O Transforming Transportation 2018 debate o papel das inovações de mobilidade em promover acesso às oportunidades do meio urbano e, ao mesmo tempo, criar uma nova concepção de liberdade

Um novo horizonte para a mobilidade: liberdade, inovação e múltiplas possibilidades de escolha (Foto: BeyondDC/Flickr)
“Estamos deixando muitas pessoas para trás porque não somos capazes de vê-las, de mapeá-las”, afirmou Nicolas Estupiñan, do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), sobre um dos revezes da revolução digital que vivemos hoje na mobilidade, em particular, e nas cidades, de forma geral. “Na América Latina, cerca de 50% das pessoas não utilizam a internet regularmente. Estamos falando de mobilidade sustentável para todos? Então precisamos incluir todos”, completou.
As inovações tecnológicas que deram origem ao movimento da Nova Mobilidade têm o potencial de promover uma quebra de paradigma, ao incorporar no cenário dos nossos deslocamentos cotidianos serviços de transporte sob demanda como o Uber, sistemas de compartilhamento de bicicleta sem estações e até veículos autônomos. Sem dúvida, mudanças como essas e as que ainda estão por vir podem remodelar radicalmente o transporte urbano.
No entanto, essa não será uma revolução saudável se não abranger a todos, independentemente de gênero, localização geográfica, faixa de renda. Se em paralelo ao avanço das inovações não houver a preocupação em garantir o acesso a esses bens e serviços, mais uma vez os mais vulneráveis e os que mais precisam também serão os mais prejudicados. O assunto foi tema de discussões na última semana durante o Transforming Transportation, em Washington, D.C.
“No fim das contas, a questão não é se deslocar mais rápido: é se deslocar de forma eficiente. O acesso também precisa ser visto como um serviço”, apontou Diego Canales, especialista da área de inovação e dados no WRI Ross Center for Sustainable Cities. Para isso, as cidades precisam aprender a coletar, analisar e utilizar dados de forma inteligente.
As administrações municipais precisam entender, acredita Estupiñan, que obter dados estratégicos, que permitam qualificar infraestruturas e sistemas existentes, é mais vantajoso do que simplesmente construir novas infraestruturas. David Adelman, Vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Via, empresa de transporte compartilhado dos Estados Unidos, também reforça essa necessidade: “Os dados não devem ser vistos apenas como informações específicas para uma ação pontual. As cidades devem pensar de uma maneira mais ampla. Como os diferentes serviços se conectam, como cruzar dados de diferentes sistemas para qualificar esses serviços e a mobilidade”.
O transporte é o que promove o acesso das pessoas às oportunidades de trabalho, serviços e demais benefícios oferecidos pelo meio urbano. Trata-se de um indutor de inclusão e deve ser uma prioridade política. Do mesmo, governos locais precisam renovar sua própria visão da mobilidade para poder tirar o máximo das inovações que já estão por aí, como salienta o Secretário Geral do Fórum Internacional de Transportes, Young Tae Kim: “Precisamos combinar a visão tradicional de transporte com as inovações em mobilidade ou não sairemos do lugar”.
Essa é uma oportunidade única que se apresenta às cidades neste início de milênio. O futuro está atrelado ao digital, e a tecnologia traz consigo a possibilidade de uma nova narrativa para a liberdade. É o que explica Jackie Klopp, pesquisadora da Universidade Columbia: “É verdade que o imaginário político ainda é muito centrado nos carros, mas existe algo que começou a mudar isso: os smartphones. Essa é uma ferramenta poderosa para mudarmos a narrativa da liberdade”. Antes associada ao carro, a concepção de liberdade passa agora a migrar para a possibilidade de escolha. “Se nos preocupamos com um planeta democrático, isso é o que precisamos promover. Liberdade e múltiplas possibilidades de escolha, inovação, sustentabilidade. E precisamos que os governos trabalhem juntos por isso”, acrescenta a especialista.
Quando se fala em Nova Mobilidade, nas novas alternativas de transporte que chegam às pessoas dependendo apenas de alguns cliques em uma tela, estamos diante menos de uma questão de quais tecnologias serão utilizadas ou não, mas das políticas que regulamentarão e viabilizarão que essas tecnologias beneficiem as pessoas. Por isso, o comprometimento político – a compreensão de que é preciso acompanhar as mudanças – é substancial. E que caminho as cidades devem seguir? “Se eu puder dar um conselho, meu principal conselho é este: se você quer ser lembrado, seja ousado. Faça as mudanças necessárias”, conclui Estupiñan.
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Transforming Transportation é a conferência anual correalizada pelo Banco Mundial e pelo WRI Ross Center for Sustainable Cities em Washington D.C. Este ano, o tema do evento foi “mobilidade sustentável para todos na era digital”. Confira a cobertura completa dos debates em #TTDC18 e no TheCityFix.