das pessoas tinham acesso a ciclovias ou estações de trem/metrô a até 500 metros de suas residências. Apenas um quarto das pessoas moravam a menos de 1.500 metros de estações de trem/metrô.
Esse resultado vai ao encontro de um estudo realizado pelo WRI Brasil e o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) que estabeleceu o indicador PNT (sigla para o termo em inglês People Near Transit). Ele expressa que, em São Paulo, apenas 25% das pessoas vivem a até um quilômetro de estações de transporte de média e alta capacidade. No entanto, esse número sobe para 74% quando o raio é ampliado para três quilômetros, uma distância razoável para uma pessoa que se desloca de bicicleta.
Condições para o uso da bicicleta
O estudo publicado no IJERPH indica que menos de 10% da população adulta de cidades latino-americanas usa a bicicleta como transporte. Esse número sobe para 25% quando falamos em países europeus como Holanda e Dinamarca. Temos alguns indícios das razões pelas quais a maior parte das cidades no Brasil ainda não motivam as pessoas ao uso da bicicleta. São determinantes mais ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas, conectividade, um ambiente com velocidades mais baixas, acessos mais seguros, integração com o transporte coletivo, instalações como bicicletários nas estações, e até programas de compartilhamento de bicicletas, educação e incentivo ao uso das bikes.
“Pessoas precisam de mais oportunidades para adquirir uma bicicleta, um programa de compartilhamento de bicicletas mais desenvolvido, intervenções baseadas nas comunidades para demonstrar as oportunidades e benefícios desse tipo de transporte para diferentes populações”, concluem os pesquisadores.
Uma pesquisa na cidade de Atlanta formulou uma lista de perguntas para auxiliar a avaliar se o entorno de uma estação de transporte se adéqua ao uso da bicicleta. A listagem pode ser usada em processos de planejamento liderados por agências de transporte e/ou cidades que tenham interesse em facilitar os deslocamentos bicicleta-transporte coletivo. Conheça:

Lista formulada pelo Alta Planning and Design e adaptada para o português.