
A Cidade do Cabo, África do Sul, é um exemplo de área urbana que vem se beneficiando dos investimentos em energia renovável (Foto: Kyle Witting/Flickr)
Este post foi escrito por Michael Westphal e publicado originalmente no WRI Insights.
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Ouvimos com frequência histórias de experiências bem-sucedidas com o uso de energia renovável em cidades de países desenvolvidos – como Vancouver, que se comprometeu a ter 100% de sua matriz energética composta por fontes renováveis até 2050, ou San Diego, que almeja ter toda a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis até 2035. Existem diversos projetos e iniciativas com foco em energia renovável nos países desenvolvidos, mas as cidades do sul global também estão preparadas para alavancar suas fontes renováveis, como solar e eólica.
O que mudou?
O potencial das fontes de energia renovável espalhadas por uma cidade já é bem conhecido. A Agência Internacional de Energia estima, por exemplo, que telhados solares podem atender até 30% da demanda global por energia nas cidades em 2050 – e boa parte do sul global é rico em radiação solar. Mas existem três tendências que fazem o cenário atual particularmente propício ao avanço da energia renovável nos países em desenvolvimento.
1. Queda nos custos
O custo médio da energia renovável caiu consideravelmente nos últimos anos. Entre 2009 e 2014, o preço de módulos fotovoltaicos sofreu uma redução de 75%. No mesmo período, os custos de turbinas eólicas caíram 33%. Em paralelo, o custo de painéis solares residenciais também tem caído: em 2015, já competia com a geração de gás natural na Índia e quase obteve resultados semelhantes na China. O armazenamento das baterias também está ficando mais barato, o que ajudará a tornar as fontes renováveis mais acessíveis. Entre 2008 e 2014, o custo das baterias diminuiu em média 20% a cada ano.
2. Vontade política
Muitas cidades no sul global assumiram compromissos robustos de combate às mudanças climáticas. Centenas de municípios em todo o mundo assinam o Compacto de Prefeitos, um compromisso global para a redução das emissões de gases de efeito estufa em áreas urbanas. Palawan, nas Filipinas, e o Distrito de Kasese, em Uganda, são exemplos de cidades que se comprometeram em ter uma matriz energética baseada 100% em fontes renováveis.
Políticas regulatórias, como tarifas de aquisição (contratos de longo prazo com geradoras de energia renovável, a um preço fixo) e medição líquida (do inglês net metering, um mecanismo que permite que tanto pessoas quanto empresas instalem seus próprios sistemas de geração de energia e, ao final do mês, paguem para a distribuidora apenas a diferença entre a energia que foi gerada e a energia que for consumida da rede de distribuição), já se espalharam para além da Europa e da América do Norte para cidades em países em desenvolvimento.
Fomentar o uso de energia renovável ajuda as cidades a progredirem em suas metas climáticas e a se tornarem mais responsáveis pelo fornecimento de eletricidade. Isso contribui diretamente para dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: “Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos” (ODS 7) e “Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” (ODS 11).
3. Modelos de negócios e mecanismos de financiamento inovadores
Alguns ainda estão em estágio inicial, mas a verdade é que há um leque de novos instrumentos de financiamento e modelos de negócios para energia renovável. Em programas no estilo pay-as-you-go (um serviço em que a pessoa paga na medida em que utiliza), por exemplo, empresas alugam sistemas caseiros de energia solar que os clientes pagam mensalmente pelos smartphones. Esse modelo espalhou-se rapidamente em algumas regiões da África Subsaariana: em menos de um ano, o número de residentes utilizando esses sistemas chegou a cerca de 500 mil em 2015.
Mecanismos de medição líquida decretados na Cidade do Cabo (África do Sul), assim como em muitos estados da Índia, permitiram que as famílias se tornassem não apenas consumidoras, mas produtoras de eletricidade. Elas passaram a gerar tanta energia que não apenas suprem suas necessidades como podem vender o excedente de volta. Em Déli, há um modelo de aluguel de telhados no qual os proprietários oferecem a área de seus telhados para produtoras de energia solar. Outra opção que está ganhando força nas áreas urbanas do sul global é a geração de energia solar compartilhada, que permite a várias pessoas – muitas das quais podem não ter condições financeiras – a economizarem recursos para adquirir sistemas fotovoltaicos.

Painéis solares são um elemento central para alavancar a energia renovável nas cidades (Foto: UNPD India/Flickr)
A revolução renovável
É claro que, para que as energias renováveis sigam essa curva de crescimento, é preciso contar com condições favoráveis: um ambiente propício, oferta de subsídios para mobilizar o setor provado, normas e regulações fortes, instituições robustas e bem coordenadas e o engajamento da população. Na medida em que a revolução da energia renovável ganha força nas cidades do sul global, é fundamental lembrar que não estamos falando apenas de benefícios ambientais. Conforme salientaremos em um dos próximos volumes do World Resources Report, “Rumo a uma cidade mais igualitária”, ampliar o acesso a energia limpa também aumenta a qualidade de vida das pessoas e traz benefícios econômicos para a cidade. Como Shakespeare escreveu em The Tragedy of Coriolanus, “o que é a cidade senão as pessoas”.
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