
A cidade é nossa: precisamos compartilhar espaços e deveres para fazer de nossas cidades lugares mais humanos (Foto: Otávio Almeida)
Cidades jamais estão prontas. A linha de chegada é algo a se perseguir, mas aonde jamais se chegará. Porque cidades são vivas: têm alma, envelhecem ou se renovam, murcham ou pulsam com o frescor de novas energias. E mudam constantemente. Cada novo ano, nova década, carrega em si os efeitos do tempo. As pessoas mudam, a mobilidade muda, surgem novas tecnologias, outras se mostram obsoletas, as necessidades urbanas cotidianas já não são as mesmas. Em meio a um fluxo tão intenso, as cidades se reajustam e readéquam. Mas nunca sozinhas: mudam conforme mudamos.
Os desafios que os centros urbanos têm pela frente são muitos, mas são da mesma magnitude que o potencial para superá-los. Adotar um modelo de desenvolvimento que priorize as pessoas e a mobilidade sustentável, promover uma distribuição equilibrada do espaço das vias e envolver as pessoas nos processos de mudança e tomadas de decisão são ações que podem mudar a realidade e melhorar a vida das pessoas.
A cidade ideal é uma construção coletiva: é preciso compartilhar espaços, desejos, deveres e ações para fazer de nossas cidades lugares mais humanos.
Há seis anos, o TheCityFix Brasil dava seus primeiros passos. Nesse tempo, vimos a mobilidade urbana ganhar um papel central nas discussões políticas e na sociedade, acompanhamos cidades que começaram a mudar seu modelo de desenvolvimento e priorizar as pessoas. A cada ano, crescemos e nos fortalecemos. Nossos conteúdos ganharam em profundidade, relevância e precisão. Hoje, somos um blog especializado nos assuntos que movem nossas cidades: mobilidade urbana sustentável, desenvolvimento urbano, segurança viária, resiliência climática e governança urbana. No aniversário que celebra o sexto ano da nossa história, propomos seis caminhos de transformação para as cidades. Seis escolhas para despertar a revolução urbana necessária rumo ao desenvolvimento sustentável.
1. Transporte Ativo
A possibilidade de ir a pé ou de bicicleta de um lugar a outro diz muito sobre as qualidades de uma cidade: conectividade, acessibilidade, segurança, prioridade aos pedestres. Uma cidade que prioriza a mobilidade ativa é uma cidade para pessoas.
Os meios de transporte ativo permitem que as pessoas se desloquem de forma mais eficiente, sem gerar emissões e ocupando menos espaço. A mobilidade ativa – 30% dos deslocamentos nas cidades brasileiras – contribui para a saúde e torna as cidades mais humanas e equitativas, uma vez que as pessoas deixam de depender de um carro para todos os seus deslocamentos diários. Investir em infraestrutura para pedestres e ciclistas é investir na qualidade de vida das pessoas, garantindo-lhes o acesso aos bens e serviços necessários no dia a dia, como trabalho, saúde, educação e lazer.

Uma cidade que prioriza a mobilidade ativa é uma cidade para pessoas (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
2. Transporte Coletivo
Quando saem de casa (ou de qualquer lugar), o desejo das pessoas é chegar ao destino de forma segura, confortável e eficiente. A escolha pelo meio de transporte é uma consequência natural dessa vontade. O investimento precisa crescer 8 vezes para o Brasil tenha um transporte de qualidade, mas são consideráveis os benefícios que podem resultar dessa escolha. Um sistema de transporte de qualidade, capaz de atender às necessidades das pessoas e integrado a uma rede multimodal, melhora a mobilidade urbana e a qualidade de vida das pessoas.
Mais do que deslocamentos: o transporte coletivo é um instrumento de inclusão. Para quem mora longe das áreas centrais das cidades, contar com um sistema de transporte coletivo eficiente e acessível pode ser a diferença entre ter ou não acesso às oportunidades urbanas: educação, trabalho, lazer, saúde. O protagonismo do transporte coletivo é um dos pilares para a transformação de que nossas cidades precisam: a mudança de um modelo de desenvolvimento voltado ao automóvel para um com foco na sustentabilidade e no bem-estar das pessoas.

