Com o foco na qualidade de vida das pessoas, em busca de mais segurança e saúde, as áreas de velocidade reduzida incluem uma série de intervenções viárias para que a mobilidade urbana aconteça de forma mais eficiente e integrada. No mundo, são 114 os países que adotaram a velocidade máxima de 50 km/h nas vias urbanas.
Pensando em cidades, São Paulo é um bom exemplo com suas Áreas 40, locais em que a velocidade máxima nas vias é de 40 km/h. As ações voltadas para a segurança viária na cidade refletiram em uma queda de 20,6% no número de mortes no trânsito no ano de 2015. A iniciativa começou em outubro de 2013 e já são 12 áreas na cidade. Entre elas, estão Lapa, Brás e Santana, que receberam propostas de requalificação a partir do Concurso São Paulo Áreas 40, promovido e organizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis em parceria com a Iniciativa Global em Segurança Viária da Bloomberg Philanthropies. O objetivo do Concurso era premiar as ideias mais inovadoras na construção de uma São Paulo segura, saudável e sustentável a partir de políticas de mobilidade nas quais os modos não motorizados e o transporte coletivo são priorizados.
Os vencedores foram divulgados no dia 17 de junho, em evento realizado na Oxigênio Aceleradora, em São Paulo.
Brás: predominância do fluxo de pedestres
O Lote 1 – Brás é uma região de grande foco comercial na cidade, com mais fluxo de pedestres do que de veículos. A equipe vencedora foi coordenada por Jung Yun Chi, com parceria de Eduardo Pimentel Pizarro e Marina Aldrighi. A escolha da área se deu tanto por questões profissionais quanto por afinidade pessoal. “Primeiro pela importância para a identidade da cidade. O Brás foi o local de acolhida dos imigrantes e é tão próximo do centro histórico, quase uma extensão. Hoje é uma área complexa, com uma atividade econômica vigorosa, alta circulação de pedestres, tem uma vocação conhecida e bem definida no comercio popular e atacadista. Eu, particularmente, tenho uma relação afetiva com o Brás. A família da minha mãe viveu lá. Ela nasceu lá”, contou Marina.
Entre as questões da equipe para pensar na proposta (imagens acima), estava: “qual o desenho de cidade que trará suporte e estímulo às áreas 40?”. Participar do Concurso foi, portanto, uma chance de experimentar o redesenho de um trecho urbano potencial e conflituoso. Para a coordenadora da equipe, “a mudança de hábito que gerou a redução de velocidade na cidade é perceptível e a velocidade com que ela vem sendo introduzida no cotidiano das pessoas chega a incomodar aqueles que ainda não veem real vantagem da mudança. A mudança é rápida, no entanto, a aceitação é algo que toma certo tempo para acontecer. Dentro desse cenário, pequenas propostas de redesenho urbano, pensadas na escala do ser humano, são importantes catalisadores na evolução em direção à cidade para pessoas, por sensibilizar e convencer as pessoas”.
“De nada adianta simplesmente reduzir a velocidade de circulação de veículos de uma área, sem a real intervenção no espaço físico da cidade. Não é um simples número que trará mudanças, mas um meio urbano projetado e construído a partir da escala humana. Portanto, o desafio de propor uma cidade em que coexistam diferentes modais, usos e identidades torna a iniciativa do concurso tão importante, podendo ainda ser extrapolada à discussão do futuro da cidade como um todo”, completa Pizarro.
Lapa: integração modal
Já o Lote 2-Lapa tem característica mais mista, com espaços residenciais e comerciais, e com grande fluxo para integração modal, uma vez que tem estações de ônibus e trem. A equipe vencedora foi coordenada por Luis Fernando Milan, e contou com Ana Paula Felippe, Tiago Brito da Silva, Sarah Cristina Nunes, Maira Brancam Sfeir, Vanda Maria Quecini, Deborah Sandes Almeida e Ana Claudia Maciel.
Todos são urbanistas e trabalham com mobilidade. Além disso, estão em grupos que discutem a realidade das cidades. Nesse sentido, os concursos são uma forma de também discutir essas questões a partir das propostas desenvolvidas. “É uma forma de questionar soluções que, às vezes, na teoria são muito objetivas, mas que não se cumprem na prática. Buscamos novas formas de fazer dar certo”, comentou o coordenador.
A escolha da área aconteceu porque três participantes da equipe frequentam a região. “Nós estamos lá e sabemos dos problemas. Então, essa foi uma oportunidade para pensar no que se vive no dia a dia e procurar soluções para nós mesmos”, disse Déborah Sandes de Almeida.
Sobre a redução de velocidade, Tiago Brito foi enfático: “nós, como urbanistas, acreditamos na redução de velocidade”. E Milan completou: “na prática, faltam iniciativas físicas que realmente incentivem isso. Falta sinalização para o pedestre, por exemplo, para que ele saiba que está em uma zona de velocidade reduzida. E é essa sensação que nossa proposta traz. Ali, o pedestre tem a preferência”.
A segunda melhor proposta foi coordenada por Rodrigo Tardivo Coury Câmara, realizada com Phelippe de Matos. “A principal motivação do trabalho foi justamente o tema relacionado ao pedestre e a criação de mecanismos que possam melhorar a cidade para as pessoas que andam a pé”, contou Câmara.
Para ele, são evidentes os resultados das soluções de redução de velocidade que a cidade de São Paulo tem optado. “As cidades precisam estar alinhadas com os desafios atuais. A limitação de velocidade do veículo particular de passeio, a substituição deste modelo pelo transporte público e a priorização do pedestre são uma demanda real que será cada vez mais intensa. As cidades que enfrentarem esse desafio de maneira sólida e criativa serão vanguardas em todo o mundo”, concluiu o arquiteto e urbanista. Confira a ideia submetida pela equipe:
Santana: uso misto
O Lote 3 – Santana é caracterizado por seu uso misto, com grande fluxo de pessoas jovens que frequentam cursos e aulas na região. A proposta vencedora (imagens abaixo) foi da equipe que teve como coordenador Renato de Camargo Montagner, composta por Julia Paraluppi Ferreira e Chiara Alves de Oliveira.