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Quatro passos para promover velocidades seguras que salvam vidas

 

O Rio de Janeiro também implementou zonas de baixa velocidade (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

O Rio de Janeiro também implementou zonas de baixa velocidade (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

 

Aproximadamente 3,4 mil pessoas morrem a cada dia de acidentes de trânsito pelo mundo. Na maioria dos Países de Baixa e Média Renda (LMIC, sigla em inglês), mais pessoas morrem em acidentes de trânsito anualmente do que por crimes violentos. Embora a localização e as circunstâncias das mortes de tráfego sejam diferentes, entre um terço e metade delas têm algo em comum: velocidade. As pessoas só podem aguentar o impacto de uma colisão até certo limite, e esse limite é determinado pela velocidade do veículo. Na cidade de Mumbai, 91% dos acidentes fatais são atribuídos ao excesso de velocidade. Nos Estados Unidos, mais de 9,2 mil acidentes fatais por ano acontecem por conta do excesso de velocidade.

Existem algumas ações-chave que as cidades podem tomar para reduzir ou mesmo ajudar a eliminar as mortes no trânsito e as lesões graves. Aqui estão quatro passos básicos:

 

  1. Estabelecer um limite seguro de velocidade

Criar cidades com velocidades seguras começa por estabelecer limites de velocidade seguros. A surpreendente realidade é que apenas 47 países têm atualmente leis adequadas sobre a velocidade urbana, o que representa 13% da população global.

O limite de velocidade deve ser estabelecido e aplicado com base no tipo de estrada, na qualidade da infraestrutura viária e no nível de segurança da frota de veículos locais. Isso pode acontecer no nível nacional, estadual ou local, ou nos três. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda limites de velocidade de 30 km/h em ruas urbanas com altos volumes de pedestres, ciclistas ou motociclistas e até 50 km/h em vias arteriais urbanas com menos pedestres. Aparentemente, pequenas diferenças de velocidade realmente importam. Há uma chance de morte de 10% para pedestres atingidos por um veículo a 30 km/h, que dobra para 20% a 35 km/h. A 50 km/h, a probabilidade de morte é mais de 80%. No primeiro mês de redução de limites de velocidade em duas grandes artérias em São Paulo, em 2015, os acidentes fatais caíram 29% em relação ao ano anterior.

O risco aos pedestres aumenta conforme aumenta a velocidade dos veículos (fonte: Equipe de segurança viária do WRI)

O risco aos pedestres aumenta conforme aumenta a velocidade dos veículos (fonte: Equipe de segurança viária do WRI)

  1. Divulgar e aplicar os limites de velocidade

Em muitos lugares, mesmo que existam limites de velocidade, eles podem não ser aplicados pelas autoridades ou são desconhecidos e desrespeitados pelos motoristas. Tecnologia, como câmeras de velocidade, por exemplo, pode ajudar. Em Washington (EUA), quatro a seis meses após a implantação de câmeras, houve uma redução de 60% a 80% no número de violações dos limites de velocidade. Durante o mesmo período, a cidade experimentou uma redução de 70% nas mortes no trânsito.

Quaisquer que sejam os meios de fiscalização, as cidades devem adotar uma tolerância baixa para o excesso de velocidade. Em muitas cidades, motoristas apressados só são multados quando ultrapassam em 10 km/h ou mesmo 16 km/h o limite de velocidade. Mas um aumento de apenas 10 km/h pode ser a diferença entre a vida e a morte.

 

  1. Ruas desenhadas para seus limites de velocidade

Os condutores escolhem a velocidade de acordo com as características da estrada, por isso o desenho das ruas é extremamente importante. Faixas estreitas comprovadamente reduzem velocidades, além de proporcionar uma condução mais atenta. Estreitamentos parciais de ruas, como soluções de desenhos urbano como chicanas e afunilamentos, ajudam a abrandar a velocidade dos veículos no meio das quadras, entre os cruzamentos. Também reduzem a distância que um pedestre tem que viajar para atravessar uma rua. Chicanas podem reduzir acidentes com lesões em 54%, enquanto afunilamentos ajudam a reduzir as velocidades em até 14%. Lombadas e almofadas atenuadoras de velocidade podem reduzir acidentes com lesões em 50%. Interseções e travessias elevadas também exigem que os carros reduzam a velocidade e ajudam a melhorar a consciência do condutor para com os pedestres. Evidências de cidades latino-americanas mostram que as travessias elevadas resultam em uma redução de 10% na velocidade entre os cruzamentos. Detalhes sobre essas e outras medidas baseadas em evidências podem ser encontrados no relatório O Desenho de Cidades Seguras, do WRI.

O impacto de desenhos seguros (fonte: equipe de segurança viária do WRI)

O impacto de desenhos seguros (fonte: equipe de segurança viária do WRI)

  1. Obter o apoio dos cidadãos

A maioria das pessoas não está ciente de como a velocidade afeta sua segurança e bem-estar, ou que essas questões podem ser enfrentadas e melhoradas. As campanhas de mídia impressa, TV e online ajudam a criar consciência. No entanto, o meio mais eficaz de chamar a atenção e mudar a percepção pública requer engajamento direto, imaginação e uma atuação local.

Em Nova York, a campanha “É por isso que é 30” (foto abaixo) exibia propagandas tirando sarro da tendência dos nova-iorquinos de “saber tudo”, enquanto os sinais ativados pelo excesso de velocidade exibiam um esqueleto digital aos motoristas. Como em um número crescente de cidades, Nova York também teve grande sucesso com o urbanismo tático – fazendo mudanças temporárias em interseções, ruas ou bairros para permitir que os cidadãos experimentassem os benefícios de um melhor projeto de rua e de velocidades mais baixas. Em muitos casos, tais intervenções temporárias acabaram se tornando tão populares que foram feitas de forma permanentes, como o icônico redesign da Broadway. Essas medidas são tão eficazes que a OMS está incentivando Dias de Velocidade Reduzida nesta 4ª Semana Mundial das Nações Unidas sobre Segurança no Trânsito.

 

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A campanha “É por isso que é 30”, em Nova York, foi lançada em 2010 para conscientizar os moradores sobre o limite de velocidade e os riscos de ultrapassá-lo. O limite de velocidade de 30 milhas/h (48 km/h) desde então foi reduzido para 25 milhas/h (40 km/h) para ainda maior segurança. (Foto: Departamento de Transporte de Nova York)

 À medida que as pessoas experimentam os benefícios das velocidades mais baixas, elas começam a exigi-las, como foi visto em Londres. A partir da década de 2000, a cidade introduziu pequenas zonas de 20 milhas/h (32 km/h) para melhorar a segurança em alguns bairros. Essa intervenção reduziu as mortes em 23% nessas zonas e em 3% nas áreas adjacentes. Os benefícios foram tão bem recebidos que, em 2016, 9 dos 13 bairros de Londres tinham sido adaptados para limites de 20 milhas/h (32 km/h).

O aumento da consciência dos benefícios das velocidades mais seguras faz crescer a demanda para que tomadores de decisão projetem ruas mais seguras e agradáveis.

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