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O plano de Nova York para salvar o metrô pode ser um laboratório para inovar no financiamento do transporte coletivo

O metrô de Nova York (Foto: Adrian Scottow/Flickr)

Este post foi escrito por  e publicado originalmente no TheCityFix

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Pela primeira vez em duas décadas o número de passageiros do transporte coletivo em Nova York está em uma tendência de queda – e deveríamos ter previsto que isso aconteceria.

Por muito tempo pioneiro no investimento em transporte de massa, o metrô de Nova York começa ar registrar atrasos, numerosas falhas e uma queda na qualidade do serviço. Apesar de taxa relativamente alta de retorno da tarifa (73%), a Autoridade Metropolitana de Transporte luta para reunir recursos e manter o sistema funcionando para os 5,7 milhões de usuários diários. Até agora, porém, o aumento na tarifa e os cortes na frequência dos trens provaram ser tão bem-sucedidos quanto Band-Aids cobrindo a fenda de uma barragem.

O financiamento de sistemas de transporte coletivo nos Estados Unidos tem patinado há décadas, uma vez que dependem principalmente de subsídios governamentais, e estes, por sua vez, recebem apenas uma pequena parcela dos fundos da Highway Trust Fund. E essa quantidade continua diminuindo na medida que o imposto federal sobre a gasolina permanece sem ajuste pela inflação desde 1993.

Para resolver os problemas que estão emergindo agora em Nova York, o prefeito de Bill De Blasio propôs um plano lógico, porém audacioso para um ano eleitoral: aumentar os impostos para o 1% mais rico da população da cidade (pessoas que ganham mais de US$ 500 mil por ano). O aumento significaria que sua taxa de imposto de renda passaria de 3,88% para 4,41%, garantindo a arrecadação de cerca de US$ 800 milhões por ano para investir na qualificação do metrô. Além disso, uma parcela dos fundos seria destinada a ajudar usuários abaixo da linha da pobreza (quase 800 mil pessoas) com a cobrança de meia tarifa.

A iniciativa é lógica sob a perspectiva econômica, porque distribui igualmente a carga tributária, mas também é uma das primeiras vezes que um político no cargo propõe um “Imposto dos Milionários” para investir em uma rede de transporte tradicional e predominantemente utilizada por pessoas de baixa e média renda. A estratégia do prefeito pode ser ainda classificada como um esquema vertical de equidade, no qual aqueles que têm a possibilidade de pagar mais devem pagar mais.

Enquanto cidades como Nova York e outras pelo mundo continuam a combater a crescente crise urbana de deterioração da infraestrutura de transporte e o aumento da desigualdade, estratégias como a proposta pelo prefeito De Blasio podem ser um sinal de como os futuros serviços públicos serão financiados – especialmente com a classe média encolhendo e um governo federal que não está disposto a intervir.

Taxar os mais ricos para qualificar o transporte coletivo tem sido uma medida eficaz em diversas partes do mundo. Em Nottingham, lar do lendário Robin Hood, que roubou dos ricos para dar aos pobres, as novas taxas de estacionamento ajudaram a pagar duas novas linhas de trens de superfície e outras melhorias em ônibus e trilhos em apenas quatro anos. Em Seattle, uma nova lei aumenta o imposto sobre o rendimento da parcela mais rica da população para financiar programas de habitação social, transporte coletivo e outras necessidades da cidade. Quando questionado a respeito, o prefeito definiu a medida como uma “luta pela estabilidade econômica, equidade e justiça”.

Ainda assim, uma medida similar em Nova York seria significativa, dados o tamanho, a riqueza e a importância global da cidade. À medida que a proposta de De Blasio avança, várias questões devem ser consideradas: esse modelo é sustentável? Pode ser adotado em outro lugar? Arrecadará fundos suficientes para investir na Autoridade de Trânsito da cidade e reverter a queda no número de passageiros?

Enquanto isso, todos os olhos estão em Nova York. Como diria Sinatra, “start spreading the news” (em português, “comece a espalhar as novidades”).

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