Transporte coletivo é um instrumento de inclusão (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
3. Segurança Viária
Acidentes de trânsito tiram a vida de 1,25 milhão de pessoas no mundo a cada ano, e as altas velocidades são os principais determinantes para a severidade ou fatalidade dos acidentes. No entanto, mudanças relativamente simples e de baixo custo no desenho urbano podem tornar as ruas mais seguras para todos os usuários – pedestres, ciclistas, usuários de transporte coletivo, motociclistas e motoristas.
Cada metro a menos na distância de travessia dos pedestres, por exemplo, reduz em 6% a chance de atropelamentos. Calçadas mais amplas, ilhas de refúgio, vias compartilhadas, baixos limites de velocidade onde a circulação de pedestres e ciclistas é intensa e sinalização específica para esses usuários são exemplos de medidas que garantem a segurança viária nas cidades. Mudanças como essas salvam vidas: é a opção pela vida das pessoas em detrimento da velocidade dos carros.
4. DOTS
A sigla talvez ainda não seja familiar, mas a ideia por trás do conceito de DOTS – Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável reflete uma necessidade urgente: construir cidades mais conectadas, compactas e coordenadas.
O DOTS é uma estratégia de planejamento que busca orientar o desenvolvimento da cidade a partir da integração entre o planejamento de transportes e do uso do solo. Na prática, ao projetar a cidade seguindo as diretrizes do DOTS, é possível distribuir o adensamento de forma mais equilibrada, com mais pessoas morando no entorno de estações e corredores de transporte coletivo.
Ainda, o DOTS prevê a diversidade de usos, oferecendo às pessoas a acesso a diferentes serviços, oportunidades de emprego, lazer, habitação e espaços públicos, todos a uma distância caminhável.

O DOTS é uma estratégia de planejamento para criar cidades mais compactas, coordenadas e conectadas (Foto: Luísa Zottis)
5. Participação Social
Os projetos que envolvem as cidades devem ter, como principal objetivo, melhorar a infraestrutura do local em que as pessoas vivem. E a melhor forma de entender se as escolhas feitas apontam para a direção correta é dar voz a quem sentirá essas mudanças.
A participação social é uma forma de incluir os cidadãos no acompanhamento, na proposição e no controle das decisões de uma cidade. Ouvir as pessoas aumenta a efetividade dos projetos e políticas desenvolvidos pelos governos, pois promove a transparência e faz com que a sociedade se sinta parte das escolhas que interferem diretamente no seu dia a dia. O diálogo entre a população e o poder público pode levar a transformações positivas na realidade. Integrando saberes de ambos os lados – tanto preceitos técnicos quanto os conhecimentos da comunidade local – é possível construir, de forma coletiva, espaços urbanos mais sustentáveis e saudáveis para seus moradores.
6. Clima
A atividade humana no planeta tem gerado efeitos potencialmente catastróficos. Secas, cheias, incêndios e tempestades cada vez mais intensos e frequentes colocam em risco a vida das pessoas. A meta estabelecida no Acordo de Paris é evitar que a temperatura média global aumente 1,5°C até o fim do século em relação aos níveis pré-industriais. Governos e sociedade precisam trabalhar em conjunto para traçar uma rota de desenvolvimento justa, inclusiva e que respeite os limites do planeta.
As cidades, responsáveis por 70% das emissões globais de gases do efeito estufa, são as áreas mais vulneráveis aos efeitos das mudanças no clima. Mas é também nas cidades, onde vive a maior parte da população do planeta, que a ação climática deve ter mais força para que as mudanças sejam possíveis. Construir resiliência é um desafio, principalmente para as cidades em desenvolvimento. Aos poucos, porém, é possível ver que a luta contra as mudanças climáticas se torna uma realidade nos centros urbanos.