
O Bikesharing faz parte da mudança de paradigma na mobilidade urbana (Flickr / WRI Ross Center for Sustainable Cities)
Este post foi escrito por Robin Chase e publicado originalmente no WRI Insights.
A mobilidade está passando por uma enorme mudança – do surgimento de carros e bicicletas compartilhados até os iminentes carros autônomos – e estamos apenas começando a entender qual o efeito nas cidades. A revolução tem implicações para a equidade, a acessibilidade e a sustentabilidade, e pegou muitas cidades despreparadas, levando a batalhas judiciais, impactos inesperados no congestionamento e muita incerteza.
Um conjunto de reconhecidas organizações que trabalham com cidades e transportes, incluindo o WRI, desenvolveu os Princípios de Mobilidade Compartilhada para Cidades Humanas para ajudar as cidades a entender essas mudanças. Agora, com 15 das principais empresas mundiais de transporte e tecnologia aderindo à causa, inovadores do setor privado enviaram uma poderosa mensagem de apoio em torno de uma visão comum sobre o futuro das cidades e como podemos chegar lá.
Ao apoiar os Princípios, essas empresas, que incluem Didi, Lyft e Uber, bem como os gigantes das bicicletas compartilhadas como Ofo e Mobike, estão se lançando atrás de um conjunto de ideias básicas sobre como a mobilidade deve funcionar nas cidades.
São 10 princípios, mas me permita destacar três deles para explicar como eles podem ajudar a resolver problemas de mobilidade urbana.
Gerar benefícios públicos via dados abertos
Novas empresas de mobilidade estão gerando quantidades estupendas de dados – desde congestionamentos e velocidades em todas as ruas da cidade o tempo todo, origens e os destinos das viagens, até locais com problemas de segurança com base em padrões de veículos danificados. A padronização de dados abertos permite às cidades uma maneira de aproveitar esses fluxos de dados de forma responsável para embasar o gerenciamento de trânsito e o do transporte. Embora isso tenha se tornado uma mensagem recorrente, ainda não há muito movimento nesse sentido. Empresas apoiarem esse princípio (número oito na lista de 10) é um fato muito relevante.
Quando as cidades têm acesso a dados anônimos de transporte, elas se tornam capazes de tomar decisões melhores para os serviços de transporte público; compreender as velocidades de tráfego, o uso das pistas e das calçadas e agir a respeito; planejar infraestrutura de transporte com maior precisão; e responder a acidentes de trânsito e outros eventos inesperados, como desastres, de maneira muito mais rápida e eficaz.
Os dados abertos também permitem que os empresários inovem e concorram – todos os aplicativos de localização e mapas dependem de dados abertos, por exemplo –, além de facilitar às pessoas que planejem levando em consideração vários modos de transporte.
Cobrar tarifas justas
O Princípio 7 encoraja a cobrança de tarifas justas em todos os modos de transporte, um passo que contribuiria para uma maior igualdade de condições e deixaria o mercado agir sozinho.

Ônibus e aplicativos são parte da solução (Flickr/Via Tsuji)
As ruas nas cidades são recursos escassos e valiosos. Agora, no entanto, permitimos o uso desse espaço com incentivos disfarçados, subsídios e prioridades, muitas vezes focados no modo de viagem menos eficiente, o automóvel particular usado individualmente. O estacionamento na rua, o espaço mais conveniente e valioso para estacionar, é paradoxalmente mais barato do que o estacionamento na garagem privada. Nos horários de pico, ônibus que transportam 60 passageiros ficam presos em ruas congestionadas por veículos de ocupação única. Os impostos sobre os combustíveis em muitos países não cobrem o custo de construção e manutenção da infraestrutura rodoviária. Veículos elétricos não pagam impostos sobre o combustível. Os veículos com motores de combustão interna não pagam nada pelos custos reais de suas emissões, pelos acidentes de trânsito, pelos danos à saúde das pessoas e à poluição do ar. Enquanto isso, o transporte a pé e as bicicletas, que são meios de transporte limpos e eficientes, precisam disputar o espaço.
Tarifas mais justas podem ajudar a reduzir essas inconsistências. As cidades, as empresas do setor privado, as ONGs e os conselheiros que endossaram esses princípios estão afirmando sua convicção de que as tarifas devem incluir o preço de externalidades como congestionamentos, poluição e riscos de segurança no trânsito. As receitas dessas externalidades poderiam então ser redistribuídas para a sociedade através de serviços de transporte público melhores e mais acessíveis e infraestrutura para caminhar e pedalar, por exemplo.
Veículos autônomos compartilhados em centros urbanos densos
Os veículos autônomos são a próxima grande tecnologia disruptiva no horizonte. O Princípio 10 incentiva que eles sejam de uso compartilhado em áreas urbanas densas, não individual.
A decisão de tirar um carro da garagem hoje é feita principalmente com base em seus custos mínimos – quanto vai me custar para fazer essa viagem? As pessoas geralmente pensam em termos de combustível, pedágios e custos de estacionamento, e ignoram a única despesa marginal maior: seu tempo pessoal (ou de um motorista pago).
Descontado o motorista, o custo marginal de movimentar um carro será insignificante. Pesquisadores da UC Davis calculam esse custo em 10 centavos de dólar por quilômetro. Em vez de pagar por estacionamento, será mais barato manter o veículo rodando no trânsito ou manda-lo de volta para casa onde há estacionamento gratuito. Existe uma possível desvantagem: carros autônomos podem se tornar um serviço de correio pessoal para entregas e retiradas de qualquer item, levando a mais congestionamento e poluição, e não menos. Os veículos compartilhados eliminam esse perigo.
Exigir que os veículos autônomos sejam compartilhados em áreas metropolitanas densas também relaciona-se diretamente com outros princípios. Se apoiarmos o Princípio #5 (projetar com acesso para todos), o compartilhamento significa que pessoas com rendas mais baixas também poderão aproveitar os benefícios dos carros autônomos, pagando apenas por um assento em vez de todo o veículo. Se seguirmos a orientação do Princípio #3 (encorajar o uso eficiente do solo e da infraestrutura), esses veículos devem ser compartilhados.
As frotas compartilhadas não significam a imposição de apenas um tipo de veículo. Ainda haveria uma diversidade de automóveis e opções de preço/qualidade, incluindo o que chamamos hoje de transporte de massa. Mas o compartilhamento maximiza os benefícios de segurança e emissões, e garante que os profissionais gerenciem a manutenção e as atualizações de software.
Destino: inovação
Os Princípios de Mobilidade Compartilhada foram escritos em 2017 por uma coalizão formada por nove ONGs, incluindo o WRI. O endosso dessas 15 empresas, que representam 77 milhões de viagens de passageiros por dia, sinaliza que as empresas também estão comprando a ideia de que a sustentabilidade é necessária para a saúde das cidades. Mais importante que isso, precisamos dessas empresas para colocar a mão na massa. Cada um, à sua maneira, mudou a mobilidade. Agora, precisamos dessa experiência em tecnologia e inovação para melhorá-la.