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Estamos prontos para os veículos autônomos? Existe um caminho desconhecido a frente
Veículos autônomos já perambulam por ruas de diversas cidades grandes. (Foto: Jaguar MENA/ Flickr)

Veículos autônomos já perambulam por ruas de diversas cidades grandes. (Foto: Jaguar MENA/ Flickr)

Este post foi escrito por Darío Hidalgo e publicado originalmente no TheCityFix.

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Veículos autônomos (AVs) já estão sendo testados na Califórnia, Pittsburgh, Cingapura, Paris e Oslo. E, à medida que se espalham, tornam-se um foco de debate. Defensores dos AVs apontam para a promessa de deslocamentos mais seguros, rápidos, limpos e convenientes. Por outro lado, é preciso refletir: as cidades estão preparadas para essa revolução ou os AVs criarão uma série de novos padrões de viagem que acabarão contribuindo para mais congestionamentos, poluição e perigo nas ruas?

Os AVs têm o potencial de remodelar profundamente as cidades, isso está claro, mas nossa compreensão da tecnologia e do seu impacto muda rapidamente. Na conferência Transforming Transportation 2018, co-organizada pelo Banco Mundial e WRI Ross Center for Sustainable Cities, um painel resumiu claramente o panorama atual e alguns dos principais pontos de conflito para partidários e opositores dos autônomos.

Pittsburgh

A cidade de Pittsburgh tem experiência com AVs desde 1989, em grande parte devido ao conhecimento desenvolvido em suas universidades. Não surpreende, então, que a cidade tenha se tornado a primeira a permitir que quatro Ubers autônomos fossem liberados em 2016. No início do projeto, os motoristas puderam optar por usá-los e não foram cobrados, disse Karina Ricks, diretora de mobilidade e infraestrutura da cidade. Hoje, estima-se que existam 40 Ubers autônomos em circulação, as viagens não são mais gratuitas ou limitadas para voluntários, e mais cinco companhias de veículos compartilhados estão usando as ruas de Pittsburgh como seu laboratório de testes.

Pelo menos nesta cidade da Pensilvânia, os AVs são um serviço de mobilidade totalmente operacional. Além disso, os AVs são uma parte importante da ambiciosa agenda 2030 da cidade, que inclui a redução do uso de energia, água e emissões advindas dos transportes em 50%, segundo Ricks.

Uma pesquisa realizada seis meses após o início das operações da Uber com autônomos mostrou uma resposta pública positiva: 59% dos entrevistados disseram se sentir seguros ou muito seguros operando ao lado de um veículo robótico e 68% ficaram satisfeitos com os testes em sua cidade. No geral, os ciclistas ficaram felizes com os AVs transitando a uma distância segura e os pedestres se sentiram mais seguros quando os AVs não davam a partida imediatamente após os semáforos ficarem verdes. Além disso, tanto ciclistas quanto pedestres se sentiram mais seguros com os veículos trafegando dentro dos limites de velocidade locais (o que incomodou alguns motoristas mais agressivos).

Porém, mesmo com esses benefícios, o teste mostra que AVs não são perfeitos. Os veículos ainda têm dificuldade em se adaptar a novos ambientes construídos, detectar a presença de tráfego de outros veículos e reconhecer normas sociais em contextos locais, como a prática em Pittsburgh de, em interseções, o motorista que vai seguir em frente dar a preferência para outro motorista virar à esquerda (prática contrária às normas usuais de tráfego), chamada de “Pittsburgh left”.

Lidando com as mudanças

Stacy Cook, associada sênior da Cambridge Systematics, uma empresa de inovação de transporte, acredita que a tecnologia atualmente testada nas cidades está muito à frente de nossa capacidade de lidar com ela. Os governos, em colaboração com o setor privado, devem primeiro perguntar quais os objetivos sociais que precisam ser alcançados, e então garantir que esses objetivos sejam atendidos por novas tecnologias.

A própria Ricks notou uma série de questões políticas que Pittsburgh ainda enfrenta devido à entrada de AVs, incluindo a forma como os líderes da cidade gerenciam a interferência financeira da perda de impostos de combustível e sobre propriedade e as receitas de estacionamento.

Cook citou uma pesquisa de 2016 sobre 50 estados e autoridades de transporte metropolitano nos Estados Unidos. Apenas 6% dos entrevistados indicaram que estavam promovendo fortemente a integração de AVs, o que muitos especialistas apontam como necessário para reduzir congestionamentos e emissões; 35% estavam fazendo pouco e 40% não estavam nem pensando na questão dos AVs.

No geral, existem grandes oportunidades para melhorar a segurança viária e reduzir congestionamentos e emissões. Mas poucos governos estão pensando nisso. Para Stephen Cotton, secretário-geral da Federação Internacional dos Trabalhadores do Transporte, a principal preocupação é a perda de empregos. Em sua visão, para garantir que a revolução autônoma seja inclusiva, as operadoras precisam participar da conversa. Precisamos de uma visão humanitária do futuro, afirmou ele, que considera as necessidades dos trabalhadores dos transportes ao lado dos usuários.

Mais do que uma revolução tecnológica

David Ward, secretário-geral do Programa Global New Car Assessment, instituição beneficente do Reino Unido, ofereceu um contraponto ao exagero em torno da “revolução” dos carros autônomos, dizendo que o cenário da mobilidade não está mudando tão rapidamente quanto muitos pensam. A substituição da frota leva muito tempo, disse Ward, já que os proprietários de carros hoje estão mantendo seus veículos por mais tempo do que no passado. Para ter um impacto significativo em 20 anos, um fabricante precisaria oferecer um veículo totalmente funcional e de custo extremamente baixo imediatamente. Esta é uma boa notícia, disse ele, porque temos tempo para nos prepararmos melhor.

Ao mesmo tempo, existem muitas outras tecnologias que estão prontas e podem ser implementadas imediatamente para alcançar os benefícios de segurança viária que os AVs prometem: controle eletrônico de estabilidade (tecnologia antiderrapante atualmente ausente em 40% da frota global de veículos); sistemas autônomos de freios e adaptação inteligente de velocidade (mapas pré-carregados e sensores de bordo que identificam os limites de velocidade e impedem que os condutores os excedam). Todos esses elementos serão obrigatórios para veículos na Europa até o final de 2018.

Apesar de um cenário pouco claro, uma questão que se destaca nos debates é a necessidade de entender e defender o progresso social, a proteção ambiental, a segurança viária e a eficiência econômica, enquanto, em paralelo, cidades e empresas devem trabalhar para resolver as falhas da tecnologia. Se as cidades cederem esse espaço ao setor privado, o efeito poderá ser desastroso para locais que já enfrentam congestionamentos, ruas cada vez mais perigosas e poluição do ar. Esta é a razão pela qual o WRI apoia os recentemente lançados Princípios de Mobilidade Compartilhada, que, entre outros objetivos, defendem que os veículos autônomos em áreas urbanas densas sejam operados em frotas compartilhadas.

 

InoveMob

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