Paris continua firme na luta para se tornar uma cidade mais amigável para pedestres e ciclistas. Desde 2015, a prefeitura instaurou oficialmente o Dia sem Carro, proibindo a circulação de veículos em alguns pontos da cidade e abrindo as ruas para os pedestres. Em 2015, uma das principais avenidas da cidade, a Champs-Élysées, foi aberta para pedestres e, no ano passado, cerca de 50% do território parisiense foi fechado para os carros, favorecendo o transporte ativo na capital francesa. Em 2017, o plano da prefeitura foi mais ambicioso: fechar 100% do território da cidade para a circulação de veículos, com exceção do anel periférico. O mapa abaixo mostra a evolução do perímetro aberto para pedestres desde 2015:
Veículos como táxis, caminhões de bombeiros e ambulâncias ainda puderam circular dentro da capital, mas com velocidade máxima permitida de 30 km/h. No entanto, foram definidas áreas exclusivamente “pedestrianizadas”, ou seja, territórios onde até mesmo esses veículos estavam proibidos de circular, salvo raríssimas exceções. Essas áreas foram totalmente abertas aos pedestres e ciclistas, que circulavam tranquilamente pelas ruas. Como nas edições anteriores, a Avenida Champs-Élysées foi um dos principais pontos que atraiu a população, mesmo em um domingo nublado e com chuvas ao longo do dia. O início oficial do Dia sem Carro foi às 11h da manhã, e cerca de 30 minutos depois do fechamento para os carros, a avenida já se encontrava totalmente ocupada pelas pessoas: pedestres passeando, fazendo exercícios, crianças andando de bicicleta ou patinete e músicos de rua animando o local. Uma grande festa ao ar livre.

Avenida Champs-Élysées às 11h30 da manhã, logo após o início oficial do Dia sem Carro (Foto: Laura Azeredo)
Outra região da capital francesa que foi totalmente aberta para a circulação de pedestres foi o bairro Marais, um dos principais bairros comerciais da cidade. A chuva não afastou turistas e moradores que curtiam o local no horário do almoço, circulando tranquilamente pelas vias totalmente liberadas dos automóveis.

Mesmo com a chuva, pedestres aproveitavam para circular tranquilamente pelas ruas do Marais (Fotos: Laura Azeredo)
Conversando com pedestres no local, eles descreveram a iniciativa da prefeitura como “sympa”, ou seja, simpática, agradável. Alguns relataram que, mesmo nas ruas onde havia circulação de veículos, todos estavam respeitando a velocidade máxima permitida de 30km/h e muitos estavam parando para pedestres atravessarem, mesmo quando o sinal estava aberto para veículos. Outra observação feita por pedestres que circulavam no bairro foi que as ruas estavam mais silenciosas, sem barulhos de motores e buzinas, apenas de pessoas conversando e passeando.

O silêncio das ruas foi um dos apontamentos feito por pedestres que circulavam pela cidade neste dia (Foto: Laura Azeredo)
O turístico bairro Montmartre também teve parte do seu perímetro aberto exclusivamente para pedestres, sem circulação de veículos. A região apresentava, como de costume, muitos turistas andando pelas ruas, no entanto, sem precisar ocupar somente as estreitas calçadas. Guardas de trânsito orientavam os motoristas sobre o acesso restrito ao local, permitindo o acesso somente a moradores que apresentavam um comprovante de residência, uma exigência da prefeitura.

Turistas circulando no espaço por onde geralmente passam veículos e guardas de trânsito orientando motoristas sobre o acesso restrito ao local (Fotos: Laura Azeredo)
Apesar de ter restrição parcial aos veículos, o entorno do canal Saint-Martin foi majoritariamente ocupado por ciclistas, que pedalavam tranquilamente pela avenida Quai de Valmy e lamentaram que o dia não estava com sol, mas que isso não os impediu de sair para pedalar. Os automóveis que circulavam pela região respeitavam o limite de velocidade, convivendo harmonicamente com os ciclistas e pedestres que estavam no local, mesmo sob a chuva.

No Quai de Valmy, próximo ao canal Saint-Martin, ciclistas predominavam na avenida e conviviam em harmonia com os veículos que andavam em baixa velocidade (Fotos: Laura Azeredo)
Segundo o secretário de transportes de Paris, Christophe Najdovski, o principal objetivo da “Journée sans ma voiture” é ser um dia “lúdico e pedagógico”. A ideia é conscientizar a população sobre o uso excessivo do automóvel e sua consequência para a poluição do ar, mostrando que há outras formas de se deslocar dentro da cidade, que conta com uma das melhores redes de transporte público da Europa. Em todas as edições, o Dia sem Carro apresentou uma queda significativa no índice de poluição atmosférica, e não foi diferente em 2017: houve uma queda de 35% no índice, segundo medições realizadas pela Airparif. Quanto ao ruído, medições da Bruitparif confirmaram uma redução de 54% de ruído na região da Avenida Champs-Élysées (-2,7dB).

Circular tranquilamente pelas ruas de Paris foi uma realidade no Dia sem Carro (Foto: Laura Azeredo)
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, participou de diversas atividades que aconteceram no dia, aproveitando para pedalar pelas ruas da capital, convidando os moradores a descobrir a cidade livre dos automóveis. Meses antes do evento, a prefeitura já vinha realizando esforços de modo a informar aos moradores e turistas como funcionaria o dia, investindo em publicidade e informativos distribuídos pela cidade.

Painel publicitário informando sobre o Dia sem Carro na capital parisiense e placas orientando os motoristas nas áreas com restrição de acesso para automóveis (Fotos: Laura Azeredo)
No entanto, mesmo com informes prévios e preparativos para este dia, a iniciativa da prefeitura sofreu críticas por parte da população. Como ocorreu nas edições anteriores, alguns cidadãos foram contra a medida, considerando a iniciativa “muito radical”. Com a circulação de veículos liberada somente no anel periférico da cidade, muitos motoristas aderiram à “operação escargot”, uma ação organizada por associações da sociedade civil que defendem a circulação motorizada, propondo aos motoristas que andassem em velocidade muito reduzida, prejudicando a circulação de veículos nas vias periféricas.
Apesar das críticas, sem dúvida a cidade atingiu seu objetivo de ter um dia lúdico e pedagógico. Numa cidade dominada por carros, como tantas outras, foi possível ter um domingo totalmente fora do comum, com ruas tranquilas para caminhar e pedalar, com pessoas que não se deixaram intimidar pela chuva que insistia em cair. Ao observar ruas ocupadas por pedestres e ciclistas, foi possível vislumbrar uma cidade mais agradável, silenciosa e calma, sem o trânsito e a correria cotidiana característica da capital francesa. Ao ver a Champs-Élysées, uma das avenidas mais famosas do mundo, exclusiva para o transporte ativo, foi possível, acima de tudo, ter esperança. Neste dia, Paris provou que caminha, cada vez mais, na direção para se tornar uma cidade para pessoas.

Em mais um Dia sem Carro em Paris, a prioridade foi dos pedestres (Foto: Laura Azeredo)
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