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Em três anos, dobra o número de ciclistas na Via Calma de Curitiba
Holandeses andam de bicicleta na Via Calma da 7 de Setembro. - Na imagem, Maya Van der Berg. Curitiba, 18/09/2015 - Foto: Cesar Brustolin/SMCS

Foto: Cesar Brustolin/SMCS

Observar nossas ruas atualmente é perceber o assustador número de carros que nelas circulam. Mais: não importa quantas pistas sejam construídas, o espaço não será suficiente por muito tempo. A não ser que paremos de usar os automóveis de forma irracional e as vias com egoísmo. A resposta para menos trânsito é menos carros, mais transporte coletivo e mais bicicletas. Para isso, os automóveis terão de aprender a compartilhar o espaço viário com as opções de transporte sustentável. A cidade de Curitiba, por exemplo, aposta nessa divisão mais equilibrada desde 2014 e já colhe resultados expressivos, como se verá mais adiante.

Países imersos na cultura carrocêntrica ainda enxergam pedestres e ciclistas como “obstáculos” para a circulação dos automóveis e consideram o transporte ativo menos importante. Nem sempre foi assim. Depois do advento do uso motor, as ruas que eram partilhadas em harmonia transformaram-se em espaços segregados: maiores áreas para os veículos e os pedestres empurrados às calçadas, muitas vezes estreitas demais para o fluxo. Os ciclistas foram os mais prejudicados. Com os limites de velocidade cada vez mais altos nas vias, a inexistência de ciclovias e a impossibilidade de pedalar entre pessoas, as bicicletas ficaram sem lugar.

Hoje, felizmente, o futuro parece promissor para os adeptos das magrelas. Lideranças urbanas passam a perceber que dar liberdade para o uso irrestrito do carro é prejudicial para a população e para a economia. As cidades que começarem a se redesenhar para pessoas, e não para os carros, podem ser  as próximas Amsterdã, Melbourne ou Copenhague.

O exemplo paranaense

Curitiba começou, em 2014, a investir nas ruas compartilhadas ao implantar a primeira Via Calma da cidade. Essa intervenção significa ruas ou avenidas com limites de velocidade mais baixos, de uso compartilhado por carros, motos e bicicletas e onde pedestres têm prioridade nas travessias.

Na Avenida Sete de Setembro, que recebeu a primeira Via Calma, o limite de velocidade foi estabelecido em 30 km/h e os ciclistas passaram a transitar pelo lado direito da via (nos dois sentidos), sobre uma área demarcada em linha tracejada. Os ônibus trafegam em faixa exclusiva, no centro (canaleta), com velocidade de no máximo 50 km/h. Nos cruzamentos da Via Calma, estão localizadas as “bicicaixas”, áreas especiais e exclusivas de parada para bicicletas nos semáforos, demarcadas em vermelho, entre a faixa de pedestres e a área de veículos motorizados.

(Foto: Luiz Costa/SMCS)

Bicicaixa em um cruzamento da Via Calma (Foto: Luiz Costa/SMCS)

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o número de ciclistas que utiliza a via quase dobrou desde o estabelecimento da Via Calma. No comparativo entre 2013, ano anterior à implantação da Via Calma, e 2016, o aumento do número de ciclistas foi de 132,19%. Para ver em números essa evolução, as contagens de bicicletas em um único dia, no horário de pico do final da tarde, registraram:

  • 519 bicicletas em 2008;
  • 528 em 2013;
  • 812 em 2014;
  • 1.027 em 2015;
  • e 1.226 bicicletas em 2016.

Em junho deste ano, foi entregue a segunda Via Calma da capital paranaense, nas avenidas João Gualberto e Paraná, com 14 quilômetros no total e as mesmas características da primeira. “Não se mudam hábitos da noite para o dia, e cada ação como a implantação de uma nova ciclovia, ciclofaixa ou ciclorrota é uma vitória. Não queremos tratar o carro como inimigo, mas cada vez mais o espaço público da cidade deve ser utilizado para transportar as pessoas. Este é um processo permanente de educação e conscientização”, declarou o prefeito Gustavo Fruet, na ocasião. Desde 2013, Curitiba já implementou mais de 120 quilômetros de ciclovias. Somados aos 127 quilômetros já existentes, a cidade oferece 247 quilômetros de estrutura cicloviária.

Uma alternativa que necessita de planejamento especial

Vias compartilhadas demandam atenção especial através de tratamentos como moderação de tráfego, redução e redirecionamento do tráfego de veículos, sinalização vertical e horizontal e tratamento das travessias nas interseções para garantir segurança aos usuários. Segundo indica o guia O Desenho de Cidades Seguras, desenvolvido pelo WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis, essas vias devem ser instaladas em vias com baixo volume de tráfego e planejadas para velocidade veicular entre 20 km/h e 30 km/h, com máximo de 40 km/h. As vias compartilhadas “beneficiam os moradores e a comunidade local com um ambiente mais seguro, silencioso e agradável criado por vias compartilhadas com bicicletas”.

O termo “shared space” (espaço compartilhado) foi cunhado pelo planejador urbano Ben Hamilton-Baillie e pelo engenheiro de tráfego holandês Hans Monderman, que afirmou que o termo é definido como um “espaço público, onde os deslocamentos são sujeitos a protocolos sociais e regulamentos informais e não regras de trânsito”. Na teoria de Monderman, as ruas compartilhadas quebram o princípio da segregação nas vias e que, se todos ocuparem o mesmo espaço, todos irão agir com muito mais responsabilidade.

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